PUBLICIDADE

Polícia investiga se manifestação em Heliópolis foi armada por bandidos

Traficante e ladrão de bancos são principais suspeitos; bilhetes prometiam cesta básica em troca de participação

Foto do author Marcelo Godoy
Por Eduardo Reina e Marcelo Godoy
Atualização:

A polícia investiga a ação de traficantes e de um ladrão de banco por trás do protesto realizado anteontem contra a morte da estudante Ana Cristina Macedo, de 17 anos, em Heliópolis, na zona sul de São Paulo. A garota foi morta na segunda-feira. A principal pista que levaria aos bandidos é um bilhete distribuído à população - em que era prometida "uma cesta básica" para quem colaborasse com o protesto marcado para as 18 horas.A estudante foi morta por uma bala perdida disparada em um suposto tiroteio entre guardas-civis de São Caetano do Sul e ladrões que haviam roubado o Ford Ka de uma outra estudante. Ana Cristina foi atingida no pescoço quando voltava sozinha da escola para casa.O maior suspeito de ter orquestrado a manifestação, possivelmente como mostra de poder sobre a comunidade, é o traficante conhecido como Paraná. O bilhete supostamente feito pelos traficantes foi apreendido por policiais militares. "Pedimos a ajuda de todos os moradores da comunidade de Heliópolis para fazer um protesto sobre muita morte de gente inosente (sic)." O documento não especifica que outros inocentes além de Ana Cristina teriam sido mortos. Além de Paraná, a polícia procura um comparsa, o assaltante Tiganá, que seria Josiel Lopes Cordeiro, de 36 anos, que já foi um dos ladrões mais procurados do Estado. Ele chegou a ser acusado de participar do furto de R$ 164 milhões do Banco Central de Fortaleza (CE), mas acabou absolvido.A inteligência da polícia descartou, por enquanto, a participação de integrantes da cúpula do Primeiro Comando da capital (PCC) ou de outra facção no protesto e considera que tudo partiu de líderes locais. Nada foi encontrado que indicasse a participação de outros grupos.Já o inquérito sobre quem matou a estudante, a cargo do 95º DP, aguarda a conclusão do laudo de balística para confirmar se o tiro partiu dos guardas-civis. O Instituto de Criminalística recebeu a bala extraída do corpo da jovem para os exames. As armas dos guardas foram apreendidas, e eles foram afastados do serviço.Enquanto isso, em Heliópolis, os moradores se dividiram entre os que elogiam e os que criticam os traficantes. Parte dos moradores aceita as ações "assistencialistas" promovidas por Paraná e por outro traficante conhecido como Banana. Cada um deles domina uma das frentes de venda do tóxico - uma na região da Avenida Almirante Delamare e outra próxima da Estrada das Lágrimas.A dona de casa Margarida disse que já teve ajuda para comprar remédios e até mesmo dinheiro para adquirir material de construção. "A minha mãe estava doente e o remédio era muito caro. O pessoal ajudou com dinheiro." O desempregado Magalhães afirmou que Paraná é uma pessoa "amável", que está sempre ao lados dos moradores. "Ele vai nos churrascos, conversa com todo mundo e vai até ao culto da igreja."Mas a aceitação da ação do tráfico não é bem-vista por todos. Quando se pergunta sobre as pessoas da turma do Paraná, parte dos moradores se cala. "Não acho correto. Aqui tem muito trabalhador, honesto. A gente sua muito para ganhar nosso pão de cada dia. E vêm essas pessoas e fazem o que querem na força. Olha só o que aconteceu ontem (terça-feira). Muita bagunça, isso não é certo", reclamou um homem.O secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, questionou o protesto. "A indignação não pareceu espontânea. Apreendemos um bilhete no qual se prometia o pagamento de cesta básica para quem participasse da manifestação. Havia até hora marcada para o protesto, o que nos causa estranheza", disse ao Estado. Segundo ele, apesar de manifestações semelhantes terem ocorrido nos últimos três meses - foram três casos contra a morte de suspeitos em supostos tiroteios com PMs -, as ações da polícia são "marcadas por cautela e respeito às comunidades".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.