Polícia Civil do Rio será chefiada por mulher pela primeira vez

Delegada Marta Rocha assume no lugar de Allan Turnowski, que deixa cargo após operação da PF

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Por Marcia Vieira e Pedro Dantas
Atualização:

RIO - A delegada Marta Rocha foi anunciada na noite desta terça-feira, 15, como a primeira mulher chefe da Polícia Civil do Rio. Ela assume após Allan Turnowski deixar o cargo o fim da manhã, depois de uma reunião com o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame.

 

 

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A decisão de Turnowski ocorreu um dia depois das acusações dele contra o delegado titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas (Draco), Claudio Ferraz, colaborador da Operação Guilhotina, da Polícia Federal, que prendeu o ex-subchefe de Polícia Civil, Carlos Oliveira, homem de confiança de Turnowski.

 

Além de fechar a Draco na noite de domingo com policiais armados, o último ato dele como chefe de Polícia Civil foi defender em entrevistas a exoneração de Ferraz e apresentar documentos sem perícia como prova de uma suposta extorsão.

 

Hoje, Beltrame evitou a imprensa. Em nota, ele afirmou que a decisão foi de comum acordo "para preservar o funcionamento das instituições" e elogiou a gestão de Turnowski. Em seguida, ex-chefe de Polícia Civil também divulgou um comunicado e informou à imprensa que a decisão foi tomada após uma "conversa aberta e longa com o secretário". "Tenho a certeza que é a melhor decisão para o momento", escreveu. Nos bastidores, até aliados próximos consideraram desastrosa a decisão de Turnowski de fechar a Draco, um dos símbolos da Polícia Civil no combate às milícias.

 

Algumas horas após a coletiva de segunda-feira convocada pelo então Chefe de Polícia, o corregedor da Polícia Civil, Gilson Emiliano Soares, afirmou à Beltrame que não tinha elementos para levar as denúncias de Turnowski à frente. Apesar de a suposta existência de um dossiê contra Claudio Ferraz ser um boato conhecido na Secretaria de Segurança Pública, o ex-chefe de Polícia Civil não conseguiu explicar porque a denúncia em uma carta anônima foi entregue na portaria de seu prédio, na Barra da Tijuca, na zona oeste da cidade. Em seguida, a Procuradoria do Município de Rio das Ostras negou qualquer denúncia contra a Draco.

 

A cúpula da Segurança Pública considerou irresponsável a divulgação de documentos sem perícias nas assinaturas do delegado Ferraz e do inspetor Luiz Henrique Placidino. As entrevistas de Turnowski , ao vivo, no estúdio do jornal local da TV Globo e a entrevista coletiva na Corregedoria defendendo a exoneração de Feraz irritaram Beltrame.

 

Na manhã de hoje, o próprio Turnowski estava convencido que passou dos limites e após longa conversa com o secretário reconheceu que não havia mais como continuar na chefia. Além de não estar descartado o seu indiciamento no relatório final da Operação Guilhotina, ele dividiu a Polícia Civil ao contra-atacar Ferraz.

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No final da tarde de hoje, a hipótese de o titular da Draco assumir a chefia de Polícia Civil voltou a ser cogitada. Antes, a ideia foi afastada pelo temor de um racha com o grupo de Turnowski, que é formado por policiais jovens e delegados recém-promovidos a 1ª classe. "Não há animosidade. Estamos esperando apenas a indicação do novo chefe e nada além disso", disse um dos integrantes da cúpula da Polícia Civil ligado a o ex-chefe de Polícia Civil.

 

Antes da crise, Ferraz estava contado para assumir a nova subsecretaria de Contra-Inteligência da Secretaria de Segurança Pública, cuja principal função é investigar as atividades criminosas dos maus policiais. A Draco também terá esta função. A delegacia especializada não será mais subordinada à Polícia Civil e passará ao organograma da Secretaria de Segurança Pública do Rio.

 

Primeira mulher. Martha Rocha é delegada há 21 anos. Com nome de miss, ela entrou para a polícia por acaso, atraída pelo salário. Era professora primária, quando, em 1983, foi aprovada no concurso para escrivã de polícia. Seis anos depois, já formada em Direito pela UFRJ, virou uma das primeiras mulheres delegadas da cidade. Martha é solteira, sem filhos. Atualmente ocupava a chefia da Divisão de Polícia de Atendimento à Mulher (DPAM).

 

Martha foi Subchefe da Polícia Civil, em 1999, e corregedora da Polícia. Ela tentou, sem sucesso, entrar para a política. Foi candidata a deputada estadual em 2006 e vice na chapa de Jorge Bittar (PT)na eleição para prefeitura do Rio em 2004.

 

Durante o famoso episódio do sequestro do ônibus 174, no Rio, em 2000, Martha era delegada de 15ª DP, na Gávea, responsável pelo inquérito que apurava a morte de Geisa Gonçalves. Por ter indiciado o então comandante do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), coronel José Penteado, sob a acusação de homicídio culposo, foi transferida para a delegacia da Barra.

 

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