Plano era de ter 1 clube para cada 4 escolas

População elogia locais, mas gestão não consegue cumprir meta

PUBLICIDADE

Por Diego Zanchetta e Renato Machado
Atualização:

Lançado em maio de 2007 como "o mais ousado plano de reformas da história do esporte público na capital paulista", o clube-escola teve um terço da meta inicial cumprida pela gestão do prefeito Gilberto Kassab (DEM). Dos 300 endereços que estariam abertos até o fim de 2008 para atividades esportivas fora do horário das aulas, 96 foram inaugurados. Para aumentar a abrangência do projeto, o governo estuda parcerias com universidades para fazer as reformas de clubes ainda sucateados - são 250 CDMs (clubes desportivos municipais) e outros 250 CDCs (centros de desporto comunitários). A maior parte das unidades em funcionamento tem atividades elogiadas pela população, como constatou a reportagem do Estado em oito de dez locais visitados. Alguns clubes que constam na lista da Secretaria Municipal de Esportes como inaugurados, contudo, não saíram do papel ou apresentam realidades bem diferente das encontradas em unidades modelos, como as da Mooca, do Tiquatira e da Vila Manchester. O governo queria 1 clube para cada 4 escolas, mas a proporção atual é de 1 para cada 12. A reportagem verificou que dois clubes não funcionam como propõe o programa - além de atividades esportivas, como futebol, vôlei e tênis, a meta era ministrar ações de inclusão digital e cultural. O governo dizia que os locais seriam os "CEUs (Centro de Educação Unificados) horizontais". Somente em 2008 seriam investidos R$ 90 milhões. A proposta era também manter os clubes abertos na madrugada, o que não ocorreu em nenhuma unidade. Nos bairros onde o programa funciona, como na Mooca, a população só tem elogios. Mas, quase na mesma região, também na zona leste, não é o caso do Clube-Escola Waldemar Moreno, na Vila Formosa. A unidade foi construída como uma das sedes do programa, seguindo o modelo do projeto: edificações pintadas de branco, com faixas laranjas e pretas. No entanto, nenhuma atividade é oferecida para a comunidade. "A gente achou que iria mudar a situação quando começaram a construir, mas agora está tudo abandonado. Até picharam as paredes", reclama o aposentado Manoel Mansana, de 76 anos. Todos os dias, ele comparece ao local, onde também funciona o Grêmio Esportivo Americano. Como fica sempre aberto, o clube é usado por jovens que passam o dia jogando bola na quadra. Mas a falta de controle e manutenção já apresenta reflexos, com redes rasgadas, traves quebradas e mato alto. REALIDADES OPOSTAS Dois clubes funcionam com realidades bem diferentes na Avenida Satélite, em São Mateus, também na zona leste. A diferença já pode ser notada nas entradas de ambos, pois um tem placa indicativa do projeto, segurança privada e crianças uniformizadas. No outro, o Clube-Escola Cidade Satélite Santa Bárbara, o portão fica aberto - e, por isso, pessoas que trabalham na região param os carros no local - e uma faixa indica que ali são realizadas aulas de uma escolinha de futebol da Portuguesa, com mensalidade a R$ 70. O Santa Bárbara também não tem secretaria para que os usuários façam suas carteirinhas. Inocêncio Cairo Machado Cruz, presidente do clube, diz que o programa do governo municipal não existe no local. "Nós não somos clube-escola, existe um projeto da Prefeitura para virarmos um, mas ainda nada foi feito", disse. A única atividade oferecida gratuitamente é aula de handebol para crianças e adolescentes de 10 a 17 anos, oferecida por meio de parceria entre o clube e professores voluntários. Os demais clubes visitados apresentaram o padrão das unidades modelo, com grande oferta de atividades monitoradas por professores de educação física. Todos apresentaram movimento alto durante a tarde, principalmente de jovens. "Eu venho nos dias do vôlei, mas também nos outros, para usar a cama elástica e a piscina", contou a estudante Taís Oliveira, de 10 anos, no Clube-Escola da Vila Manchester.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.