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Promotoria vai investigar gastos de gabinete

Cheques usados para sacar dinheiro de verba de operações sigilosas também serão verificados

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Por Marcelo Godoy
Atualização:

A Promotoria de Justiça da Cidadania vai investigar os gastos com as verbas de operações policiais sigilosas na Secretaria da Segurança Pública. Os promotores querem saber os motivo de setores burocráticos da secretaria terem feito gastos com essas verbas e a razão de o dinheiro de operações ter sido usado para a compra de fuzis para a Polícia Civil, equipamentos para o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), da Polícia Militar, e até para a compra de CDs que foram gravados com dados de criminalidade e distribuídos para a imprensa. "Esse caso deve ser distribuído para um promotor na terça-feira", afirmou o promotor Silvio Antônio Marques. Os promotores também devem verificar os cheques da chefia de gabinete da secretaria que foram usados para sacar o dinheiro da verba de operações sigilosas. O Estado teve acesso a cópias de 119 cheques usados pelo gabinete do secretário em 2004 (gestão Saulo Abreu). Eles mostram que 111 deles têm valores redondos e apenas oito têm valores exatos e quebrados, como o de número 000046, usado para retirar R$ 2.059 da conta 13-0000485-6, da agência 0935 da Nossa Caixa, na Rua da Quitanda, 78/80, no centro de São Paulo. Todos eram nominais e foram sacados no caixa para cobrir despesas de R$ 610 mil por meio de adiantamento. Os saques foram feitos em duas contas correntes da Nossa Caixa: a de números 13-001143-1, agência 0847 (Avenida Angélica, 2.310), e a 13-000485-6, da agência 0935 (Rua da Quitanda, 78/80). As contas estavam em nome da secretaria e dos ordenadores de despesas nomeados pelo então chefe de gabinete Luiz Hélio da Silva Franco, que ocupou o cargo durante toda a gestão de Saulo Abreu (2002-2006). Quem efetuava saques era um auxiliar de gabinete, em nome de quem eram feitos os cheques. Trata-se de Carlos Jorge Santana, o Jorginho. A mesma prática se manteve no primeiro ano da gestão de Ronaldo Marzagão, quando o chefe de gabinete era Tadeu Sérgio Pinto de Carvalho. O Estado procurou Luiz Hélio. Pediu que sua cunhada, Elaine Mansano, intermediasse o pedido de entrevista. Recebeu como resposta que ele só falaria depois de saber o que o Estado havia apurado. Os ordenadores de despesa são funcionários nomeados para cuidar dos gastos das verbas. O principal deles no período foi Marlene da Silva Santos Rocha - ela assina a maioria dos cheques. Assinam ainda esses documentos Djanira Rodrigues da Silva, Mariângela Franca Godinho e José Antônio de Lima. Entre 4 de fevereiro e 16 daquele mês, foram feitos saques no valor de R$ 39 mil com os cheques 000716, 000718, 000138 e 000139 da agência da Avenida Angélica. Na semana de 14 a 18 de junho, foram retirados R$ 23 mil em quatro cheques - 000024, 000026, 000005 e 000003, da agência da Rua da Quitanda. O menor valor sacado é R$ 1 mil e o maior foi o cheque 000718, de R$ 25 mil. O recorde de gastos no gabinete em operações reservadas ocorreu em 2004. "A maioria das vezes era feito saque em dinheiro mesmo. Essa verba, como era usada em coisa sigilosa, dificilmente se fazia o pagamento com cheques. Eram coisas que deviam ser pagas em dinheiro, pois se você pagar com cheque, você está comprovando o gasto", afirmou Elaine Mansano, principal assessora de Saulo. Ela mostrou decisões do Tribunal de Contas do Estado (TCE), dizendo que as contas foram aprovadas e disse que, na época, os gastos em dinheiro deviam ser feitos em no máximo 24 horas após o saque. "Se não, o dinheiro tinha de ser devolvido. Ninguém ficava com o dinheiro na mão."

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