Protestados contam histórias semelhantes

No início de tudo, um cheque esquecido há muitos anos; no fim, uma cobrança de valor muito maior

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Por Wilson Tosta
Atualização:

As histórias contadas por moradores de outros Estados protestados em cartórios do Rio são parecidas. Há sempre dívidas antigas, algumas relativas a cheques cuja origem já esqueceram, transformadas em letras de câmbio sem aceite, que causam transtornos e pelas quais as empresas de cobrança pedem quantias consideravelmente maiores que o valor original. Muitos pagam, porque precisam do nome limpo para obter um emprego ou fechar negócios.Embora se enquadrasse no segundo caso, o corretor de imóveis Augusto César Andrade de Almeida, de Florianópolis, preferiu não pagar e ir à Justiça. A empresa Cral exigia R$ 201,99, mais R$ 199 de taxas cartoriais, para limpar seu nome, que fora protestado no 1º Ofício de Notas de Piraí, com letra de câmbio emitida a partir de cheque de R$ 20,68, emitido em 1994. Ele não se recorda para que usou o título. "Não lembro, 1994!", diz ele, que conseguiu limpar o nome na Serasa e prepara ação por danos morais contra a empresa. Ele afirma que a Cral exigiu que o pagamento fosse feito na conta de uma pessoa física, Marco Antônio Silva.A contadora Glaucilene Gonçalves, de Nova Iguaçu, também teve um cheque antigo, de 1996, transformado em letra de câmbio sem aceite pela empresa Rainbow Holdings, no cartório do 5º Ofício, em São João de Meriti. O cheque fora dado para pagar uma mensalidade na Universidade de Nova Iguaçu (Unig) e voltara por falta de fundos. Glaucilene conta que pagou em dinheiro - precisava fazer uma prova e só poderia se estivesse em dia com a faculdade -, mas não pegou de volta o cheque, que recentemente reapareceu."Um dia, fui comprar uma moto e, quando passaram a ficha deu restrição", conta ela. "Mesmo que existisse, como vão cobrar um cheque de 13 anos?" Segundo ela, a empresa queria R$ 700. Ela preferiu ir à Justiça.O representante comercial Urubatan Sena, de Ponta Grossa, Paraná, foi protestado no 19º Ofício de Niterói, por causa de um cheque de R$ 37,42 que passou em Curitiba para pagar o conserto de um vidro do carro, quebrado por um ladrão, há mais de oito anos. "Não sei como esse cheque foi parar com a empresa", afirma. O título foi repassado para a Prêmio Comércio de Máquinas, Aparelhos e Equipamentos Elétricos e Eletrônicos, que um dia lhe mandou uma carta, com uma cópia do cheque. "Pediam 20 vezes o valor, uns 800 e poucos reais", recorda ele, que foi à Justiça e em 30 dias limpou o seu nome.O Wal Mart, que vendeu o cheque de Célia Curto ao Hipermercado Big, esclareceu que segue "rigoroso procedimento para assegurar ao consumidor inadimplente todas as possibilidades para negociar a dívida diretamente com a rede" e só então repassar o crédito, o que é legal diz. A empresa não comentou o fato de não ter procurado Célia antes de vender o cheque.

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