Presidiários trocam cartas sobre religião com associação islâmica

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Por Redação
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Na sede da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) no Jabaquara, zona sul de São Paulo, centenas de cartas chegam mensalmente pelo correio com as mais diversas perguntas sobre o Islã. Os remetentes são presidiários de todo o Brasil, em lugares como a Penitenciária do Coari, no Amazonas; o Complexo Lemos de Brito, em Salvador; e os presídios de Mirandópolis e Itirapina, no interior paulista. Endereçadas à Fambras, as mensagens são lidas por uma funcionária e entregues aos sheiks mais experientes da organização, responsáveis pelas respostas e orientações aos presos.

Cerca de 50 presidiários, em todas as regiões do País, trocam correspondências com a Fambras atualmente. Por meio das cartas, pedem livros sobre o islamismo, tapetes e vestimentas para oração. Também tiram dúvidas espirituais sobre os dogmas do Alcorão. Pelo menos metade dos correspondentes - homens e mulheres - já se converteu ao Islã dentro das prisões. Esse número pode ser ainda maior, pois ao menos duas mesquitas na região metropolitana de São Paulo relatam que também recebem cartas de presidiários e enviam material de estudo e reza quando solicitado.

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“O que eu tenho visto são pessoas que dizem estar abandonadas”, diz o sheik moçambicano Yussufo Omar, que trabalha na federação e ajuda a responder às cartas. “Eles dizem que estão procurando ficar tranquilos e sair da prisão com uma mente que não é como antes e, sim, uma pessoa normal e aceitável.”

A Penitenciária Feminina de Santana, na zona norte da capital, teve no começo deste ano uma visita do coordenador do projeto e diretor de assuntos islâmicos da Fambras, o sheik Khaled Eldin. A intenção era atender muçulmanas que já trocavam cartas com a instituição, até mesmo seis marroquinas que estão no presídio desde 2011. Tapetes, roupas de oração e livros foram distribuídos. Também foi realizada palestra sobre os preceitos do Alcorão às interessadas. 

A Fambras pretende organizar novos eventos para divulgar a religião dentro de presídios no futuro, mas diz que ainda não há planejamento para isso. Eldin afirma que seu trabalho não envolve pregação, apenas atende à demanda de quem já está interessado no islamismo. “O objetivo desse projeto não é que as pessoas abracem a religião, mas é a apresentação da verdadeira imagem do Islã.”

Nos Estados Unidos, desde o fim da década de 1940 existem programas que divulgam o Islã em prisões. Há aproximadamente 350 mil prisioneiros muçulmanos no país, de acordo com relatório de 2013 do Institute of Social Policy and Understanding (ISPU). 

A conversão ao islamismo em presídios da Europa já foi associada ao terrorismo em casos isolados. Chérif Kouachi, um dos irmãos que invadiu a sede do jornal francês Charlie Hebdo, teria sido recrutado para o extremismo enquanto estava prisão. Isso fez com que o governo francês permitisse até mesmo mais visitas de religiosos muçulmanos a presídios com a intenção de combater o radicalismo. A iniciativa é similar aos programas americanos. Mas, na França, o governo optou por dialogar diretamente com os sheiks e mesquitas, que não são representados por grandes associações como nos Estados Unidos. A Fambras é enfática ao dizer que suas orientações a presidiários brasileiros é a de seguir preceitos pacíficos.

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