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Proposta estratégica

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Por Redação
Atualização:

A posição de José Serra sobre o fim da reeleição e instituição do mandato único de cinco anos para presidente da República é antiga e conhecida.Estrategicamente ele escolheu o dia de ontem quando visitava Minas Gerais para voltar a defender a tese que há algum tempo havia arquivado. Durante boa parte do segundo mandato do presidente Luiz Inácio da Silva, Serra se dedicou a articular a apresentação de uma emenda para revogar a reeleição, conversou realmente em duas ocasiões a respeito com o presidente e havia até marcado data para deflagrar o processo: logo após a eleição municipal de 2008. Mas desistiu por dois motivos.Primeiro, porque Fernando Henrique Cardoso o convenceu de que não era conveniente mexer em questões institucionais que pudessem ensejar brechas para alterações na Constituição com vistas à possibilidade de um terceiro mandato.Segundo, porque recebeu de um interlocutor o recado de que o presidente Lula não estava mais interessado no fim da reeleição. Motivo alegado: não iria "ajudar" o PSDB a organizar a sua fila de candidatos a presidente.Em miúdos: na percepção de Lula, que na ocasião ainda esperava contar com a divisão do PSDB e quem sabe até com a saída de Aécio Neves do partido, o fim da reeleição encurtaria o horizonte de possibilidade de o mineiro ser candidato a presidente e consolidaria a unidade do PSDB.Relatados os antecedentes, estabelecido que a proposta não é fruto de artifício de momento, ainda assim, vamos e venhamos: é de uma conveniência abissal que seja ressuscitada justamente no dia em que Serra vai a Minas iniciar seu périplo de conquista do segundo e mais importante colégio eleitoral.O tipo da coincidência muito bem coincidida. Com reeleição, o horizonte de Aécio para ser candidato a presidente é de oito anos. Sem ela, passa a ser de cinco a partir de 2011.Pode não ser item de acordo para vice. Mas pode ser que seja. Não sendo, é motivo de incentivo ao eleitorado de Minas que acreditou no que não havia - a chance de Aécio ser candidato agora - e precisa de uma chama que lhe aqueça o entusiasmo. Rio 90 graus. O governador do Rio, Sergio Cabral Filho, tem mantido silêncio em público. Mas é de se conferir por quanto tempo fará olhar de paisagem à cenografia do ex-correligionário e agora arqui-inimigo Anthony Garotinho.Garotinho lançou-se no fim de semana candidato ao governo do Estado pelo PR. Dias atrás recebeu a visita e ganhou afagos da candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff. Cabral é forte na capital, mas Garotinho é mais forte no interior. Portanto, ela precisa dos dois. Ocorre que o ex-governador deu a largada apostando no vale tudo: exigiu a presença de Dilma em seu palanque e ainda deixou claro que o foco de sua campanha é lançar sobre o governador acusações de corrupção."Vou enfrentar a quadrilha instalada no Palácio Guanabara", desafiou Garotinho, cujos bens já foram bloqueados pela Justiça Eleitoral por suspeita de desvio de recursos para campanhas.O governo federal, por intermédio do então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, havia avisado a Garotinho no ano passado que precisava de seu apoio, mas não tinha como lhe assegurar um voto, embora o governo tivesse meios de subtrair-lhe muitos.Ou seja, Dilma já avisara que não subiria em seu palanque.Antes de lançar sua candidatura e de receber Dilma, Anthony Garotinho espalhou Rio de Janeiro afora que trataria Cabral na base dos dossiês. Obviamente isso era de conhecimento do governo federal.É um jogo obscuro. Para dizer a coisa de forma bastante amena.Papéis trocados. Os presidentes do PSDB e do PT, Sérgio Guerra e José Eduardo Dutra, deram entrevistas sobre erros e acertos das campanhas, mas praticamente só falaram do adversário.Foram loquazes na interpretação das ocorrências na seara do oponente, mas se esqueceram de vender o peixe dos respectivos candidatos.

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