PUBLICIDADE

Public cars viram moda em países ricos

Nos EUA e na Europa, cidadãos já têm à disposição carros públicos

Por Rodrigo Brancatelli
Atualização:

Enquanto São Paulo ainda engatinha com o projeto de bicicletas públicas pela cidade - o único projeto foi inaugurado pelo Metrô no ano passado e conta apenas com 220 magrelas -, cidades europeias e americanas já discutem e testam a adoção de carros públicos comunitários. São veículos como qualquer outro, sem muito luxo ou potência, mas que podem ser usados pela população apenas mediante inscrição e pagamento infinitamente menor do que o custo de possuir o próprio carro. Os resultados agradam a todos - exceto à indústria automotiva, claro... Na Itália,12 cidades desenvolvem desde 2004 um projeto bancado pelo Ministério do Meio Ambiente que insere no transporte urbano uma frota de carros públicos. Cerca de 500 carros ficam nas ruas à disposição dos usuários 24 horas por dia, 365 dias do ano, e podem ser abertos com uma chave especial que parece um cartão de crédito. Esses veículos ainda têm permissão para circular em áreas proibidas a carros comuns e direito a vagas especiais nos lugares mais concorridos da cidade. O custo é subsidiado pelo governo - para ter direito ao serviço, é preciso pagar cerca de 50 anuais, mais 0,30 por quilômetro rodado. "Para evitar que as pessoas fiquem muito tempo com o veículo, as tarifas da quilometragem vão aumentando progressivamente e a pessoa também pode pagar uma tarifa por hora de uso", diz Marco Mastretta, diretor da Iniziativa Car Sharing (ICS), empresa que administra o serviço. "Mas há também diversos benefícios para que as pessoas adotem os carros públicos, como, por exemplo, a exclusividade de algumas vagas de estacionamento, além de poder deixar o carro após o uso em qualquer lugar. Hoje temos mais de 15 mil italianos usando esses veículo, e o crescimento anual tem sido de 50%." A ideia do "public car sharing", ou automóvel compartilhado público, surgiu nos anos 80 na Suíça e já é realidade em mais de 60 municípios mundo afora, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Em várias dessas cidades, o projeto é quase comunitário. De acordo com um estudo feito pelo especialista em transporte público Adam Millard-Ball para o Ministério dos Transportes americano, cerca de 6 mil pessoas nos Estados Unidos e 11 mil cidadãos do Canadá já dirigem os carros comunitários diariamente. SERVIÇO "Em Aspen, no Colorado, por exemplo, o serviço é mantido pela própria prefeitura, quase sem custos", diz Millard-Ball. "A maioria das pessoas que utilizam carros públicos não os usa para ir ao trabalho, mas sim para fazer compras, ir ao supermercado ou dirigir a algum local de recreação. De forma geral, o carro comunitário é um complemento às alternativas de transporte público. Não é uma panaceia. Ele só faz sentido como parte de um programa muito maior de mobilidade urbana." Apesar de contar com um exemplar sistema de ônibus e metrô, além de ciclovias por todos os cantos, Estocolmo, na Suécia, talvez seja o exemplo mais bem-sucedido da adoção do "public car" - lá, são as associações de bairros e condomínios que compram pequenas frotas de carros em sistema de cooperativa. Para abrir a porta e dar a partida, o cliente só precisa ligar para um número pelo celular. E não é preciso trocar o óleo ou colocar gasolina, uma vez que toda a manutenção é feita pela cooperativa. A cobrança, que custa cerca de US$ 6 por hora, vem na própria conta do celular. Por causa do interesse da população, o Ministério dos Transportes da Suécia passou a dar isenção de impostos e 50% de desconto no valor do emplacamento dos veículos comunitários. "Obviamente o carro público é um nicho e tem alcance limitado", diz Adam Millard-Ball. "Ainda há muito o que ser estudado sobre o assunto. Nos Estados Unidos, por exemplo, o projeto só existe há sete anos. Mas o carro público pode, sim, ajudar no meio ambiente e no tráfego de várias comunidades."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.