Polícia divulga retrato-falado de estuprador que assusta USP

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Por Agencia Estado
Atualização:

Sete casos de estupro ou de outros tipos de violência contra mulheres ocorreram perto e dentro da Cidade Universitária, na capital paulista, nos últimos dois meses. Um deles foi esclarecido, e o restante a polícia acredita ter sido cometido por um mesmo homem. Quatro das vítimas são estudantes da Universidade de São Paulo (USP). O caso que mais chama a atenção é o da estudante do quarto ano de Letras abordada por volta do meio-dia da última quarta-feira em uma avenida movimentada do campus. Ela foi estuprada em seu carro, dentro da USP, em um local perto da reitoria. O primeiro registro foi de uma tentativa de estupro de uma estudante do curso de Matemática, no dia 25 de setembro, que estava na ponte da Cidade Universitária. O último caso ocorreu na última sexta-feira. Uma mulher de 48 anos foi violentada perto da Favela São Remo, que também fica na região. Segundo a delegada Maria Cristina Mazzarello, da 3ª Delegacia da Mulher, depois do estupro o criminoso deixou cair uma carteira e pôde ser identificado como cabo da Marinha. Ele está sob custódia da Marinha e deve ser apresentado nesta terça-feira às vítimas para reconhecimento. Um retrato-falado também foi divulgado hoje. A maioria dos crimes ocorreu entre 19 horas e 1 hora. Apenas duas das moças também foram roubadas, e o criminoso ameaça sempre a vítima com faca ou punhal. Segundo relatos, o agressor é branco, tem entre 25 e 28 anos, 1,70 metro, olhos e cabelos castanhos. "Não ando mais sozinha e só venho para a faculdade se tiver carona com amigos", diz a aluna de Letras Paula França, de 22 anos. O clima é de insegurança e medo na USP, principalmente na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLHC), onde a aluna foi atacada durante o dia. Faixas e cartazes com alertas foram espalhados pela unidade. "Nunca pensei que pudesse acontecer isso aqui", diz outra estudante do primeiro ano de Letras, que se identificou apenas como Luciana, de 18 anos. Muitos reclamam da falta de policiamento no campus, que tem cerca de 4 milhões de metros quadrados e apenas 56 seguranças da Guarda Universitária, que não andam armados. Segundo a assessoria de imprensa da reitoria da USP, outras 48 contratações já foram autorizadas para o ano que vem. Cerca de 100 mil pessoas - dentre elas, 50 mil alunos - circulam pela Cidade Universitária por dia, segundo estimativas da reitoria. Nos fins de semana, é apenas autorizada entrada de quem vai participar de atividades culturais, como visitas a museus. Depois dos ataques, a reitoria está divulgando uma cartilha, com recomendações de segurança para as mulheres. No ano passado, foram registrados 244 furtos de carros na USP e nenhum estupro, segundo relatório da Guarda. O medo acabou levando a uma onda de boatos e histórias não confirmadas na universidade. Alunos falam em mais de 30 casos de estupro nos últimos meses. Até informações sobre homens violentados circulam pelo campus. "Também estamos com medo e andamos sempre em bando", diz um estudante de Letras, que se identificou apenas como Henrique. A polícia, no entanto, não confirma mais de sete casos. Um deles, ocorrido em 2 de outubro dentro da USP, segundo a delegada Maria Cristina, não tem relação com os demais. O acusado, Marcelo de Jesus, foi preso, reconhecido pela vítima e identificado como um maníaco que agia nas redondezas do Parque Villa Lobos. Três dos casos, nos dias 27 de outubro, 3 e 20 de novembro, ocorreram perto da Cidade Universitária. Ao destravar todas as portas com um daqueles controles de alarme, um homem jovem e bem-vestido entrou pela porta do passageiro do carro da estudante do quarto ano de Letras. Eram 12h20 de quarta-feira e a moça acabara de sair da aula na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH). "Ele estava com uma faca e falou para eu andar com o carro", diz a aluna, de 33 anos, que pediu para não ser identificada. Ela foi abordada na Avenida Professor Luciano Gualberto, na frente da unidade onde estuda. A via tem trânsito movimentado e pontos de ônibus. Depois de circularem pela USP, o agressor disse à estudante que parasse em um local vazio, perto da moradia estudantil e da reitoria. Ele a estuprou dentro do carro e depois foi embora a pé, com a chave do veículo. A moça procurou a Guarda Universitária e ainda tentaram, em vão, encontrar o criminoso pela USP. "Ele tem todo o perfil de um estudante. Fala corretamente, sem gírias e estava com uma mochila", diz a aluna, que não mais voltou à universidade. "Estou com muito medo, mudei toda a minha vida. Não trabalho, não estudo. Não quero entrar no campus até ele ser preso." Ela reclama de não ter sido alertada sobre estupros recentes na USP. A estudante não tinha nenhuma informação sobre os outros cinco casos que precederam o seu.

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