O alto número de motociclistas mortos no País - quase 7 mil, em 2006 - levou o Ministério da Justiça a propor ontem a revogação da permissão para motos trafegarem entre os carros, dada em 2000 pelo Código de Trânsito. Essa é uma das principais medidas apresentadas ontem no pacote de alterações das leis de trânsito. Se ela for aprovada, os motociclistas só poderão andar entre carros com o trânsito parado e, no máximo, a 30 quilômetros por hora. Até 2000, a lei previa que as motos deveriam andar como os carros, no meio das faixas. O código mudou mas, impulsionado pelo trânsito caótico das cidades e pela necessidade de serviços de entregas rápidas, o número de motos no País cresceu 151% em sete anos. E o de mortes de motociclistas aumentou 83% entre 2002 e 2006. Dados da Polícia Civil de Brasília, citados pelo ministério, mostram que metade dos acidentes na cidade envolvem motos, que, na maioria, estão entre as faixas. O número de motociclistas mortos em 2006, de acordo com o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros, divulgado na terça-feira, chegou a 6.829. É um número próximo ao de pessoas mortas em acidentes com carros (7.440), cuja frota é o triplo da de motos. Hoje, os motociclistas já representam 25% das mortes no trânsito e perdem apenas para os pedestres. "É uma medida que deve ser discutida, mas algo precisa ser feito. Chegou-se a um número inadmissível de mortes", afirmou Pedro Abramovay, secretário de Assuntos Legislativos do ministério. A possibilidade de mudança já provoca protestos dos motoboys. "Não faz sentido. A moto vai deixar de ser moto. Agora, vamos parar o Brasil", ameaçou o presidente do Sindicato dos Motoboys de São Paulo, Gilberto dos Santos. Para o presidente da Associação Brasileira de Motociclistas, Lucas Pimentel, a derrubada do veto vai aumentar o risco de acidentes. "Com o carro na nossa frente, vamos perder a visibilidade." A maioria dos especialistas na área de trânsito, no entanto, elogiou a iniciativa. "O Artigo 56 (do código, que proibia o tráfego de motos no meio das faixas) nunca deveria ter sido vetado", disse a diretora da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, Maria Koisumi. O consultor de trânsito Horácio Figueira também é favorável à proibição. "Prefiro ver um motociclista multado a vê-lo mutilado." O ministério pretende também mudar a legislação sobre uso do celular. Hoje, é proibido dirigir falando ao telefone, mas o código prevê só infração média por dirigir sem uma das mãos no volante. Agora, a intenção é que passe a prever "dirigir usando o telefone celular", o que elevará a infração para gravíssima, com multa de R$ 315. O governo também propôs que motoristas de ônibus e caminhões não possam dirigir por mais de quatro horas sem parar pelo menos meia hora. Se for verificado excesso de horas no tacógrafo, poderá ser aplicada multa por infração grave.