PT prepara reabilitação de mais um ''aloprado''

Com apoio de Mercadante e Palocci, Baccarin pode se tornar superintendente do Incra-SP

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Por Fernando Gallo
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Depois de promover a volta do ex-vereador Hamilton Lacerda às atividades partidárias, há duas semanas, o PT agora tenta reabilitar outro "aloprado". Trata-se de José Giácomo Baccarin, tesoureiro da campanha de Aloizio Mercadante ao governo paulista em 2006.Ele chegou a ser indiciado pela Polícia Federal por crime eleitoral por uma suposta tentativa de compra de um dossiê contra políticos tucanos naquele ano. O inquérito foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).Baccarin, que foi primeiro suplente de Mercadante no Senado, foi indicado pelo presidente do PT-SP, deputado estadual Edinho Silva, para ser o superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de São Paulo. Ele disputa o posto com Wellington Diniz, secretário de movimentos sociais do PT-SP, indicado por Paulo Teixeira, líder do partido na Câmara dos Deputados. Conta com a simpatia dos ministros Mercadante (Ciência e Tecnologia) e Antonio Palocci (Casa Civil), e é, por ora, o favorito na disputa. A Superintendência do Incra de São Paulo comanda 133 cargos, dos quais 20 são de confiança. Em 2010, a autarquia gastou R$ 82 milhões com atividades desenvolvidas no Estado. Seu orçamento para 2011 ainda não foi definido. A indicação de Baccarin, que é professor de agronomia e ex-prefeito de Jaboticabal (SP), seria uma forma de compensá-lo pelas acusações sofridas em 2006. Entre petistas existe uma avaliação de que o ex-tesoureiro "entrou de gaiato" na história do dossiê antitucano e foi, portanto, injustiçado.Dossiê. Baccarin foi um dos sete indiciados pela Polícia Federal pela suposta tentativa da compra de documentos que comprometeriam a candidatura de José Serra (PSDB) ao governo de São Paulo.O dossiê, que seria comprado por emissários petistas por R$ 1,7 milhão, traria informações que pretendiam relacionar Serra com o esquema de compra superfaturada de ambulâncias quando era ministro da Saúde durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Segundo a Polícia Federal, o responsável pela venda do dossiê era Luiz Antonio Vedoin, dono da empresa Planam e um dos operadores da chamada máfia das sanguessugas.Baccarin foi indiciado porque respondia pelas finanças da campanha de Mercadante. O caso foi arquivado pelo STF, atendendo a pedido do então procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza, que disse não ver provas que incriminassem os indiciados.O episódio, no entanto, prejudicou as campanhas de Mercadante e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tentava a reeleição naquele ano.Lula classificou os envolvidos no caso como "aloprados" e os responsabilizou por levar a disputa presidencial ao segundo turno. Mercadante, que esperava disputar o segundo turno, foi derrotado no primeiro.PARA LEMBRAREnvolvidos em escândalos ganham fôlegoAcusado de "criar" o mensalão, o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, foi expulso do partido em outubro de 2005, após meses de discussão. Ele cogitou se desligar da legenda, mas decidiu deixar a decisão para o Diretório Nacional, que o expulsou por 37 votos a favor e 16 contra. Depois de mais de cinco anos longe, Delúbio foi anistiado e voltou ao partido no final do mês passado com apoio da maioria dos integrantes do diretório. Ele obteve 60 votos a favor da anistia e 15 votos contrários.Outro anistiado recentemente pelo PT foi Hamilton Lacerda. Envolvido no escândalo conhecido como "Dossiê dos Aloprados", Lacerda voltou a integrar a lista de filiados do PT em fevereiro de 2010.Ele foi flagrado em 2006 transportando uma mala de dinheiro, que serviria para pagar por um dossiê contra tucanos. Ele negou as acusações, mas para fugir da expulsão pediu a desfiliação do partido.

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