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Procuradora diz que Infraero não se importa com segurança

De acordo com Suzana Fairbanks, estatal se preocupa mais em aumentar o fluxo de passageiros de Congonhas

Por Ana Paula Scinocca
Atualização:

A procuradora da República em São Paulo Suzana Fairbanks Lima de Oliveira afirmou nesta terça-feira, 7, em depoimento à CPI do Apagão no Senado, que as investigações do Ministério Público deixam claro que desde 2004 - quando foi iniciada a primeira obra de modernização do Aeroporto de Congonhas - a preocupação da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) tem sido a de aumentar o fluxo de passageiros sem levar em conta a segurança do local. "Ficou caracterizada a preocupação da Infraero de aumentar ao máximo a capacidade de recepção dos passageiros em detrimento do principal. Tanto é assim, que as obras de 2004 não incluíram nenhuma melhoria na pista principal nem na torre de controle", afirmou ela. "A única preocupação era aumentar o fluxo de passageiros do aeroporto mais utilizado pelo PIB do País." Suzana, que pediu a quebra do sigilo bancário e fiscal, além da indisponibilidade de bens, do ex-presidente da Infraero Carlos Wilson e de outros integrantes do primeiro escalão da empresa, fez outra denúncia. Ela disse que, além de ter sido deixada de lado nas obras de Congonhas, a torre de controle do aeroporto ficou com a visibilidade prejudicada depois da reforma. "A visibilidade ficou toda prejudicada, os controladores reclamaram tanto que, pedimos no início deste ano, por meio de ação, uma obra emergencial", afirmou. A procuradora também disse que pelas investigações do Ministério Público houve mesmo superfaturamento na comprados 12 fingers (ponte de embarque) do Aeroporto de Congonhas, assunto já levantado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em relatórios preliminares. Segundo Suzana, cada finger custaria R$ 630 mil, mas a Infraero orçou a unidade a R$ 2,2 milhões cada. Suzana e outros dois procuradores da República, José Ricardo Meirelles, de Campinas (SP), e Hélio Telho Corrêa Filho, de Goiás, prestaram depoimento por pouco mais de duas horas em uma sessão vazia da qual participou, por alguns minutos, um único senador: Marcelo Crivella (PRB-RJ). Fora ele, participaram apenas o presidente Tião Vianna (PT-AC) e o relator Demóstenes Torres (DEM-GO) da CPI. Os três procuradores confirmaram dados do TCU que apontam irregularidades em obras nos aeroportos de Goiânia, Viracopos e Congonhas. Entre as irregularidades mencionadas estão aditivos acima do percentual permitido por Lei (25%) e licitação dirigida. "As obras não foram fracionadas, o que restringiu a capacidade de várias empresas participarem", afirmou Corrêa Filho. O procurador mencionou ainda que pelo montante de verbas envolvidas nas reformas dos aeroportos do País pode-se suspeitar que as irregularidades "não foram praticadas por subalternos, funcionários de segundo escalão" da Infraero. "Tudo indica que também não ficou restrito ao primeiro escalão da Infraero", prosseguiu Corrêa Filho. Ele sugeriu que seja feito um rastreamento bancário para saber "quem são os verdadeiros beneficiários" das obras da Infraero. A sugestão de Corrêa Filho será prontamente acatada, segundo afirmou o relator da CPI. Demóstenes Torres. "Vamos pedir rastreamento do dinheiro e verificar quais corruptos foram beneficiados", afirmou. Demóstenes disse que os depoimentos de ontem foram "técnicos e consistentes" e que deixaram claro que "uma gangue tomou conta da Infraero". Interdição Ao final do depoimento, a procuradora da República em São Paulo insistiu na necessidade de Congonhas ser interditado até que as investigações sobre o acidente com o vôo 3054 da TAM sejam concluídas. Suzana também frisou a necessidade de que uma perícia isenta seja feita na pista do aeroporto. "Não dá para acreditar em nenhuma perícia feita por órgãos governamentais. Não acreditamos mais na Infraero", disse. Nesta quarta a CPI do Apagão no Senado ouve o ministro da Defesa, Nelson Jobim. A sessão está prevista para ter início às 10 horas.

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