Porteiro acusado de matar ex-ministro do TSE dá detalhes do crime

Em depoimento de mais de oito horas, Leonardo Alves diz que agiu apenas com ajuda de um cúmplice

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Por Vannildo Mendes
Atualização:

BRASÍLIA - Em depoimento de mais de oito horas à delegada Deborah Menezes, da 8ª DP, ao qual o Estado teve acesso, o ex-porteiro Leonardo Campos Alves, autor confesso do assassinato do ex-ministro do TSE José Guilherme Villela, morto com 73 facadas junto com a mulher e a empregada, deu detalhes que tornam incontestável a participação dele e do cúmplice Paulo Cardoso Santana no crime. Ele descreve a posição dos corpos, apetrechos usados pelas vítimas e até a "blusa azul claro de mangas compridas e calça social de cor escura" que a mulher do ex-ministro vestia.

 

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Com realismo de romance policial, ele narrou também como, alguns meses depois do crime, começou a trocar os dólares roubados do casal Villela, depois que o dinheiro obtido com a venda das joias acabou e ele se viu pressionado pelo comparsa. O depoimento, prestado na noite de quarta-feira, segundo a delegada, é coerente com o que foi prestado nesta tarde por Santana, em Montalvânia (MG), onde está preso por outro homicídio. Santana revelou até onde jogou as facas usadas no crime, num rio perto de Montes Claros (MG). A única diferença é que revelou ter lavado as mãos e limpado os vestígios de sangue da roupa antes de sair da casa das vítimas.

 

Ouvido no mesmo dia de Alves, também em Montalvânia, o lavrador Neilor Teixeira da Mota, tio de Santana, contou à polícia como o sobrinho tornou-se um fanfarrão gastador e mulherengo após o crime. Pressionado pelo tio para revelar a origem do dinheiro que esbanjava em bebedeiras, drogas e programas com mulheres, ele acabou confessando o assassinato de Villela e deu detalhes sórdidos. "Quando ele (Villela) caiu no chão (Santana) começou a esfaqueá-lo com muitas facadas e quanto mais esfaqueava, mais dava vontade de esfaqueá-lo, chegando a dizer que tinha pepinado o velho todo."

 

Enquanto a Polícia Civil se engalfinhava em Brasília atrás de pistas falsas e prendia inocentes, Alves e Santana vendiam joias e dólares roubados do casal Villela em Montes Claros. Citado como suspeito desde o início, o ex-porteiro foi intimado duas vezes ainda na primeira fase do inquérito pela delegada Martha Vargas da 1ª DP. Ele veio a Brasília, contou uma mentira à delegada, que se deu por satisfeita, retirou seu nome do rol de suspeitos e ainda pagou suas passagens de ida e volta com dinheiro público.

 

Perdida, Martha recorreu aos serviços de uma vidente, que a levou a prender três inocentes, em cuja casa foi "plantada" uma prova falsa - uma chave da casa dos Villela. Mais tarde a perícia comprovou que a chave era a mesma fotografada pela polícia quando os corpos foram encontrados em 28 de agosto de 2009. Depois disso, Martha foi afastada do cargo e agora responde processo administrativo. O inquérito passou para a Coordenação de Investigação dos Crimes contra a Vida (Corvida), que apontou a arquiteta Adriana Villela, filha do casal, como única suspeita do crime.

 

O Ministério Público acatou o relatório da Corvida e denunciou Adriana à Justiça, que por sua vez recebeu a denúncia e estava prestes a marcar a data do julgamento, quando a prisão do ex-porteiro deu uma reviravolta no caso. Alves disse que os dois agiram sozinhos e que não há mandantes no crime. A guerra de versões aprofundou a crise na Polícia Civil.

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Nesta quinta, o juiz Fábio Esteves, do Tribunal do Júri, determinou que a 8ª DP saia do caso e entregue todo o material apurado à Corvida, que passa a ser única titular do inquérito. Deborah está inconsolável e disse que vai recorrer. "Esse tipo de guerra é nociva à sociedade e à justiça", afirmou. "Tudo o que fiz foi contribuir para apurar um crime que caminhava para ficar na impunidade", explicou a delegada. 

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