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Presos impedem entrada de novos detentos em Lorena

Na cadeia, celas maiores têm 25 pessoas onde cabem 6; nas menores, não há banheiro e os presos se revezam para dormir. Por isso não deixam entrar mais

Por Agencia Estado
Atualização:

Desesperados com a superlotação, os 114 presos da Cadeia Pública de Lorena, no Vale do Paraíba (SP), decidiram amarrar com roupas e lençóis as trancas das quatro celas para que nenhum outro preso entre no local. "Aqui, não cabe mais ninguém, não tem outro jeito", alegam. Diretor do estabelecimento prisional há 12 anos, o delegado Willy Giaconi decidiu pedir socorro à imprensa, depois de mandar ofícios à Secretaria de Segurança Pública, à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), à Associação dos Delegados de São Paulo e a outros órgãos competentes. "Não sei mais pra quem pedir ajuda. Não vou entrar em confronto com os presos para pôr mais gente. Onde cabem seis, estão 25 pessoas", revela, sem esperança. Giaconi recebeu visita de representantes da OAB e do Sindicato dos Investigadores da Polícia Civil, mas até agora nenhuma transferência foi realizada. A cadeia de Lorena tem quatro celas de 4 por 5 metros de área e outras duas pequenas celas de 1,5 metro por 2 metros. Nas maiores estão 25 pessoas, onde cabem 6. Nas menores a situação é ainda pior. Os presos não têm banheiro e urinam em garrafas plásticas. Enquanto três deitam no chão, outros três se espremem em pé na parede e um fica pendurado em uma rede improvisada no pequeno espaço. "A gente não é santo, tem de pagar, mas viver desse jeito, com este cheiro horrível, sem banheiro, sem nada, é muito ruim", reclamam os presos, diariamente. "Eles se revezam para dormir, para sentar, para comer. Tiveram de se organizar para tentar viver nisso que podemos definir como um navio negreiro", afirmou Giaconi. A maioria dos presos está com sarna e há casos de tuberculose. "Aqui, temos assaltantes, homicidas e traficantes, mas a cadeia não tem rebelião há mais de um ano e estamos todos, os presos, os funcionários, desesperados." O delegado teme uma tragédia. "Posso até ser punido por estar falando da situação, mas não temos outra saída para evitar algo ainda pior, como mortes e rebeliões."

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