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Polícia portuguesa detém mais de 200 brasileiros em pagode

Mais de 100 agentes da polícia exigiram a identificação de todos os participantes da reunião

Por Agencia Estado
Atualização:

Em uma das maiores operações contra a imigração clandestina em Portugal, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras interrompeu um pagode freqüentado em sua maioria por brasileiros e detive mais de 500 pessoas. No domingo, no restaurante de rodízio Búfalo Grill, situado no Jardim Zoológico de Lisboa, mais de 100 agentes, alguns deles com capuz, armados com espingardas e metralhadoras e outros acompanhados de cães, exigiram a identificação de todos os participantes da reunião. Do total, 234 foram levados para as instalações do Serviço, dos quais 12 ficaram detidos para serem apresentados a um juiz e 222 receberam a notificação de que têm 20 dias para deixar o país. O diretor do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Lisboa, Carlos Patrício, nega que a ação tenha sido contra brasileiros: "Não foram só brasileiros. Nós também notificamos cidadãos de Cabo Verde, do Zimbábue e do Peru". Nesta terça, o restaurante, fechado desde então, estava vazio. O pessoal da casa se defende dizendo que não são responsáveis se as pessoas presentes são ou não ilegais. Os estrangeiros "Foi perto das 8 da noite. Eu estava no pagode, fui ao banheiro e quando saí vi as meninas que trabalham no bar chorando. Eu estava sem o passaporte e então apresentei o documento da segurança social e o número de contribuinte (equivalente ao CPF)", conta Leia Ferreira, de Presidente Prudente. Sem os papéis em ordem em Portugal, Léia decidiu abandonar o pagode semanal. "Eu trabalho todos os dias como interna, de empregada doméstica. É a única diversão que eu tinha. Eu adoro dançar. Agora não vou mais". O brasileiro Inácio Bernardo, que passou a noite na delegacia, reclama do tratamento: "Estivemos numa cela fria, a única coisa que ofereceram foi um pão seco. Um amigo esteve numa cela em que começaram a fumar haxixe e ele não agüentava o cheiro". Numa barraca que vende sanduíches ao lado do restaurante, o brasileiro Adalmo Ricardo conta outra versão: "O restaurante está em briga no tribunal com da administração do zoológico. Há uns três meses, eles alugaram metade do restaurante para um pessoal que organiza o pagode todos os domingos. Nesses três meses, só duas ou três vezes não houve briga ou confusão". Segundo Adalmo, foi a própria administração do zoológico que pediu a blitz para usar como argumento em tribunal. Além do Serviço de Estrangeiros, esteve no local a Inspeção Geral de Atividades Culturais, que apreendeu 300 CDs piratas. Preocupação Segundo Heliana Bibas, presidente da associação de imigrantes Casa do Brasil de Lisboa, a blitz é mais um sinal do aumento da perseguição por parte do Serviço de Estrangeiros aos cidadãos do Brasil. "Na sexta-feira temos música ao vivo e colocaram um pelotão do outro lado da rua da nossa sede, fazendo uma barreira, numa operação de intimidação", indica como exemplo. "Vamos contatar com Brasília, falar com o embaixador, com o Ministério da Justiça e o das Relações Exteriores por causa dessa caça aos brasileiros". No consulado do Brasil em Lisboa, a situação é considerada "preocupante". Não é a primeira vez que estouram locais onde há brasileiros em Portugal. "Por enquanto estamos seguindo o assunto e comunicamos o Itamarati", diz o cônsul, Júlio Cezar Zelner Gonçalves.

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