Polícia investiga venda ilegal de licença a camelôs no centro

Agentes da Subprefeitura Sé cobram entre R$ 2 mil e R$ 3 mil dos camelôs

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Polícia Civil de São Paulo investiga um esquema de corrupção ativa envolvendo funcionários públicos municipais e camelôs. Agentes da Subprefeitura da Sé estariam vendendo licenças ao preço de R$ 2 mil a R$ 3 mil para camelôs trabalharem na região central. Um flagrante feito na quinta-feira, 16, na Rua Barão de Duprat reforçou a existência da organização criminosa. O esquema foi revelado na quinta-feira ao delegado Sérgio Ricardo Silva, plantonista do 1º Distrito Policial, na Sé, pelo ambulante Ângelo Salla Netto, de 69 anos. Deficiente visual, Salla Netto teve seu Termo de Permissão de Uso (TPU) apreendido no dia 21 de novembro de 2006 por estar ausente de sua banca instalada na Rua Barão de Duprat, 85. Em 26 de janeiro, a licença foi revogada. O ambulante disse que naquele dia se atrasou para chegar ao trabalho porque chovia muito. Ao chegar, soube que um grupo de cerca de 30 guardas civis municipais tinha apreendido a sua mercadoria e a TPU das mãos de seu auxiliar, Aílton Clodoaldo Bezerra. Três ou quatro dias depois, Salla Netto recebeu um telefonema de uma pessoa que se identificou como Adauto, funcionário da Subprefeitura da Sé. "Ele me disse que se eu pagasse o valor de R$ 3 mil receberia o TPU e toda a mercadoria de volta." O ambulante respondeu que não tinha o dinheiro. Passada uma semana, Adauto voltou a ligar e baixou a propina para R$ 2 mil. O ambulante disse que pensaria na proposta e depois disso não foi mais procurado. Há cinco dias, o camelô começou a receber a ligação de uma mulher lhe propondo sociedade. Ela dizia que queria trabalhar e que tinha a "manha" de retirar a permissão dele na Subprefeitura. O ambulante procurou o advogado Yvan Gomes Miguel e foi orientado a simular a aceitação da proposta. Na manhã de quinta, conforme combinado, Salla Neto foi para a sua banca na Barão de Duprat. Ao encontrar Rosiane Silva Duarte vendendo bolsas e panos de prato, ligou para o advogado, que apareceu com policiais militares que a levaram para a delegacia. Com ela, os policiais apreenderam o TPU, aparentemente original, no nome do deficiente. A jovem disse ao delegado que a licença pertencia à sua mãe. "Eu não sei qual foi o acordo que ela fez com o senhor Ângelo", disse a moça. Francisca não atendeu ao chamado do delegado para comparecer à delegacia para esclarecer os fatos. Diante da resistência da ambulante, o delegado registrou um boletim de ocorrência de estelionato/corrupção ativa e passiva. No documento, Francisca aparece como averiguada e Salla Neto e a administração pública, como vítimas. "Agora vamos intimá-la a comparecer aqui para explicar onde conseguiu essa licença. Simultaneamente vamos encaminhar o documento à perícia técnica para confirmação de sua autenticidade", disse o delegado Sérgio Ricardo Silva. No último dia 5 de março, o advogado Yvan Gomes Miguel fez uma representação ao Ministério Público Estadual (MPE) denunciando a existência de uma organização criminosa composta por guardas civis e funcionários municipais, dedicada a prática de abuso de autoridade e tortura de ambulantes.

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