PT quer depoimento de bicheiros na CPI

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Por Agencia Estado
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O secretário-geral do PT gaúcho, Paulo Ferreira, disse nesta quarta-feira que o partido quer a convocação dos presidentes das escolas de samba ligados ao jogo do bicho para que eles deponham na CPI da Segurança Pública. A iniciativa, segundo ele, visa esclarecer as insinuações de que o partido teria uma relação muito estreita com os bicheiros e inclusive recebido doações desse setor durante a campanha eleitoral de 1998. ?Se a CPI quer comprovar a tese da relação do PT com o jogo do bicho, os parlamentares devem convocar os dirigentes das entidades carnavalescas relacionados com a contravenção?, afirmou Ferreira. A estratégia petista é colocar na defensiva outros partidos que tenham algum tipo de laço com os banqueiros do jogo do bicho. No ano passado, por exemplo, uma CPI instalada na Câmara de Vereadores de Porto Alegre apurou irregularidades na utilização das verbas municipais pela Associação das Entidades Carnavalescas, presidida então por Evaristo Mutti, um assessor do vereador Reginaldo Pujol (PFL). Sócio do Bingo Roma, no Bairro Azenha, Mutti também é investigado pela polícia por sua participação no esquema do jogo do bicho. ?Que a CPI vá adiante. Não pode ficar só falando e fazendo ilações irresponsavelmente?, reclamou Ferreira. ?A CPI não encontrou nenhuma prova de irregularidade contra o PT e o Clube de Seguros da Cidadania (entidade que comprou a sede estadual do PT).? Além dos bicheiros, os líderes petistas na Assembléia Legislativa também pressionam pela convocação dos delegados acusados de fazer parte da banda podre da polícia. Na prática, entretanto, a comissão terá apenas mais três sessões para ouvir depoimentos, e a lista de convocados se esgotou. Nesta quinta-feira, por exemplo, os quatro doadores do Clube da Cidadania que ainda não foram ouvidos devem comparecer à Assembléia. Na segunda-feira, será a vez do presidente do Clube da Cidadania, Diógenes Oliveira, esclarecer oficialmente o teor da conversa em que pede, em nome do governador Olívio Dutra, para o ex-chefe de Polícia Luiz Fernando Tubino não reprimir os bicheiros. ?Para mim está tudo claríssimo. O relator está completamente esclarecido sobre esses fatos?, afirmou o deputado Vieira da Cunha (PDT), relator da CPI, referindo-se à pressão do PT para convocar os delegados novamente. A comissão deixou para o último dia de depoimento, em 9 de novembro, a convocação do secretário de Justiça e Segurança, José Paulo Bisol. Nesta quarta-feira, mais uma gravação foi apresentada à CPI, desta vez com o objetivo de atingir Bisol. O CD entregue pelo ex-deputado Wilson Müller, o mesmo que obteve a gravação da conversa entre Diógenes e Tubino, contém o diálogo do secretário, em março de 1999, com três mulheres de policiais militares presos pela execução de um jovem de Novo Hamburgo, Geovani Konrad, de 14 anos. Elas pediam a ajuda de Bisol para que seus maridos respondessem ao processo em liberdade. ?Eu sei que eles foram mandados, mas querem proteger os comandantes?, diz Bisol na gravação. ?É difícil absolver sete homens pela morte de um menino de 14 anos?, prossegue. ?Se esse soldado cooperar com a verdade, isso facilita um pouco?, comentou o secretário. Segundo a assessoria de imprensa de Bisol, ele ofereceu os benefícios da lei de proteção às testemunhas, caso os policiais acusados revelassem quais foram e de quem foram as ordens. Para alguns oposicionistas, entretanto, as mulheres foram pressionadas por uma proposta moralmente questionável. Geovani foi caçado por PMs de Novo Hamburgo em São Francisco de Paula e executado por ter morto um de seus colegas, o soldado Adelar Arnaldo Weber, nas vésperas do Natal de 1998. Geovani, por sua vez, estava vingando a morte do irmão Odair, 18 anos, que ocorrera dias antes.

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