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Política retrógrada impede acordo com EUA, diz analista

Peter Hakim afirmou que um dos principais problemas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva no setor de comércio internacional é que "quem dita a política externa é o Itamaraty"

Por Agencia Estado
Atualização:

O cientista político Peter Hakim acredita que o Brasil teria muito a ganhar se firmasse acordos comerciais com os Estados Unidos, mas não o faz porque mantém uma política de comércio exterior "retrógrada" e dominada por "pessoas movidas pela ideologia". Em entrevista à BBC Brasil, o analista, que é presidente do Inter-American Dialogue, um dos principais institutos de pesquisas sobre o continente americano, afirmou que um dos principais problemas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva no setor de comércio internacional é que "quem dita a política externa é o Itamaraty". De acordo com Hakim, "a coisa poderia ser diferente se quem estivesse por trás da área fosse alguém mais pragmático, como Palocci". No entender do cientista político, o ex-ministro da Fazenda "queria um acordo com os Estados Unidos e sabia que o Brasil poderia se beneficiar disso". Em contrapartida, na visão do analista, "a área de comércio internacional acabou sendo tomada por pessoas movidas pela ideologia, que impuseram uma política retrógrada", na qual acordos comerciais com os americanos nunca avançam. Culpa compartida "Os Estados Unidos também têm sua parcela de culpa, porque não foram flexíveis, em relação à sua política de subsídios agrícolas", diz Hakim. Mas, de acordo com o analista, "se ambos os países aceitassem um certo grau de protecionismo por parte do outro, os dois sairiam ganhando". De acordo com o cientista político, o Brasil, por sua vez, não ganhou nada ao persistir na política atual. "Existe um enorme mercado para produtos agrícolas brasileiros nos Estados Unidos. Da mesma forma, se o Brasil também abrisse suas portas para produtos manufaturados americanos teria muito a ganhar." Escolha e futuro No entender do analista, a administração Lula optou por priorizar políticas fiscais e monetárias e relegou o comércio internacional para o segundo plano. O cientista político prevê que a atual política dificilmente mudaria caso o atual presidente conquiste um segundo mandato. "Nos últimos anos, Lula pode não ter dado ao Brasil uma economia tão fulgurante como a da Índia ou a da China, mas seu grande sucesso foi ter promovido estabilidade. Por isso, ele não deverá alterar sua política macroeconômica", comenta. No entender do analista, um eventual segundo mandato de Lula também esbarraria em dificuldades externas para mudar de rumo. "Lula gostaria de deixar um legado de transformações, mas o cenário político que está se formando não é favorável a ele. Em um Congresso com um PT enfraquecido e onde será difícil costurar alianças com a oposição será muito difícil promover quaisquer mudanças no programa de governo." Por conta disso, Hakim acredita que "um segundo mandato será um grande desafio para Lula e tenderá a ser um governo mais fraco, mas essa costuma ser a norma nesses casos, como foi com Fernando Henrique Cardoso".

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