'Por favor, não levem minha filha embora', diz mãe de vítima em Janaúba
Casal chora morte de uma filha no incêndio criminoso na creche em Minas Gerais e internação de outros dois
Por Felipe Resk
Atualização:
JANAÚBA - “Você me deu os dois, por que agora me tira um?”. Esses eram os gritos que se ouviam de uma mãe no cemitério de Janaúba, onde Ana Clara Ferreira Silva, de 4 anos, foi enterrada na manhã desta sexta-feira, 7. Com as mãos coladas ao caixão da filha, a desempregada Luana Ferreira de Jesus só conseguia chorar e pedir: “Por favor, não levem minha filha embora!”. Ao lado dela, o marido chorava em silêncio.
Tragédia em creche de Janaúba, em MG
1 / 27Tragédia em creche de Janaúba, em MG
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
A investigação da Polícia Civil aponta que ele teria premeditado o crime. Na casa do vigia foram achados galões com combustível. Foto: Fredson Souza/Estadão
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
Segundo a prefeitura de Janaúba, desde 2008 Santos era vigia noturno da escola. Ele tinha problemas mentais, estava sob tratamento médico e já havia s... Foto: Polícia Militar/Minas GeraisMais
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
O vigia Damião Soares dos Santos, de 50 anos, chocou a cidade de Janaúba, a 559 quilômetros de Belo Horizonte, ao colocar fogo na creche Centro Munici... Foto: Fredson Souza/EstadãoMais
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
Viaturas, bombeiros, policiais militares e civis de ao menos cinco cidades foram acionados para ajudar no socorro das vítimas. Foto: Polícia Militar/Minas Gerais
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
Cerca de 50 alunos e professores estavam na creche no momento da tragédia. Foto: Polícia Militar/Minas Gerais
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
A comoção com o caso foi tão grande que o Hemocentro Hemominas de Montes Claros teve que ser fechado após o número de doadores exceder a capacidade do... Foto: Rosana Silva/ HemominasMais
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
Amigos e familiares das vítimas apreensivos sobre informações do lado de fora do Hospital Regional de Janaúba. Foto: Fredson Souza/Estadão
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
Cortejo fúnebre da menina Ana Clara Ferreira Silva, de 4 anos Foto: Thiago Queiroz/Estadão
Sobreviventes
Wanderson dos Anjos Pena acompanha os filhos Italo e Webert, que sobreviveram à tragédia no Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente, em J... Foto: Tiago Queiroz/EstadãoMais
Sobreviventes
O menino Murilo Ramos Dias, de 3 anos, foi um dos sobreviventes da tragédia em Janaúba Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Uma van escolar foi usada para transportar amigos ao enterro da menina Ana Clara Ferreira Silva, de 4 anos Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Amigos chegam para acompanhar o enterro de Ana Clara Ferreira Silva, de 4 anos, uma das vítimas do incêndio criminal na creche Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Vários amigos de Ana Clara acompanharam a cerimônia Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Cenas do enterro da menina Ana Clara Ferreira Silva, de 4 anos, no Cemitério Campo da Paz em Janaúba (MG) Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Tristeza e comoção marcaram o enterro de Ana Clara, de apenas 4 anos Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Parentes e amigos acompanharam o enterro da menina Ana Clara Ferreira Silva, de 4 anos, no Cemitério Campo da Paz Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Flores e mensagens de apoio foram deixadas no túmulo de Ana Clara Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Parentes e amigos prestaram as últimas homenagens a Ana Clara Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Velório de Heley de Abreu Silva Batista
Com 90% do corpo queimado, a professora Heley foi velada com caixão fechado Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Heley de Abreu Silva Batista
Segundo familiares, a professora Heley de Abreu Silva Batista, de 43 anos, já havia perdido o filho mais velho, afogado na piscina de um clube, há cer... Foto: Tiago Queiroz/EstadãoMais
Heley de Abreu Silva Batista
Heley deixou outros três filhos, um bebê de um ano e dois adolescentes, além do marido Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Velório de Heley de Abreu Silva Batista
'Foi uma heroína. Nossa família é de professores e, quando assumimos uma sala de aula, damos a vida pelos alunos, no sentido figurado. Ela deu, de fat... Foto: Tiago Queiroz/EstadãoMais
Velório de Heley de Abreu Silva Batista
'Ela amava todas as crianças como se fossem filhas delas', afirma a professora Doralice de Abreu, colega de Heley de Abreu Silva Batista Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Velório de Heley de Abreu Silva Batista
Segundo testemunhas, a professora Heley tentava socorrer as crianças em meio ao incêndio, quando percebeu que o vigilante estava retornando ao local, ... Foto: Tiago Queiroz/EstadãoMais
Velório de Heley de Abreu Silva Batista
Crianças levaram flores para homenagear a professora Heley de Abreu Silva Batista Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Janaúba
O prefeito de Janaúba, Carlos Isaildon Mendes (PSDB), acompanhou os resgates e homanagens às vítimas do incêndio criminoso na creche Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Janaúba
O coronel Primo, do Corpo de Bombeiros, foi um dos responsáveis por resgatar as crianças atingidas pelas chamas na creche Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Desde que era feto, Ana Clara teve a companhia do irmão gêmeo Victor Hugo. Na quinta-feira do ataque à creche Gente Inocente, no entanto, os dois não estavam juntos. Com sintomas de conjuntivite, o menino tinha ficado em casa, onde recebeu a notícia da morte da irmã, carbonizada. “Poderia ter acontecido com os dois”, disse o avô materno Antônio Ferreira, de 55 anos.
Com Ana Clara, o casal de desempregados tem, ao todo, seis filhos. Dois deles, um de 3 e outro de 6 anos, também estavam na unidade na hora em que o vigilante surpreendeu crianças e professores e ateou fogo no lugar. Ambos inalaram fumaça e precisaram ser internados por intoxicação na Santa Casa de Montes Claros, mas o quadro é estável, segundo parentes.
“A gente fica sem chão, pede a Deus que não aconteça, mas chega uma hora que tem de desapegar também e seguir a vida”, disse o avô. “Ana Clara era uma menina excelente: divertida, brincalhona, inteligente. Foi a única que não deu trabalho para ir para a escola.”
Com queimaduras no rosto e espalhadas pelo corpo, a menina foi velada em casa, que fica em uma área de terra batida, a poucos metros de distância da creche. De lá, o corpo da criança seguiu em cortejo, sendo acompanhado por um ônibus escolar com mais de 30 pessoas.
Segundo familiares, Victor Hugo, que não foi ao cemitério, manteve-se quieto, sem falar, ao lado do caixão. “Ele só ficou quietinho, sem sair do lugar”, disse o avô paterno Jovecino da Silva, de 51 anos.
Sorrindo
Também perto da creche, mora Jelikele Soares, de 29 anos, mãe de Ruan Miguel Soares Silva, de 4 anos, um dos que nem sequer conseguiram ser socorridos. “Reconheci meu filho pelos dentes. Ele era muito feliz, morreu sorrindo”, disse a mãe, aos prantos.
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O menino era conhecido na vizinhança por sempre estar brincando na rua, onde gostava de jogar futebol e andar de bicicleta. Para dormir, fazia o ombro direito de Jelikele como travesseiro. “Ele só conseguia dormir comigo, abraçado.” Ao saber do ataque, a mãe correu até a escola, mas não teve notícias e foi barrada pelo cerco policial que já havia se formado. “Me desesperei”, afirmou. “Se o homem quisesse morrer, que morresse. Mas que deixasse os bichinhos em paz.”
Ruan Miguel era filho único de Jelikele. A mãe agora decidiu presentear com uma foto dele todas as pessoas que vão vê-la. “Não quero olhar para os cantos da casa e ficar lembrando.”