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Polícia sabia que traficantes preparavam invasão à Rocinha

"A polícia estava na comunidade, mas ia entrar onde? Naquela escuridão, para colocar em risco mais pessoas da comunidade?", disse Marcelo Itagiba, secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro

Por Agencia Estado
Atualização:

O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Marcelo Itagiba, admitiu nesta sexta-feira que a polícia tinha informações de que bandidos da facção criminosa Comando Vermelho (CV) de várias favelas estavam se organizando para invadir a Rocinha, no Rio, mas afirmou que a polícia não tem como evitar ações como a de quarta-feira. Seis pessoas morreram no confronto entre traficantes rivais no alto da favela. Cinco deles eram moradores que não tinham envolvimento com as quadrilhas. O secretário disse que a polícia estava nas entradas da comunidade, mas optou pelo cerco e não foi até o local do confronto para poupar a comunidade. "A polícia estava na comunidade, mas ia entrar onde? Naquela escuridão, para colocar em risco mais pessoas da comunidade? A polícia fez naquele momento o que, a seu juízo, achou que era possível para levar menos riscos e danos à comunidade. Infelizmente morreram seis pessoas", disse o secretário, para quem a prisão de 14 envolvidos demonstra o bom trabalho da polícia. "Dentro do quadro, que é ruim, tivemos um resultado bom", avaliou. Ao lado do subsecretário de inteligência, Romeu Ferreira, Itagiba disse, em entrevista coletiva, que a secretaria tinha indícios de que traficantes do CV, que lutam desde 2004 para retomar o controle da venda de drogas na Rocinha, estavam preparando um ataque para antes do carnaval, mas não sabia data e horário. Geralmente esses fatos ocorrem à noite ou num dia de grande evento, como o show dos Rolling Stones ou a véspera do carnaval", disse o secretário, para quem os bandidos surpreenderam ao atacar no final da tarde. "Quem tem culpa pela morte das pessoas inocentes são os traficantes e não a polícia", afirmou Itagiba, destacando que não houve falhas, nem mesmo no sistema de informações. "Não existe bola de cristal nem como estar em todas as ruas", justificou. Ferreira confirmou que repassou, há cerca de uma semana, para o comando das polícias Civil e Militar a informação de que uma invasão poderia ocorrer a qualquer momento. Ele também confirmou que recebeu informações da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) sobre o assunto. O informe daria conta de que líderes do CV presos no complexo de Bangu teriam dado autorização para o ataque, incluindo a indicação dos líderes da ação, que saíram do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, mas o subsecretário de inteligência não quis confirmar o conteúdo. O coronel Hudson de Aguiar Miranda, comandante da PM, não soube dizer quantas operações preventivas foram feitas no morro de Copacabana. Itagiba informou ainda que pediu um relatório ao chefe da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) para verificar se policiais de plantão estavam numa festa, apelidada de "Corefolia", numa praia do Rio, um dia depois da crise na Rocinha. A PM reforçou o patrulhamento na favela e o dia no local hoje foi de aparente tranqüilidade. Na madrugada, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) apreendeu grande quantidade de munição para fuzil numa casa da favela. Pela manhã, Itagiba recebeu do secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, um novo helicóptero para a PM do Rio. O aparelho de R$ 7 milhões, pagos pelo Fundo Nacional de Segurança Pública, será empregado pela primeira vez neste sábado, durante o show dos Rolling Stones, em Copacabana. Na mesma cerimônia, um avião que pertenceu ao traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, líder do CV, foi integrado ao comando aéreo da PM. Sobre o conflito da Rocinha, Corrêa disse que é preciso investir na prevenção da criminalidade, mas os resultados demoram. "Enquanto insistirmos só com a repressão, vai acontecer o que aconteceu. Como política pública, temos de puxar para outro viés."

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