Polícia suspeita de vingança na morte de Escadinha

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Por Agencia Estado
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O delegado Álvaro Lins disse que Escadinha pode ter sido assassinado por integrantes da facção que ajudou a criar ou por brigas na cooperativa de taxi. O chefe de polícia revelou que Escadinha estava sob investigação havia quatro meses. Ele estaria comprando rádios transmissores em nome da cooperativa de táxi e repassando a traficantes. Segundo Lins, pelo menos três aparelhos da cooperativa, a Rio Elite Service, foram apreendidos pela polícia com bandidos ligados ao Comando Vermelho. Um deles foi apreendido com um traficante conhecido como Coringa, um dos chefes do tráfico de entorpecentes no Complexo do Alemão, e outros com presos da penitenciária Bangu 3, onde estão membros dessa facção. Facções rivais Como o tráfico no Morro do Juramento foi tomado recentemente do Comando Vermelho pela facção Amigos dos Amigos (ADA), Lins não afasta a possibilidade de Escadinha ter sido morto por se aproximar do novo grupo. "É possível o envolvimento dele com essa outra facção tenha despertado a revolta de membros da facção dele", disse o delegado, que acredita que Escadinha estava ligado novamente ao tráfico. Álvaro Lins disse ainda que o presidente da cooperativa, Mário Frazão Gomes, também está sendo investigado. Há informações de que havia desavenças entre eles. "Vamos ver até que ponto vai o envolvimento dele". Na matriz da cooperativa, que funciona no Carioca Shopping, em Vicente de Carvalho, poucos dos cerca de 120 cooperativados aceitaram falar sobre Escadinha. Apesar de figurar oficialmente como vice-presidente, vários motoristas confirmaram que ele era o principal administrador da cooperativa e não trabalhava mais ao volante. "Ele era bacana. Pela conduta dele conosco parecia estar recuperado. O passado dele nunca influenciou em nada", disse um dos taxistas. A cooperativa atua ainda em outros pontos da cidade, como a Barra da Tijuca e a Feira Nordestina de São Cristóvão. Para os funcionários da cooperativa, Escadinha estava afastado do crime. Ele é descrito como popular e religioso, já que era freqüentador da Igreja Universal do Reino de Deus. Um dos despachantes da cooperativa, de 28 anos, afirmou que ganhou de Escadinha o emprego após cumprir pena por tráfico de drogas. "Ele me procurou e ofereceu o emprego para eu deixar o tráfico. Ele dava emprego para muita gente que saía da prisão e sempre dava conselho para a gente não se envolver mais com isso. Na segunda-feira, fui com ele à igreja", contou o despachante, que o viu pela última vez na tarde de anteontem na creche Príncipe da Paz, mantida por ele num dos acessos do Juramento. Morte José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, que foi um dos bandidos mais conhecidos do Rio, morreu com dois tiros de fuzil. Integrante do grupo que deu origem à facção criminosa Comando Vermelho, ele foi morto no início da manhã de hoje na Avenida Brasil, uma das principais vias da cidade. Dois homens armados numa moto atiraram contra o carro que ele dirigia. O chefe de polícia do Rio, delegado Álvaro Lins, acredita que ele foi executado por vingança. Então chefe do tráfico de drogas do Morro do Juramento (zona norte), Escadinha foi preso em 1982 e cumpria pena em regime semi-aberto desde 1999 no Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho, no complexo penitenciário de Bangu, na zona oeste. Ele deixava a prisão todos os dias pela manhã para trabalhar numa cooperativa de táxi e voltava no fim do dia para passar a noite. Foi no caminho do trabalho que dois homens armados com um fuzil atiraram contra o carro dele, o Vectra cinza de placa AHL 5464, na altura de Realengo (zona oeste). Testemunhas disseram que um deles estava sentado de maneira invertida na garupa da moto para fazer os disparos. Escadinha foi atingido duas vezes no rosto e morreu na hora. Luciano da Silva Wanderley, de 30 anos, estava com ele no carro e também morreu. Atingido no braço e no abdômen, ele cumpria pena em regime semi-aberto na mesma penitenciária por latrocínio e estava trabalhando temporariamente como digitador na cooperativa administrada por Escadinha. Com o rosto desfigurado, o corpo do traficante demorou a ser identificado pelos peritos, mas desde cedo populares diziam que se tratava dele. A demora na remoção dos corpos e a aglomeração de curiosos provocou engarrafamentos na via durante toda a manhã.

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