Preso miliciano acusado de tortura

Policial que está foragido foi identificado como líder da milícia no Batan, onde jornalistas foram torturados

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Por Pedro Dantas
Atualização:

Policiais da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas do Crime Organizado (Draco)prenderam o primeiro miliciano acusado de envolvimento na tortura da equipe de reportagem do jornal O Dia e de um morador na Favela do Batan, em Realengo, zona oeste do Rio, ocorrida em 14 de maio. De acordo com o delegado-titular da Draco, Cláudio Ferraz, as vítimas identificaram e investigações confirmaram que David Liberato de Araújo, de 32 anos, conhecido como 02, preso ontem, participou da sessão de tortura - que teria sido presenciada por mais de 20 pessoas. O chefe da milícia na Batan, que comandou o crime, foi identificado como o inspetor da 22ª Delegacia de Polícia da Penha, Odinei Fernando da Silva, de 35, conhecido na favela como 01, Dinei ou Águia. Ele está foragido. "Temos informações que eles lideram a milícia (na Batan) e os repórteres informaram que, pelo tipo físico, pela postura e outras informações que constam no depoimento, eles participaram da tortura", disse o delegado. Os dois milicianos identificados pela polícia foram criados na Favela do Batan. Araújo cumpria pena em regime semi-aberto na Colônia Penal Agrícola de Maricá por receptação, após comprar um carro roubado, e também respondia a uma acusação por furto. "Não fiz nada disso que estão falando. No dia em tudo aconteceu eu estava no presídio", disse o acusado. Conforme o delegado, ele atuava como miliciano nos dias em que saía da penitenciária. O acusado foi transferido para regime fechado no Presídio Plácido de Sá, em Bangu. O delegado disse que a divulgação da sessão de tortura sofrida pelos jornalistas pela imprensa, no domingo, atrapalhou a prisão do inspetor Dinei, apontado como o chefe da milícia. "Tínhamos conhecimento que a peculiaridade do envolvimento dos jornalistas no caso pressionaria e por isso aceleramos ao máximo as investigações", disse Ferraz. O policial já sabia do mandado de prisão e não compareceu ao trabalho hoje na 22ª DP. O delegado reconheceu que relatórios da Anistia Internacional haviam alertado o governo do Rio sobre a crueldade do inspetor quando era agente penitenciário. "Ele se envolveu em um caso de homicídio e em diversas outras violências contra presos", afirmou. O chefe de Polícia Civil, Gilberto Ribeiro, informou que Dinei foi reprovado no concurso para a Polícia Civil, mas conseguiu assumir o cargo por meio de uma liminar. Ribeiro pediu critérios mais rígidos ao Judiciário na concessão das liminares. As investigações revelam que a milícia agia com extrema violência contra os desafetos. A Polícia Civil apura as denúncias sobre a utilização do Campo de Treinamento do Exército em Gericinó, localizado ao lado da Favela do Batan, como um cemitério clandestino pelos milicianos. MAIS POLICIAIS "Estamos em parceria com o Exército para verificar essa possibilidade do uso desse terreno enorme como área de desova", confirmou o delegado. Ferraz não descarta a prisão de mais policiais civis e militares ou de pessoas ligadas ao Poder Legislativo. Ele disse novamente que um dos torturadores se identificou como assessor parlamentar do deputado estadual Coronel Jairo (PSC). "A repórter identificou a voz dele quando estava com a cabeça coberta por um saco plástico. Ele comentava com os outros algozes que tinha dado uma cantada nela na favela", contou o delegado. O deputado estadual negou ontem qualquer envolvimento de assessores dele com milicianos. Sobre a sessão de tortura, o delegado revelou que o objetivo dos criminosos era a busca de informações. "Eles utilizaram a técnica de não deixar marcas até para evitar um eventual e futuro questionamento. Tanto que eles tiveram a preocupação de tirar os brincos da repórter, de aplicar brutalidades que não deixassem marcas físicas, já que as psicológicas são difíceis de se apurar materialmente", disse Ferraz. Após a tortura, os milicianos obtiveram as senhas dos computadores dos jornalistas, viram e leram o conteúdo de textos e fotos. Parte do equipamento estava na casa de outros moradores na favela.

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