Polícia chama veterinário para periciar cães de acusado de matar Eliza

De acordo com especialista, ainda é possível encontrar unhas e cabelos nas fezes secas dos cães, que foram recolhidas pelos policiais

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Por Redação
Atualização:

BELO HORIZONTE - Na busca por vestígios dos restos mortais de Eliza Samudio, a Polícia Civil mineira requisitou os trabalhos de um veterinário. A intenção é tentar recolher material que possa comprovar se Eliza foi mesmo morta como o descrito em depoimentos - ela teria sido estrangulada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, esquartejada e seus restos mortais jogados para cães da raça rottweiler. Os cães foram apreendidos na casa do ex-policial, em Vespasiano (MG), onde a jovem teria sido morta.

 

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O veterinário Fernando Pinto Pinheiro compareceu nesta terça-feira, 13, pela manhã ao Departamento de Investigação (DI) a convite do delegado Edson Moreira e sugeriu um possível trabalho de perícia envolvendo os cães. De acordo com Pinheiro, ainda é possível encontrar unhas e cabelos nas fezes secas dos cães, que foram recolhidas pelos policiais. Segundo ele, como o crime teria ocorrido há mais de um mês, exames internos nos animais, como endoscopia, não apresentariam resultados. O veterinário também acredita que é possível utilizar o reagente Luminol na pelagem dos animais para detectar a presença de eventual sangue da vítima.

 

Pinheiro ressaltou que os cães da raça rottweiler são "extremamente vorazes, agressivos, perigosos e se não forem bem adestrados chegam a ser até incontroláveis". E que comem carne humana, principalmente se estiverem "esfomeados". "O cão é um carnívoro e jamais recusa uma carne, seja de qual animal for", disse.

 

A chefe da Delegacia de Homicídios de Contagem, Ana Maria Santos, observou que a intenção da polícia é identificar o exame mais adequado para a detecção de algum vestígio, tendo em vista o fato de o suposto assassinato, conforme depoimentos, ter ocorrido no dia 9 de junho. "Nós adotaremos, buscaremos a melhor técnica, a melhor forma de periciar esses cães, sobretudo tendo em conta o decurso de tempo."

 

Pelo menos dez rottweilers foram recolhidos da casa de Bola e levados para o Centro de Zoonoses. Na segunda-feira, em conversa com seu advogado, Zanone Oliveira Júnior, o ex-policial manifestou preocupação com o destino dos cachorros apreendidos em sua residência.

 

A polícia procura manter em sigilo o resultado de perícias em andamento, como em relação aos vestígios de sangue encontrados no Citröen de Bola. Questionada nesta terça sobre o assunto, a delegada não respondeu. O delegado Frederico Abelha considera que ainda não se esgotaram as possibilidades de localização dos restos mortais de Eliza no sítio que era alugado pelo ex-policial em Esmeraldas. "Acho que não, ali é muito grande."

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Testemunha

 

Durante reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas uma testemunha reiterou nesta terça-feira, 13, o envolvimento de Bola com uma organização de extermínio que atuaria dentro do extinto Grupo de Resposta Especiais (GRE) da Polícia Civil.

 

Usando um capuz para não ser identificada, a testemunha reafirmou a acusação de que Bola participou do desaparecimento de Paulo César Ferreira e Marildo Dias, que foram presos por integrantes do GRE em 2008. Os corpos dos jovens não foram localizados. As vítimas teriam sido mortas em um método de assassinato e ocultação de cadáver semelhante ao que foi descrito pelo menor J. em relação a suposta morte de Eliza. Um inquérito foi aberto no ano passado pela Corregedoria-Geral de Polícia Civil, mas as investigações pouco avançaram.

 

Embora estivesse excluído da corporação desde 1992, Bola participava dos treinamentos do GRE e chegou a ser condecorado pela equipe de elite - extinta após as denúncias. O corregedor-geral Geraldo Morais Júnior se defendeu das críticas de morosidade do inquérito afirmando que se trata de "uma investigação muito complexa". "Mas a Polícia Civil não desiste, não vai parar nunca de investigar."

 

O promotor Rodrigo Filgueiras Oliveira, designado para acompanhar a investigação, ressaltou que há três elos no inquérito com o caso Bruno: o ex-policial, o local e o modus operandi dos supostos crimes. De acordo com Filgueiras, contudo, a apuração em relação ao grupo de extermínio não pode ser usada como estratégia de defesa para desviar a atenção da investigação envolvendo goleiro e ex-capitão do Flamengo.

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