PUBLICIDADE

Pronto-socorro da Interclínicas em SP fecha na quarta

Por Agencia Estado
Atualização:

A partir das 7 horas de quarta-feira o pronto-socorro do Hospital Evaldo Foz, na zona sul de São Paulo, que pertence à Interclínicas, será fechado. A notícia foi divulgada ontem de manhã para a equipe do hospital por meio de comunicado assinado pela superintendência médica. Também ontem, no horário de almoço, o Evaldo Foz recebeu a visita surpresa do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), da Vigilância Sanitária e do Conselho Regional de Enfermagem. Um dos motivos foi outro comunicado. Na quarta-feira, José Luiz Setúbal, chefe da UTI pediátrica, enviou um relatório para as três instituições e também para a própria diretoria clínica e médica do hospital. Nele, consta uma lista de sérios problemas que dificultam ou impedem o trabalho regular da equipe médica. Entre eles, a falta de medicamentos e equipamentos básicos. "Havia, de fato, irregularidades, como ausência de medicamentos oncológicos e até de pessoal para trabalhar. A UTI de adultos conta com 3 médicos e o normal é ter pelo menos 14", revelou João Ladislau Rosa, conselheiro do Cremesp que acompanhou a visita. "A diretoria técnica foi autuada e terá prazo de cinco dias para reverter a situação. Mas acredito que será muito difícil isso acontecer se outra empresa não assumir logo a Interclínicas." A Vigilância Sanitária está preparando um relatório oficial com todas as irregularidades encontradas e deve divulgá-lo nos próximos dias. Outro dado alarmante é o alto índice de infecção hospitalar do Evaldo Foz. Em 1995, 3% dos pacientes sofram atingidos. Em 2003, 4%. Este ano o número chegou a 5%. Os índices aceitáveis pela Vigilância Sanitária ficam em torno de 3%. Mas, para se ter idéia, um hospital de ponta, como o Oswaldo Cruz, tem índice inferior a 1%. "De dois meses para cá a situação ficou muito difícil", diz Marcelo Lins, chefe da UTI de adultos. "Exames importantes, como tomografias, que são fundamentais no diagnóstico do paciente, demoram muito para serem feitos." Conforme a equipe, tomógrafo, ultra-som e ecocardiograma estão desativados. Além da situação precária de atendimento e de trabalho, os médicos do Evaldo Foz vivem outro dilema: irregularidade salarial. Na sexta-feira da semana passada, o pediatra Setúbal, que trabalha há 23 anos no Evaldo Foz, havia afirmado que ele e mais 30 médicos de sua equipe deixariam o hospital a partir de 1.º de dezembro. O motivo das ausências, de acordo com o pediatra, era falta de pagamento. "Não recebo desde maio", disse ele. Setúbal e outros médicos ainda estão trabalhando, mas vivem um impasse: "O hospital não se manifestou se vai nos substituir e não podemos abandonar os pacientes internados", diz. De acordo com Rosa, do Cremesp, a situação é "inadmissível", mas os médicos devem aguardar a substituição. Os 12 centros médicos da Interclínicas também estão passando por momentos difíceis. A unidade do Tatuapé é um deles. Anteontem, a ginecologista Hélia Gomes Negrão registrou um Boletim de Ocorrência no 52.º Distrito Policial revelando a precariedade de atendimento. "Na semana passada, simplesmente não veio ninguém trabalhar na recepção porque estavam com salário atrasado", conta. "Mas o pior é ter de realizar consultas em 12 minutos e executar procedimentos aqui que deveriam ser feitos em hospitais, como controlar pressão alta de gestante." Nem a direção do hospital nem a Interclínicas quiseram se manifestar. O diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Fausto Pereira dos Santos, evitou ontem dar um prazo para solucionar o problema da falta de assistência médica enfrentado pelos 190 mil clientes da Interclínicas, mas garantiu que estão sendo usados todos os instrumentos políticos, legais e institucionais para solucionar a questão. Por causa de uma grave crise financeira, mais de 50% da rede de prestadores de serviço já deixou de atender os beneficiários da operadora paulista. "Estamos no ritmo que a legislação nos permite ", disse, ressaltando que a ANS deu à Interclínicas o menor tempo possível previsto pela lei, ou seja, 15 dias, para a transferência de sua carteira de clientes para outra operadora. O prazo se esgota em dez dias e, caso não haja uma decisão por parte da empresa, a agência reguladora vai intervir, realizando um leilão. Até agora, informou Santos, três operadoras já demonstraram interesse em incorporar os consumidores da Interclínicas: Gama, Notre Dame Intermédica e Amil.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.