Polícia fecha bunker de justiceiros que faziam execuções na fronteira do Paraguai

No imóvel, em Pedro Juan Caballero, os policiais apreenderam armas, ao menos 400 munições de fuzil, carregadores de precisão, miras telescópicas, máscaras de látex, coletes táticos e uniformes de camuflagem

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Por José Maria Tomazela
Atualização:

SOROCABA – A polícia paraguaia invadiu, na noite desta segunda-feira, 25, uma casa transformada em bunker por quadrilhas responsáveis por dezenas de execuções na fronteira do Brasil com o Paraguai. No imóvel, em Pedro Juan Caballero, os policiais apreenderam armas, ao menos 400 munições de fuzil, carregadores de precisão, miras telescópicas, máscaras de látex, coletes táticos e uniformes de camuflagem. Dois carros achados no local foram usados em oito execuções recentes em Pedro Juan e na vizinha brasileira, Ponta Porã, já no estado de Mato Grosso do Sul.

Segundo o Departamento de Investigações da Polícia Nacional, o bunker funcionava como "quartel-general" dos "justiceiros da fronteira", como se intitulam grupos armados a serviço das facções criminosas que disputam o controle do tráfico de drogas e armas na região. No imóvel, protegido por câmeras e muros altos, foram encontrados cartazes semelhantes aos deixados com frases de ameaças, ao lado dos corpos, nas execuções. Não havia ninguém no local e poucas armas foram apreendidas, o que levou à suspeita de que os criminosos foram avisados da operação.

Equipes da Polícia Nacional do Paraguai invadiram um 'bunker' usado por pistoleiros acusados de dezenas de execuções na fronteira com o Brasil Foto: Jorge Vidallet / Polícia Nacional do Paraguai

Um dos veículos apreendidos, um Chevrolet Cobalt sem placas, foi usado nas execuções de Luis Mateo Martinez Amoa, de 21 anos, e da namorada dele, Anabel Centurión Mancuello, de 22, em julho último, em uma choperia de Pedro Juan. O mesmo carro foi visto nas execuções de Jorge Ortega Garcia, 27, em setembro, e no assassinato do advogado e candidato a vereador Nestor Ramón Echeverria, dia 30 de setembro. O outro veículo, um Hyundai Santa Fé com placas do Brasil, pode ter sido usado na execução do agente policial Hugo Ronaldo Acosta, de 32 anos, no último dia 12.

Na operação, os policiais apreenderam armas, ao menos 400 munições de fuzil, carregadores de precisão, miras telescópicas, máscaras de látex, coletes táticos e uniformes de camuflagem Foto: Jorge Vidallet/Policia Nacional do Paraguai

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Na churrasqueira da mansão, os policiais acharam documentos queimados que podem estar relacionados às execuções. As partes recuperadas passarão por perícia. Na última execução atribuída aos justiceiros, o ex-jogador e advogado Joel Angel Villalba Aquero, de 45 anos, foi morto com dezenas de tiros em frente à sua casa, no bairro Dom Bosco, em Pedro Juan, nesta segunda-feira, 25. O pai dele foi atingido de raspão. Aquero havia sido preso em junho de 2006, em Curitiba, no Paraná, quando entregava oito quilos de cocaína a um uruguaio. Ele cumpriu pena por tráfico e, no início de 2020, foi entregue às autoridades do país vizinho.

As ações da polícia paraguaia contra as organizações criminosas que atuam na fronteira foram intensificadas após o atentado, no último dia 10, que resultou nas mortes de três jovens estudantes de medicina – duas brasileiras e a paraguaia Haylee Carolina Acevedo Yunis, de 21 anos, filha do governador do departamento de Amambay, Ronald Acevedo. O alvo do ataque, Osmar Álvarez Grance, o Bebeto, também morreu com o corpo crivado de balas. No mesmo dia, o vereador de Ponta Porã, Farid Afif (DEM), de 37 anos, foi executado no lado brasileiro.

Carros, armas e munições foram apreendidos, mas ninguém foi preso Foto: Jorge Vidallet/Policia Nacional do Paraguai

O policiamento na fronteira foi reforçado também no lado brasileiro e as polícias dos dois países passaram a realizar operações conjuntas. No último sábado, 23, cinco brasileiros foram presos, em Pedro Juan, acusados de integrarem a facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). Com eles foram apreendidos três fuzis, duas pistolas, munições e equipamentos de comunicação, além de dois veículos. Um dos presos, Jefferson Kelvin Gonçalves de Oliveira, era procurado pela Interpol por tráfico internacional de drogas e homicídios. No dia seguinte, os cinco foram expulsos do Paraguai e entregues às autoridades brasileiras.