
17 de agosto de 2011 | 00h00
Apenas Simon e mais oito senadores se animaram com a ideia de emprestar apoio à empreitada da presidente. Algo em torno de 10% do Senado, nada mais.
O restante do colegiado dividiu-se entre o receio de que tal movimento signifique alinhamento político a Dilma, a desconfiança de que da frente resulte a criação de uma ou mais comissões de inquérito, o temor de que essa exaltação à ética alimente uma comparação negativa em relação ao ex-presidente Luiz Inácio da Silva e o habitual (e crescente) menosprezo a iniciativas moralizantes.
Embora não se justifique, o descaso da oposição até se explica. Escaldada, provavelmente não quer dar aval a algo que ainda não está claro se é fato ou factoide.
Mas, da parte dos aliados não deixa de ser esquisito que a presidente empreenda uma ofensiva em prol da melhoria dos costumes e seus parceiros de coalizão não se sintam ao menos formalmente obrigados a lhe conferir apoio.
Se a frente ficar só nos nove, teremos a prova cabal de que a proposta de sustentação pela melhoria do padrão de formação de governos não interessa ao Congresso.
Mesmo a oposição teria jeito de aderir à proposta de Simon sem se aliar automaticamente ao governo: bastaria pontuar o caráter exclusivamente ético do movimento e trabalhar para transformá-lo até numa plataforma de cobrança ao governo sobre a continuidade e veracidade daquilo que, por ora, ainda não se configura numa limpeza em regra, dado, por exemplo, o desinteresse do Planalto diante da série de denúncias contra o ministro da Agricultura.
Não é a primeira vez que falam isoladas as vozes que se levantam contra a degradação que assola a política e desqualifica a democracia brasileira. Poderia ser uma oportunidade de pôr a teste certos discursos. Mas, pelo visto, governo e oposição preferem passar sem essa.
[ ]Isonomia. [/ ]Vai ser difícil para a presidente liberar o dinheiro das emendas dos parlamentares depois de ter vetado aumento acima da inflação para os aposentados que ganham mais de um salário mínimo.
Tecnicamente são coisas diferentes, mas o gesto sendo o mesmo dá margem à leitura de que em face do ajuste de gastos no Orçamento alguns são mais iguais que os outros perante as regras.
Serventia. Levantamento do PSOL mostra que parlamentares do PMDB e do PT foram os que mais apresentaram no Orçamento de 2011 emendas individuais destinadas ao Ministério do Turismo, loteado entre os dois partidos - 36,5% do total de R$ 1,411 bilhão em emendas.
Fica clara umas das razões pelas quais os políticos se batem tanto por dominar áreas da administração: deputados e senadores apresentam emendas em ministérios onde teriam mais chances de ter o dinheiro liberado por obra e graça da ação de seus aliados ali instalados.
Etiqueta. O governo fez divulgar que o senador João Durval pediu carona no avião presidencial que iria à Bahia levando a presidente Dilma e foi vetado mesmo depois de ter retirado a assinatura-chave para a criação da CPI do Ministério dos Transportes.
Depois disso, a ministra Ideli Salvatti já telefonou para ele três vezes e não foi atendida.
O senador não gostou do método da grosseria em público e do pedido de desculpas em particular.
Quem sois. "Não há necessidade de CPI", disse o ministro dos Transportes, Sérgio Passos, avocando para si um juízo pertencente ao Congresso Nacional.
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