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Por R$ 6 a hora, 100 km diários

Sem direito a benefícios, motoboys aumentam a produtividade das empresas; em SP, são entre 150 mil e 300 mil

Por Humberto Maia Junior e Rodrigo Brancatelli
Atualização:

A cidade tem entre 150 mil e 300 mil motoboys - um fenômeno tipicamente paulistano, quase clandestino, que surgiu em meados da década de 80 sem nunca contar com regulamentações, registro em carteira, benefícios, direitos, sindicatos fortes ou mesmo estatísticas precisas. Por cerca de R$ 6 a hora, eles percorrem algo em torno de 100 quilômetros por dia e agüentam chuvas, patrões abusivos, clientes apressados, gorjetas minguadas e nenhum tipo de segurança. É uma profissão de muitas dúvidas e apenas uma certeza: sem os entregadores sobre rodas, a máquina financeira, estatal e social de São Paulo acabaria engessada. Para o documentarista Caito Ortiz, que pesquisou os aspectos da vida dos motoqueiros para o documentário Motoboys - Vida Loca, eles acabaram se transformando em um grupo vital para a sociedade moderna, fiel entre si, independente, rebelde e com sua própria ética e moral. "Na guerra urbana entre motoristas de automóveis e motoboys, uma espécie de luta de classes que acontece nas ruas da cidade, não há inocentes", diz. "São Paulo tem uma coisa cultural da pressa, da rapidez, e os motoboys são a materialização dessa nossa mentalidade." Para o presidente do Sindicato dos Motofretes, Aldemir Martins, "quando temos necessidade é fácil cobrarmos velocidade". "Muitos motoristas xingam os motofretes nas ruas", diz. "Mas à noite eles vão pedir algo para matar a fome e quem entrega pode ser o mesmo que ele xingou antes." A importância dos motoboys é ainda maior do que garantir uma pizza quente. O economista Alex Agostini diz que o uso dos motoboys aumentou a produtividade de muitas empresas. "Eles realizam um serviço importante e deixam os processos mais rápidos", diz. "Com isso, a economia ganha dinamismo e produtividade." AGRESSIVIDADE Apesar da importância, há também o lado do motorista do automóvel que é obrigado a conviver com as buzinas incessantes das motos e - possivelmente - com os espelhinhos retrovisores quebrados. Para o consultor de trânsito Horácio Figueira, nada justifica a postura agressiva dos motoboys. "Grande parte dos motociclistas tem comportamento irresponsável, agressivo e suicida", diz Figueira, que não concorda com a idéia de que a moto tenha mais mobilidade que os outros veículos. "A moto só tem vantagem se desrespeitar o Código de Trânsito Brasileiro (CTB)." O consultor critica o veto ao artigo 56 do CTB, durante sua criação, em 1997. O artigo proibia claramente a passagem das motos entre veículos. De acordo com Figueira, vários artigos no código são bem claros na proibição de atos bem típicos dos motociclistas, como o ziguezague. "O CTB não prevê interfaixas até porque as larguras das ?faixas de trânsito? devem guardar distância lateral entre veículos, por segurança, como definem as normas nacionais e internacionais de engenharia de tráfego", explica. "Por isso, o espaço onde elas circulam (entre os veículos) não está no CTB." Há dois anos, ele fez uma pesquisa em três cruzamentos. E descobriu que, apesar de representarem 3,14% do total analisado (41.340), as motos de entregas foram responsáveis por 20,43% dos casos de desrespeito ao semáforo e 36,70% das conversões sem sinalização.

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