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Preservação das árvores em praça de SP causa briga

Por Agencia Estado
Atualização:

Quem preservou as árvores da praça D. José Gaspar, que agora a Prefeitura quer derrubar, foi Prestes Maia que, quando prefeito, concluiu as obras da Biblioteca Mário de Andrade. A árvore mais significativa para o ex-prefeito, porém, uma imensa figueira, foi derrubada em janeiro, no início da gestão Marta Suplicy, pela própria Prefeitura. Era uma imensa figueira na avenida Vieira de Carvalho e foi ao pé daquela árvore que, em 1937, o jovem engenheiro Prestes Maia começou a namorar uma cantora lírica portuguesa, a qual viria a ser sua companheira por muitos anos, depois esposa e tão apaixonada como ele pela preservação da natureza, Maria de Lourdes Abreu Prestes Maia. Quem conta essa história é a única filha do prefeito, Adriana Prestes Maia. Ela ontem telefonou para O Estado para confirmar a mudança do projeto da Biblioteca para preservar uma árvore, e para dar detalhes sobre a estátua de um fauno nú, tocando flauta que, na gestão de seu pai, foi colocado no que fora o jardim do Palácio Episcopal, que existia na avenida São Luiz. A colocação do fauno no local onde anteriormente existira o coreto no qual se sentava o arcebispo D. Duarte Leopoldo e Silva para ler o breviário, irritou a sociedade paulista de então, extremamente católica e Adriana confirma o fato, mas conta que "minha mãe achava muito engraçado, não entendia a reação popular pois, dizia, o fauno é um objeto de arte". Ainda segundo a filha de Prestes Maia, seu pai chegou a escrever um artigo defendendo a manutenção do fauno, mas ele não o enviou aos jornais, ainda está guardado. Nele, o ex-prefeito diz não ser verdade que o cardeal rezava no mesmo local onde estava o fauno, "alí o cardeal fazia outras coisas, pois era o banheiro da casa", escreveu Maia. Também segredo até agora é que depois de conhecer a futura esposa quando ela chegou ao Rio de Janeiro para cantar, Prestes Maia passou a escrever cartas apaixonadas e, em várias, se identificava com um desenho cuidadoso, feito à margem do papel: um pequeno fauno. Foi em parte por causa dessas cartas que o namoro progrediu. Maria de Lourdes veio cantar em São Paulo, gostou da cidade, ficou, morando justamente na esquina da praça da República com a avenida Vieira de Carvalho. Ela saía de casa no fim das tardes, sentava-se junto a uma imensa figueira e aí ía encontrá-la o futuro prefeito, para longas conversas de namorado. A figueira marcou tanto Maria de Lourdes que quando Maia precisou alargar a avenida, ela pediu que mudasse levemente o projeto e poupasse a árvore. E o prefeito concordou. Protestos contra a derrubada - A figueira sobreviveu por 50 anos, até que há poucos meses o engenheiro agrônomo Onélio Argentino Júnior eliminou a árvore, junto com algumas paineiras, argumentando que era preciso "uniformizar a pasagem da avenida", deixando apenas uma linha de paus-ferro pouco frondosos. A reação popular foi imediata, até os taxistas da região se manifestaram, reclamando da perda das árvores frondosas e não adiantou a Regional da Sé garantir que as árvores seriam replantadas na avenida Ipiranga. Houve tanta grita, que a Prefeitura afastou o engenheiro. Esse não foi um caso único, porém, a atual gestão municipal está acumulando problemas por causa do corte de árvores. A avenida Hélio Pelegrino, aberta na gestão de Luiza Erundina e que foi arborizada com quaresmeiras, aroeiras, patas-de-vaca e até mangueiras, está perdendo boa parte de sua flora por causa de um projeto da Emurb, que está substituindo a vegetação por centenas de palmeiras, justamente uma espécie evitada na arborização, desde que a proliferação descontrolada de uma lagarta passou a destruir as folhas de quase todas as espécies de palmeiras. O Esporte Clube Pinheiros, que tem algumas dessas árvores, centenárias, só consegue mantê-las com alto custo, usando máquinas sofisticadas que lançam o veneno a 30 metros de altura, na copa das palmeiras. Trabalho destruído - Também no trecho novo da avenida Faria Lima a Prefeitura provocou a reação popular ao anunciar que seria eliminado, e depois que seria apenas remanejado o jardim plantado há seis anos pelo Colégio Palmares, que gastava R$ 2.500,00 mensais na manutenção de dama-da-noite, jasmineiros, figueiras, para que no local sejam plantadas centenas de palmeiras ao longo da avenida. A Emurb explicou que a reforma é necessária "para manter o padrão da avenida", e seu custo será de R$ 1,4 milhão e também na Faria Lima ainda ontem operários da Prefeitura faziam a poda radical de algumas frondosas patas-de-vaca, para dar lugar às palmeiras.

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