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Promotor acusado de assassinato ganha cargo vitalício e se livra do júri

Ministério Público permite que Thales Schoedl volte a trabalhar, com salário de R$ 10.500, e seja julgado no TJ

Por Camilla Rigi
Atualização:

O Órgão Especial do Ministério Público Estadual (MPE) efetivou ontem Thales Ferri Schoedl no cargo de promotor de Justiça. Acusado de assassinar um rapaz e balear outro em dezembro de 2004 na Riviera de São Lourenço, litoral paulista, Schoedl, de 29 anos, ganhou direito a foro privilegiado. Assim, em vez de enfrentar júri popular, ele será julgado pelo Tribunal de Justiça. Além disso, voltará às suas atividades de promotor substituto e continuará a receber o salário de R$ 10,5 mil.   Dê sua opinião sobre a decisão Schoedl matou a tiros o estudante Diego Mendes Modanez, de 20 anos, e feriu o estudante Felipe Siqueira Cunha de Souza, que na época tinha 20 anos. O crime aconteceu na saída de uma festa. O promotor disparou 12 tiros em Modanez e Souza. Em depoimento, disse que voltava para casa com a namorada Mariana Uzores Batoleti, então com 19 anos, quando um grupo de mais de dez rapazes passou a mexer com a moça. Schoedl afirmou que agiu em legítima defesa. Apesar da repercussão do assassinato, o julgamento de ontem não levou em consideração o caso de Bertioga. O que se analisava era a conduta profissional de Schoedl antes do crime. Dos 42 procuradores membros do Órgão Especial, 40 podiam votar, mas só 31 compareceram à sessão - 16 optaram por manter Schoedl no cargo e 15 foram contra. ''''É lamentável. Ele não tem condições de permanecer na carreira. Demonstrou que não tem capacidade para trabalhar como promotor'''', disse o procurador-geral de Justiça do Estado, Rodrigo Pinho, chefe do MPE, que ofereceu a denúncia contra Schoedl. Os nomes dos procuradores que votaram pela permanência do promotor não foram divulgados. Pinho informou que é possível questionar o resultado do julgamento no Conselho Nacional do Ministério Público. ''''A solução é o controle externo. A própria família poderá entrar com um pedido de providências e já confirmou que vai fazer isso.'''' ''''DESTEMOR'''' Agora , Schoedl será julgado pelo Órgão Especial do TJ, formado por 25 desembargadores (os 12 mais antigos, 12 eleitos e o presidente do tribunal). Nas alegações finais encaminhadas ao TJ, os advogados de Schoedl pediram ''''que se faça Justiça com destemor e independência, com base na prova dos autos, e não no sensacionalismo da imprensa!''''. O advogado de Schoedl, Ovídio Rocha Barros Sandoval, disse que o promotor ''''ganhou uma parada'''' com a decisão de ontem. Sandoval argumentou que no julgamento o que estava em questão era a parte administrativa e, nesse aspecto, nada havia contra seu cliente. ''''Não se poderia jamais, num processo administrativo, examinar questões criminais.'''' Os parentes das vítimas saíram do MPE inconformadas. O advogado das famílias, Pedro Lazarini, disse que pretende transformar uma denúncia já feita à Organização dos Estados Americanos (OEA) numa representação de possível violação de convenções internacionais. ''''Sinto-me impotente.'''' Segundo Pinho, o promotor trabalhará em Jales, interior. ''''A decisão deve ser cumprida e ele vai ser tratado como qualquer promotor'''', garantiu, sem descartar a hipótese de Schoedl atuar na área criminal. AS INDAS E VINDAS DO CASO *30 de dezembro de 2004 - O promotor de Justiça Thales Ferri Schoedl é preso em flagrante acusado de matar o jogador de basquete Diego Mendes Modanez e ferir o estudante Felipe Siqueira Cunha de Souza. Schoedl disse que os rapazes assediaram sua namorada e garantiu ter agido em legítima defesa. *4 de janeiro de 2005 - Testemunhas dizem ao Ministério Público Estadual (MPE) que Mondanez e Cunha não assediaram a namorada do promotor *11 de janeiro - Schoedl é denunciado por duplo homicídio qualificado e pode ir a júri popular *16 de fevereiro - O Órgão Especial do Tribunal de Justiça concede, após 49 dias de prisão, liberdade provisória a Schoedl *1 de março - O promotor é suspenso, mas continua a receber o salário de R$ 5,8 mil brutos *27 de abril - O Conselho Superior do MPE recomenda a expulsão do promotor *22 de junho - O Órgão Especial do MPE anula a expulsão *12 de julho - O Conselho do MPE exonera Schoedl, pela segunda vez *12 de janeiro de 2006 - Por força de liminar, Schoedl volta ao cargo *17 de maio de 2006 - O TJ anula, pela segunda vez, a exoneração do promotor *20 de março de 2007 - Votação no Conselho do MPE mantém promotor no cargo *29 de agosto - Schoedl ganha cargo vitalício

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