Porto Alegre terá tarifa de ônibus reduzida, mas contabiliza destruição e 44 detenções

Prefeito José Fortunati anunciou que o executivo municipal vai remeter à Câmara um projeto isentando o transporte coletivo do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN)

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Por Lucas Azevedo
Atualização:

PORTO ALEGRE - O dia seguinte à maior manifestação de rua realizada em Porto Alegre nos últimos 30 anos está sendo de celebração e contagem de prejuízos. Por um lado, a marcha que reuniu cerca de 12 mil pessoas pelas ruas da capital gaúcha na noite dessa segunda-feira garantiu uma vitória aos seus participantes: a tarifa dos ônibus municipais será reduzida. De outro, há marcas de vandalismo e barbárie em grande parte da região central.

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Nesta manhã, o prefeito José Fortunati (PDT) anunciou que o executivo municipal vai remeter à câmara de vereadores um projeto isentando o transporte coletivo do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN). A tarifa passará para R$ 2,80. Entretanto, o prefeito diz querer ir além e solicitar ao governador Tarso Genro (PT) que isente o óleo diesel do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), manobra que pode fazer com que a passagem caia para R$ 2,70.

Atualmente o preço está congelado em R$ 2,85 por uma liminar da Justiça, que, em abril, derrubou o aumento que chegou a R$ 3,05.

“A prefeitura está abrindo mão de 15 milhões anuais e sem orçamento. Alguém paga conta. Estamos abrindo mão de um tributo”, ressaltou Fortunati.

A conquista, porém, teve um custo alto para a cidade. Nesta manhã, Porto Alegre contabiliza a destruição iniciada por um pequeno grupo que participou da marcha na noite passada. Lojas foram saqueadas, bancos tiveram as vitrines quebradas e cerca de 50 contêineres de lixo foram depredados, muitos deles queimados. O pior ficou por conta de dois ônibus destruídos: um completamente queimado e outro seriamente danificado a pauladas e pedradas,ambos na avenida João Pessoa, uma das principais da cidade.

Conforme a polícia, 44 pessoas foram detidas, entre elas nove adolescentes.

Marcha - A manifestação teve origem em frente à prefeitura, às 18h, para, depois, a marcha seguir pelas avenidas Borges de Medeiros, Salgado Filho e João Pessoa. Além de muitos jovens, crianças – algumas de colo – e idosos participaram da caminhada, com intuito não só apenas de baixar o preço da passagem, mas protestar contra a corrupção e os gastos exacerbados com a Copa do Mundo. Das janelas dos prédios, moradores acenavam em apoio.

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Porém, um número reduzido de participantes, em sua maioria com os rostos tapados, seguiu pelo trajeto pichando paredes, quebrando vitrines e derrubando contêineres de lixo. Cada ação dos baderneiros era repreendida pelo grosso da marcha que, inclusive, desvirava os depósitos de lixo espalhados pelas ruas.

O estopim do confronto ocorreu na esquina das avenidas Ipiranga e João Pessoa. Um pequeno grupo de jovens mascarados começou a pixar a vitrine de uma concessionária de motocicletas. Insatisfeitos, quebraram as grandes vitrines do estabelecimento e jogaram uma bomba caseira para dentro. Em seguida, um a um invadia o local para derrubar as motos e saquear equipamentos dos expositores, como capacetes.

Sem se intimidar pela horda, armada de pedras e pedaços de pau, um rapaz, integrante da marcha, se posicionou entre os vândalos e a loja, tentando impedir suas ações. Diante do olhar incrédulo de centenas de pessoas, os baderneiros foram, aos poucos, deixando o local. 

Ao mesmo tempo, a marcha mudou o rumo e seguiu pelas duas vias da Ipiranga – larga avenida com duas pistas de três faixas cada. A algumas dezenas de metros adiante, o Batalhão de Choque da Brigada Militar estava posicionado. Para conter a fúria de poucos manifestantes, que chegaram a jogar um rojão dentro de um posto de gasolina, os policiais começaram a atirar bombas de gás lacrimogênio. 

A partir daí começou o confronto,que se espalhou pela região central de Porto Alegre, indo parar, no fim da noite, com as últimas prisões em frente ao Palácio Piratini, sede do governo estadual, e à assembleia legislativa, onde um grupo tentou invadir o prédio. 

Destino - Na tarde desta terça-feira ocorrerá uma assembleia que decidirá o destino do movimento na cidade. Convocado pelas redes sociais, o encontro está marcado para às 18h, na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados do Rio Grande do Sul, na rua Washington Luiz, 186.

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