PMs invadem posto da Polícia Civil na zona leste de SP

Militares ameaçaram advogado, ofenderam delegado, escrivão e investigadora; confusão começou com a remoção de um veículo que passaria por perícia

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Por Agencia Estado
Atualização:

Pelo menos 20 policiais militares invadiram, no sábado, o 54.º DP (Cidade Tiradentes), na zona leste de São Paulo, onde ameaçaram matar um advogado e ofenderam um delegado, um escrivão e uma investigadora. Os plantonistas tiveram de pedir apoio ao Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil. A população ficou assustada e saiu correndo da delegacia. Quem não correu foi colocado para fora pelos PMs. Um tenente, um sargento, um cabo e três soldados do 28º Batalhão devem responder a processo por abuso de autoridade e desacato. O desentendimento entre os policiais das duas corporações começou no sábado à tarde, após a detenção de dois rapazes e um adolescente acusados por receptação de veículos. Os PMs envolvidos na ocorrência fizeram contato com o 54º DP e perguntaram se os carros deveriam ser preservados no local onde foram encontrados, num condomínio em Cidade Tiradentes. O delegado Anderson Filik, de 28 anos, respondeu que sim. Ele explicou aos PMs que o Pointer e o Renault Clio encontrados deveriam passar por perícia, pois era preciso confrontar as impressões digitais dos três acusados com as que seriam colhidas nos carros. Segundo a Polícia Civil, o tenente Ueslei Portilho Mateus, de 26 anos, foi ao 54.º DP e perguntou ao delegado se seus subordinados poderiam ser liberados do local do crime. Filik reafirmou a necessidade da perícia e foi ao condomínio. Mas constatou que o Pointer não estava lá. Ele retornou à delegacia e pediu para a investigadora Antonia Auriluce de Almeida, de 42 anos, telefonar para o 28.º Batalhão e solicitar o comparecimento do tenente ao distrito. A essa altura, o Pointer já estava no pátio externo da delegacia. O tenente ficou furioso e avisou que não iria autorizar nenhum subordinado a levar o carro de volta ao condomínio. O delegado então comunicou o superior de Portilho, o major Mauro, e também avisou a Corregedoria da Polícia Militar. De acordo com a Polícia Civil, minutos depois, o tenente invadiu o 54.º DP acompanhado de outros 20 PMs em cinco viaturas. Filik ficou acuado pelos militares numa sala do plantão e temeu por sua integridade. A Polícia Civil apurou que o tenente ofendeu o delegado e disse: "seu m..., seu idiota, quem você pensa que é para ligar para o meu capitão? Aqui você não manda nada e vai fazer o que nós mandarmos". O tenente ainda acrescentou: "se a Polícia Civil tem 30 mil homens, a Militar tem 120 mil". O advogado José Arruda Egídio, de 45 anos tentou acalmar os policiais e quase foi agredido pelo cabo Ricardo Aparecido Franco, de 31 anos. Os policiais militares Luis Artur de Lima e Marcelo Lima Lira da Silva o empurraram e o mandaram "calar a boca". O PM Silva fez a seguinte ameaça ao advogado: "Vou subir o seu gás", expressão que na gíria quer dizer "vou te matar". Assim como o advogado, a investigadora Antonia e o escrivão Sylvio Vicente Volk Filho, de 36 anos, testemunharam os abusos dos PMs e foram impedidos de entrar na sala do delegado para ajudá-lo. Segundo o advogado, só não aconteceu uma tragédia porque Filik ficou calado. Enquanto Filik argumentava que estava "numa democracia e não na ditadura", os PMs colocavam as mãos sobre as armas e falavam em tom ameaçador. A população deixou o distrito às pressas e assustada. O advogado prometeu processar os militares. Os PMs devem responder a processo por abuso de autoridade, desacato, alteração de local especialmente protegido - já que tiraram o Pointer do condomínio - e vias de fato. Portilho alegou que não teve a intenção de desobedecer ou desacatar o delegado. O cabo Franco admitiu ter sido ríspido com o delegado e se desculpou. O soldado Severino Ribeiro da Silva, 42 anos, alegou que os PMs foram ao 54.º DP porque ouviram via rádio que o delegado iria prender o tenente. Durante a tarde de domingo, o clima ainda era tenso na delegacia, onde homens do GOE reforçavam o policiamento.

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