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Prefeito diz que Assis Brasil já gastou mais de R$ 1 milhão com imigrantes e pede socorro

Apesar de doações de parceiros, faltam itens de primeira necessidade como absorventes, fraldas e até água

Por João Renato Jácome
Atualização:

As autoridades de Assis Brasil contam com o apoio de parceiros estratégicos para manter o abrigo improvisado para imigrantes estrangeiros em funcionamento. Além das doações enviadas pela Secretaria de Estado de Assistência Social, dos Direitos Humanos e de Políticas para Mulheres (Seasdham), incluindo R$ 120 mil, colchões, fraldas e cestas básicas, há ainda as ONGs que apoiam o acolhimento dos estrangeiros.

A responsável pela Cáritas na cidade, Marilene Lourdes de Araújo, diz que a Igreja Católica tem recebido apoio do comércio da cidade e de várias instituições locais e até de organismos internacionais que estão preocupados com o cenário migratório sediado em Assis Brasil. “Sozinhos, nós não teríamos como apoiar essas mais de 500 pessoas que recebemos. Foi colocado colchão até na igreja, porque estava tudo lotado”, afirma.

Refugiados fazem suas refeições coletivas com doações que recebem Foto: Odair Leal/Estadão

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A situação insalubre com a qual convivem os migrantes, segundo Marilene, está sendo acompanhada de perto pela equipe social do movimento. “Nós mandamos água para eles beberem hoje, porque não estávamos sabendo dessa falta. A água deu um problema na bomba da cidade, e todos ficaram sem ela”, explica.

Marilene Araújo, conhecida em toda a cidade pela peregrinação em busca de apoio aos imigrantes, reafirma que materiais de higiene pessoal, de limpeza e fraldas descartáveis, além de máscaras faciais e álcool líquido e em gel, são essenciais para a continuação do trabalho do colegiado da solidariedade.

“Esses materiais acabam rapidamente. A gente entrega hoje, e amanhã já estão precisando de mais. Todo dia está chegando gente. No momento, o nosso estoque de higiene pessoal acabou. A gente só tem pasta de dente, escova e até fralda não tem mais. O absorvente a gente sempre entrega, mas acabou. Algumas pessoas tiveram roupas roubadas e chegaram aqui sem nada, e nós precisamos conseguir para entregar”, relata a assistente social.

Ainda segundo Marilene, com a fronteira fechada e sem condições de emitir a documentação de entrada no Brasil, 76 estrangeiros deixaram Assis Brasil na última semana, se arriscando pelas estradas. “Aqui teve gente que ficou seis meses no abrigo. É uma situação de calamidade, e a gente orienta, mas não tem mais como controlar essa situação. A gente precisa de ajuda mesmo”, frisa.

Autoridades pedem socorro

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Segundo apurou o Estadão, o número de imigrantes que já passaram legalmente pela fronteira desde o início do êxodo venezuelano é de quase 45 mil pessoas. O quantitativo, atualizado diariamente, faz referência aos estrangeiros de 36 países diferentes que pediram refúgio ao governo brasileiro e tentam uma nova vida no país.

A secretária de Assistência Social, dos Direitos Humanos e de Políticas para Mulheres do Acre, Ana Paula Lima, avalia que apesar de os venezuelanos entrarem no país pelo Acre, Roraima ainda é uma forte referência para a maioria dos migrantes. Um grupo de trabalho foi criado pelo Estado para avaliar a situação dos migrantes e viabilizar o auxílio necessário às famílias.

RIo Acre percorre a divisa entre o Brasil e Peru em Assis Brasil Foto: Odair Leal/Estadão

“Quanto à rota, os migrantes vindos diretamente da Venezuela continuam adentrando ao Brasil por Roraima. A maioria que chega diretamente pelo Acre, já vem de outros locais, como o Peru. O Estado assegura acolhimento temporário em condições dignas e de segurança aos imigrantes”, esclarece a gestora estadual, que lembra o envio de recursos materiais e financeiros ao município.

O prefeito de Assis Brasil, Antônio Zum (PSDB), diz que não sabe mais a quem recorrer e que, sozinho, o município já gastou mais de R$ 1 milhão para dar assistência aos imigrantes. A prefeitura tem custeado, com recursos próprios e doações, três refeições diárias, sendo café, almoço e janta. A equipe social também está direcionando os doentes às unidades de saúde e garantindo os medicamentos.

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“Antes eram pessoas que estavam saindo do Brasil em busca de outros países. Agora um novo fluxo traz essas pessoas para Assis Brasil. Estão enchendo as escolas, e não conseguimos dar conta disso. Estou pedindo apoio, estou pedindo ajuda. A gente está sofrendo bastante com isso. É uma situação muito difícil, muito delicada, e não sabemos mais a quem recorrer a partir daqui”, desabafa o prefeito.

A secretária nacional da Família, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Angela Vidal Gandra, em visita ao Acre no final de outubro, foi a Assis Brasil e participou de uma reunião com equipes do governo do Acre e da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Acre (OAB/AC) para tratar sobre a situação dos venezuelanos.

Para a secretária nacional, cada fronteira tem sua especificidade e precisa ter um tratamento adequado à sua realidade. “Aqui no Acre, nos chamou atenção a saúde básica. É necessário viabilizar vacinas e outras questões que amparem o bem-estar dos imigrantes. Estamos aqui exatamente para saber no que podemos ajudar”, pontuou Gandra durante o encontro.

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