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PM mata rapaz gago que não respondeu ao interrogatório

Por Agencia Estado
Atualização:

O estudante e ajudante-geral Ednilson da Silva, de 21 anos, foi morto, sábado a noite, com um tiro de submetralhadora na boca, disparado pelo policial militar Ivan Cesar Salvador, de 33 anos. O caso ocorreu no Bairro dos Freitas, zona norte de São José dos Campos, por volta das 22 horas. Amigos de Silva dizem que o rapaz era gago e surdo de um dos ouvidos e, por isso, não teria conseguido responder às perguntas do soldado, o que deixou o PM revoltado. O soldado alegou que o disparo foi acidental e a vítima tentou resistir à prisão. Ele foi autuado em flagrante por homicídio culposo e está recolhido no Presídio Romão Gomes. O caso está sendo investigado pela Delegacia Seccional de São José dos Campos e pela Polícia Militar. Tudo começou quando os irmãos Carlos Renan de Oliveira Caovila, de 18 anos, César Oliveira de Jesus, de 19, e outro irmão de 16, decidiram dar uma volta no carro do pai, sem autorização. O Santana preto despertou a atenção de policiais, que mandaram o veículo parar. Como não tem habilitação, Caovila preferiu fugir e passou a ser perseguido por vários carros de polícia. Pela placa do carro, os soldados descobriram o endereço dos irmãos e, segundo Caovila, invadiram a casa da família, na Estrada dos Freitas. Lá estavam os amigos Renato da Silva, de 18 anos, Tiago Moreira dos Santos, de mesma idade, e Ednilson Silva que foram obrigados a entrar no carro. Caovila e os irmãos também acabaram presos, depois de terem o carro cercado, nas proximidades de casa. Todos os seis trabalham e estudam e não têm passagem pela polícia. Os jovens foram levados até um trecho sem iluminação na Estrada dos Freitas, perto de um matagal, onde começou o interrogatório. "Eles diziam que já sabiam de tudo, que a gente tinha de confessar o assalto e dizer onde estavam as drogas e o dinheiro", relembra Caovila. "Eu falava que era um engano e só fugi porque não tinha carteira. Mesmo assim, eles bateram na gente e um deles chegou a colocar o revólver dentro da minha boca." Um soldado ainda teria lançado gás pimenta contra os jovens. Pouco depois disso, Silva seria assassinado. "Me mandaram abaixar a cabeça e começaram a apertar Ednilson. Mas ele estava nervoso e não conseguia responder", conta Caovila. De repente, ouvi o tiro e notei um clarão. Quando olhei, meu amigo estava caído, com sangue na boca, mas ainda vivo." Ele diz que a PM levou cerca de 30 minutos para socorrer Silva, que morreu a caminho do hospital. "Acho que ele engasgou com o sangue." O estudante foi enterrado nesta segunda-feira no Cemitério Santana. "Todo o bairro compareceu. Era muito humilde e querido."

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