Polícia descobre paiol dos traficantes em operação no Rio

Além da apreensão, operação na favela terminou com quatro mortos e cinco inocentes feridos por balas perdidas no confronto entre policiais e traficantes

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Por Agencia Estado
Atualização:

Um dias após a morte de uma menina de 13 anos, o Rio contabilizou nesta terça-feira, 6, mais cinco mortos e quatro inocentes feridos por balas perdidas da guerra entre policiais e traficantes. Desta vez, os confrontos foram no Complexo do Alemão, na zona norte da cidade, onde foi apreendido um paiol do tráfico de drogas com cerca de 30 mil balas de fuzil. A Secretaria de Segurança Pública informou que o número é maior do que o disponível no estoque da Polícia Militar do Rio. "Estouramos um paiol principal e três secundários. Para conseguir repor isto, eles (os traficantes) terão muitas dificuldades, porque nossa ação aqui não terminou", disse o delegado Carlos Oliveira, da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (DRAE). Junto com a quantidade recorde de munição apreendida, cerca de 30 mil balas de fuzil, foram apreendidos dois fuzis Browining calibre 762, que podem ser utilizados como arma anti-aérea quatro fuzis e uma pistola. Um informante encapuzado levou os policiais até quatro casas onde o material estava. Além dos pedestres, o policial civil José Carlos Pereira Mandaine e pelo menos quatro bandidos, segundo a Secretaria de Segurança Pública, foram mortos. Quatro policiais e um homem suspeito de ser traficante foram feridos. O início da operação, às 9 horas, suspendeu as atividades nas escolas e na Vila Olímpica nos arredores das 12 favelas que formam o Complexo do Alemão. Os 350 policiais civis de sete delegacias especializadas e 50 homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar foram recebidos a tiros. Um policial do Bope contou que o carro blindado onde estava, conhecido como "Caveirão" foi alvo de quatro granadas. "Encontramos com um bonde ( comboio de traficantes em carros) logo na entrada. Isso é um inferno", disse. Bala perdida O aposentado Cléber da Silva Martins, de 56 anos, foi a primeira vítima de bala perdida. Atingido na perna esquerda quando estava em sua moto na Estrada do Canitar, na entrada da favela da Grota, epicentro do confronto e uma das mais perigosas do Complexo. "Ele foi baleado e não conseguiu segurar a moto. Foi socorrido pelos policiais e agora está bem, mas poderia ter tornado mais um entre tantas vítimas", disse o amigo do motociclilsta, Anderson Lacerda. Em poucos minutos, o cenário no interior do Complexo do Alemão, cercado por esqueletos de concreto das fábricas que abandonaram o local por causa da violência, era de guerra. Água, luz e telefone foram cortados. Marcas de tiros em várias casas destelhadas por rajadas de metralhadoras dos dois helicópteros da polícia que faziam vôos rasantes. Enquanto ajudava as crianças a sair da escola, a professora Matilde Ferreira, de40 anos, se tornou a segunda vítima ferida com um tiro na coxa. O tiroteio era tão intenso que um policial ferido no interior da favela Nova Brasília teve que ser retirado por um helicóptero. Por volta das 11 horas, o gari Eduardo Miranda, de 36 anos, foi ferido de raspão na perna esquerda no galpão da Comlurb do Complexo do Alemão e socorrido por policiais que vigiavam os acessos à Favela da Grota. Meia hora depois, foi a vez do representante comercial identificado como R.E.S.B., de 48 anos, ser atingido com um tiro de raspão na cabeça em um ponto de ônibus. Minutos depois, o Esquadrão Anti-Bombas detonava uma granada que não explodiu. O artefato jogado por traficantes contra viaturas da polícia, não funcionou e ficou no meio da rua principal da Grota. Pelo rádio, policiais ouviam notícias de colegas feridos e provocações de traficantes que desafiavam a polícia a permanecer à noite no local. "Quando cair a noite, pode vir Bope, Forna Nacional de Segurança que a gente vai meter bala", disse um dos marginais. Após o meio-dia, moradores entravam na favela apenas em grupos e a maioria dos homens que saíam eram revistados nos acessos da favela. Po volta das 14h30, o "Caveirão" desceu com o primeiro dos quatro bandidos mortos. Um policial chutou o cadáver para acomodá-lo na caçamba do camburão. Meia hora depois, a polícia dava por encerrada a operação. Conversa dos traficantes O repórter fotográfico Fabio Motta gravou uma conversa com os traficantes no Complexo do Alemão. Em um dos trechos, eles ameaçam jogar granada contra os policiais que participam da operação: "Quem tá na ladeira ainda é eles...eles tá pedindo pra jogar granada neles, né? Eles tá pedindo isso. Se eles tá pedindo, então eles vai ter então. Eles vai receber granada então. Tou falando, ladeira não é de brincadeira, irmão".

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