''Projeto não previa aparelho pendurado''

Entrevista - Carlos Freire de Andrade Lopes: engenheiro civil; Profissional que assinou laudo sobre telhado da Renascer em 1999 diz não saber se teto era capaz de aguentar peso extra

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Por e Rodrigo Brancatelli
Atualização:

O engenheiro civil Carlos Freire de Andrade Lopes afirma que o laudo sobre o telhado da Igreja Renascer, elaborado por ele e por técnicos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em 1999, não previa a instalação de qualquer tipo de equipamento de ar condicionado, som e luz - fator que, segundo peritos ouvidos pelo Estado, pode ter sido determinante para a tragédia que matou nove mulheres e deixou mais de 100 pessoas feridas. Como foi o trabalho do senhor na reforma do teto da Renascer? Fomos contratados em junho de 1999, quando havia problemas na estrutura do teto da Renascer apontados pelo IPT e pelo Ministério Público. Esses problemas eram três: uma única treliça numa das vigas internas estava comprometida, o forro interno tinha cupim e era necessário fazer um reforço entre os dois forros. Somos uma empresa de restauração de estruturas. Fizemos o projeto e ele foi aprovado. A Igreja contratou uma empresa para executar o projeto, pois nós somos só projetistas. Ainda acompanhamos a execução e fizemos visitas, algumas até acompanhadas por técnicos do IPT. Em outubro de 1999, fizemos um relatório conclusivo. E desde então nunca mais ouvi falar na Igreja Renascer, não tivemos absolutamente nenhum contato. Até que ouvimos falar do acidente. O senhor escreve no laudo de 1999 que era preciso inspecionar periodicamente o teto para detectar possíveis danos causados por infiltrações ou peso excessivo. Sim. Quando terminamos o trabalho, não tínhamos nenhum tipo de vazamento. Em um telhado como esse, com o passar dos anos, podem aparecer inúmeros problemas, como fungos ou vazamentos ou mesmo a tendência de o pessoal pendurar alguma coisa. Era preciso inspecionar a madeira, ver se tinha alguma deformação excessiva, se tinha ocorrência de fungo, tudo isso. Teria que vistoriar ao longo dos anos para evitar problemas maiores. A promotora Mabel Tucunduva, da Promotoria de Habitação do Ministério Público, falou que não é normal um telhado reformado há apenas dez anos desabar desta forma. O senhor concorda com ela? Concordo plenamente. Não é normal. Na época da reforma de 1999, não trocamos as telhas, pois não era preciso. Mas, numa atmosfera ácida como São Paulo, qualquer estrutura está sujeita a ter um apodrecimento de calha ou um desnivelamento da calha, o que faz que a água caia na estrutura. Como a estrutura é de madeira, ocorre um problema patológico. Por isso a necessidade das vistorias constantes. O senhor chegou a visitar o local depois do desabamento para tentar analisar as causas da tragédia? Entrei junto com o bispo da Renascer, mas só vi de fora. Qualquer coisa que eu falar vai ser leviano. Quando o senhor fez o trabalho na Renascer, havia no teto muitos equipamentos que sobrecarregavam a estrutura? Não tinha nada de equipamentos, no cálculo tanto eu quanto o IPT trabalhamos como uma carga com os dois forros, mais a carga da telha, mais a carga de vento, tudo isso dentro das normas, o que nos obrigou a acrescentar mais 25 quilos por metro quadrado. Existia um duto que passava pelo meio da estrutura, cuja carga não era muito representativa. Não tinha equipamento de ar condicionado, nem tinha nenhum equipamento pendurado. O fato de os peritos terem visto muito equipamento pesado, então, vai contra seu projeto? O meu projeto não contemplava isso. Não existia na época nenhuma carga concentrada. Não dá para saber agora se o teto conseguia aguentar o peso do material extra.

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