PM contesta dados e afirma que recuperou 132 mil armas

Alegação é de que armamento da corporação é mais fácil de identificar e pode haver distorções nas estatísticas

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Por Marcelo Godoy
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A Polícia Militar reagiu ao rastreamento feito pelo Exército com números. Segundo ela, os 93 mil homens da corporação apreenderam 132.177 armas no Estado entre 2003 e 2006. No mesmo período, os integrantes da PM tiveram 2.452 armas furtadas, roubadas ou extraviadas. Assim, o Comando Geral informou que seria impossível terem saído da corporação 25% das armas usadas pelos criminosos em São Paulo. O correto, disse, é que seus homens respondem por apenas 1,9% das armas apreendidas com bandidos no Estado. De acordo com o comando, a razão para que o número encontrado pela Diretoria de Fiscalização do Exército esteja superestimado é o fato de as armas da PM serem mais fáceis para identificar. Além do número de série, elas têm o brasão da corporação. Além disso, todos os revólveres, pistolas, espingardas, submetralhadoras e fuzis de propriedade da PM, assim como as armas particulares de seus homens, são registrados pelo Centro de Suprimento e Material Bélico da corporação. Quando a arma de um policial desaparece ou quando ela é roubada ou furtada, a PM abre imediatamente uma sindicância para apurar o caso - nada impede que o crime seja investigado ainda por inquérito policial ou por inquérito policial-militar. É por isso que o comando da corporação informou considerar que "100% do armamento próprio e particular dos seus policiais militares é controlado". A facilidade em identificar as armas de policiais militares foi um dos fatos que, para o pesquisador Túlio Kahn, podem ter contribuído para distorcer o resultado do levantamento feito pelo Exército. Kahn, que trabalha na Secretaria da Segurança, é o autor de estudos sobre os efeitos do desarmamento na criminalidade nos quais ele traçou um perfil das armas apreendidas no Estado. "As principais armas apreendidas no Estado são os revólveres calibre 38 e 32 fabricadas no Brasil pela Taurus e pela Rossi", disse. Ele estudou 15 mil armas apreendidas no Estado entre janeiro e setembro de 2005 para chegar a essa conclusão. Segundo Kahn, fuzis, submetralhadoras e outras armas de grosso calibre são menos de 1% do encontrado com criminosos. CIVIL Na Polícia Civil, o controle do armamento é feito pela Divisão de Produtos Controlados do Departamento de Identificação e Registros Diversos (Dird). No levantamento feito pelo Exército, havia sido comprado pela organização ou por seus homens só 0,88% das armas com origem no poder público apreendidas com bandidos - a PM concentrou 88,3% dos casos. As características do trabalho do policial civil e do militar estariam por trás dessa diferença. Isso porque, em seu cotidiano, o policial militar fica mais exposto nas ruas à ação dos bandidos, que contam com o elemento surpresa, enquanto os civis ficam em delegacias e, quando vão atrás de criminosos, são eles que têm o fator surpresa. Até a aprovação do Estatuto do Desarmamento, em 2003, a Polícia Civil era a responsável pelo registro de armas e pela concessão de portes no Estado. Com a lei, ela passou a cuidar somente de seu arsenal e da concessão de registro aos policiais civis - o registro de armas e o porte passou a ser função exclusiva da Polícia Federal. "Hoje está mais difícil conseguir um porte de arma do que passar em primeiro lugar no vestibular de medicina na USP", afirmou o delegado Nazareth Kechichian, assistente da direção do Dird. Essa política de restrição ao porte não é coisa nova em São Paulo. Começou em 1995, durante o governo de Mário Covas, bem antes da aprovação do Estatuto. No começo dos anos 90, a polícia concedia 65 mil portes por ano - número que caiu para menos de 2 mil em 2003 e hoje é inferior a mil. Por fim, a redução dos portes se refletiu na queda das armas em circulação, que é comprovada pela diminuição das apreensões feitas pela polícia no Estado. No segundo trimestre de 2003, antes do Estatuto, a polícia recolheu 10.213 armas. No mesmo período deste ano, foram 6.214 (-39%).

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