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Prefeito de Unaí é processado por trabalho escravo no Pará

Por Agencia Estado
Atualização:

O prefeito de Unaí (MG), José Braz Silva, está sendo processado pela Justiça do Trabalho no Pará e deverá ser julgado até o final deste mês pela acusação de manter trabalhadores em regime de semi-escravidão na Fazenda Boa Esperança, de sua propriedade, localizada em Parauapebas, no sul do Estado. Foi no município de Unaí que há uma semana três auditores do Ministério do Trabalho foram assassinados a tiros em emboscada de pistoleiros quando investigavam a existência de trabalho escravo na região. Se no julgamento no Pará o prefeito for condenado, ele terá que pagar multa de R$ 280 mil. O dinheiro será repassado para o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O trabalhador rural José Antonio Amorim, que trabalhava na fazenda de Braz Silva desde 1996, procurou em 2000 a Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Marabá para denunciar o que considerava péssimas condições de trabalho. Em dezembro daquele ano, uma equipe do Ministério do Trabalho, acompanhada da Polícia Federal e do Ministério Público, esteve na fazenda, mas quando chegou ao local, não encontrou mais os trabalhadores. Os fiscais encontraram, porém, um caderno de anotações das compras feitas pelos trabalhadores na cantina da fazenda. As anotações revelaram que os peões compravam, além de alimentos, equipamentos para o trabalho, como botas. Ficou também comprovada a ação dos chamados "gatos"- pessoas que ganham dinheiro para aliciar trabalhadores. No caderno da contabilidade havia o item "dinheiro para buscar peão". Os peões foram encontrados no mesmo dia às proximidades da fazenda e confirmaram em depoimento todas as informações contidas no caderno. Eles contaram que pagavam ao patrão até pelo plástico usado para cobrir o barraco onde dormiam. Um trabalhador informou que a bota, que na cidade era vendida a R$ 9, na cantina da Boa Esperança, custava R$ 12. As péssimas condições de trabalho na fazenda de Braz Silva impressionaram a equipe de fiscalização. Os trabalhadores não tinham direito a água potável. Recorriam a água de um igarapé para lavar roupa, louças, tomar banho e beber. De acordo com relatório do Ministério Público do Trabalho, os trabalhadores dormiam em um alojamento sem paredes, coberto apenas com lona preta. As necessidades fisiológicas eram feitas no mato. Não havia refeitório e o almoço era servido no próprio barraco. Segundo os trabalhadores, eles comiam sentados no chão ou em troncos de árvores. José Amorim disse que o prefeito de Unaí costumava dizer: "peão é bicho bruto. Não vou construir hotel cinco estrelas para peão".

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