´Política a gente faz com o que tem, não com o que quer´

Lula diz a intelectuais que ´todos podiam errar´ e que classe média não controla mais voto da empregada

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Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez coro na terça-feira com artistas que defenderam a política baseada no realismo. "Política, a gente faz com o que a gente tem, e não com o que a gente quer. Esse é o jogo que a gente tem que fazer", disse Lula, ao falar sobre alianças para uma platéia de intelectuais. Diante desse público, o presidente afirmou que sua atuação no governo fez o País superar o que chamou de "síndrome do preconceito dos que moram no andar de baixo": a desconfiança dos mais pobres de que uma pessoa como eles não saberia como governar o Brasil. "Hoje, os formadores de opinião não têm mais a verdade absoluta", afirmou Lula. "Não é mais a classe média que detém o voto da empregada doméstica e do porteiro. Os mais pobres hoje têm confiança para governar o País." O encontro, realizado no Hotel Sofitel de São Paulo, reuniu cerca de 50 intelectuais, professores universitários e acadêmicos . Para essa platéia - que cobrou ética na política e ajustes na economia -, Lula voltou a assumir o papel de vítima dos escândalos ocorridos no governo. Não negou o mensalão, mas disse que quem errou deve se desculpar. "O erro não é só de um partido ou de uma pessoa". "Todos podiam errar. Saímos de um momento muito difícil do ponto de vista político. O PT vai ter que responder pelos seus erros e as pessoas que erraram precisam pedir desculpas ao povo brasileiro." Em outras ocasiões, Lula assumiu postura semelhante, chegando a afirmar que se sentia traído pelos que erraram. No entanto, o presidente nunca disse quem seriam esses traidores e costuma mostrar apreço por pessoas acusadas em escândalos, como o ex-ministro José Dirceu e o deputado João Paulo, que escapou da cassação no plenário da Câmara por envolvimento no mensalão. Lula disse que o PT "foi criado para errar menos que os outros partidos", por isso teria "pago um preço" - o escândalo do mensalão. Por sinal, o presidente nem negou a existência do mensalão. "Não vamos discutir se era verdade ou se era mentira, mas era uma crise que truncou praticamente quase todo o ano de 2005 e uma boa parte de 2006", afirmou Lula. O presidente preferiu falar da forma como sobreviveu à crise. "Quantos presidentes chegariam onde estamos hoje, com a aceitação que temos hoje depois que passamos por tudo isso?", questionou. "Na história do Brasil, outros caíram, outros foram obrigados a se afastar. Nós cá estamos, disputando o segundo mandato, eu que era contra a reeleição. Todo mundo achava que nós tínhamos acabado. Mas ressurgimos mais fortes do que nascemos." No discurso de quase uma hora que fez, Lula demonstrou confiança na reeleição. Até falou em programas para março de 2007. "Os juros vão cair, o câmbio vai se ajustar, a economia vai crescer e temos projetos importantes em andamento, alguns para começar em março", anunciou. "Tivemos um excepcional começo", declarou, em alusão ao seu primeiro mandato. "Agora poderemos dar mais passos e muito mais sólidos." Alfinetadas Lula foi ao encontro com os intelectuais acompanhado de cinco ministros: Matilde Ribeiro, Luiz Dulci, Celso Amorim, Tarso Genro e Dilma Rousseff. Na platéia, estava o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, que deixou o governo depois de acusado de participação na violação do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Ex-integrante do governo, Frei Betto afirmou que vai votar nele, mas cobrou prioridade, num segundo mandato, às reformas agrária e política. Ele também defendeu maior participação e valorização dos movimentos sociais. Segundo Frei Betto, no primeiro mandato a governabilidade foi assegurada no Congresso em detrimento dos movimentos sociais, que "não foram devidamente considerados". A psicanalista Maria Rita Kehl disse esperar um "novo governo, de um PT renovado e modificado com relação aos vícios e aos crimes". Tarso Genro, ministro das Relações Institucionais, minimizou a polêmica sobre as declarações atribuídas ao ato Paulo Betti e ao músico Wagner Tiso. Segundo ele, ambos colocaram que a questão da ética pública é uma questão permanente para o país, "e essas questões não dizem respeito somente ao PT ou somente ao governo." Para o ministro, essas são questões sistêmicas do país e o governo Lula está combatendo essa corrupção" . Ferréz, rapper e escritor do Capão Redondo - na periferia de São Paulo, a e disse que foi ao encontro "para ouvir" como representante da periferia. Sua principal preocupação, afirmou, é o preço dos livros e a elitização da literatura. Para Ferréz, ética é uma questão fundamental, mas apareceu justamente "porque esse governo (Lula) é mais transparente". "Síndrome do preconceito dos que moram no andar de baixo", referindo-se a que parcela significativa dos pobres se sentem importantes como o presidente Lula. Jorge Mattoso estava entre os intelectuais.

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