PUBLICIDADE

PUC-SP dá bolsas para descendentes de índios

Por Agencia Estado
Atualização:

No início das aulas deste semestre os alunos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) vão encontrar uma turma diferente. Trata-se de um grupo de 14 descendentes de índios, das tribos pancararu e guarani, aprovados há pouco no vestibular. Além da descendência indígena, eles devem distinguir-se dos outros estudantes pelo fato de virem de famílias pobres. A maioria reside num dos conjuntos habitacionais do Projeto Cingapura, no Real Parque, zona sul de São Paulo. Só vão conseguir freqüentar os cursos da PUC, com mensalidades acima de R$ 700, porque a instituição vai dar bolsas de estudo integral para todos. No total, foram 28 descendentes indígenas que prestaram o vestibular. Dos 14 aprovados, 11 são pancararus, e 4, guaranis. Há apenas 4 homens entre eles. No dia dos exames, tiveram tratamento diferente, na categoria dos chamados casos especiais, que inclui os deficientes visuais. Ficaram reunidos numa mesma sala, à parte dos demais candidatos, e contaram com uma hora a mais no prazo para responder às questões. "Foi uma batalha, mas valeu a pena", comemora Adilson Barros da Silva ou Adilson Pancararu, de 30 anos, aprovado no curso de ciências contábeis. Sem profissão definida, ele vive de bicos e revela que no ano passado só conseguiu trabalho durante quatro meses. Nos outros, sobreviveu com a ajuda de sua companheira, empregada numa confecção. Com essa dificuldade, a prestação do apartamento no Cingapura, de R$ 57,00, está atrasada sete meses. Agora que entrou para a universidade, Adilson pode sonhar. "Acho que vou ser auditor, fiscalizar as contas da Funai e ver se estão gastando bem o nosso dinheiro", diz. Os índios chegaram à PUC com o apoio de várias instituições. O Cursinho da Poli, financiado pelo Grêmio da Escola Politécnica da USP, ofereceu bolsas de estudos a todos os interessados dos dois grupos indígenas. No total apresentaram-se 34 índios, que estudaram durante um ano. A Funai ajudou com passes de ônibus e dinheiro para lanches. Todos eles tentaram o vestibular da Universidade de São Paulo (USP). Mas nenhum passou. Logo em seguida, estimulados pela Arquidiocese de São Paulo, procuraram a PUC, que ofereceu bolsa integral para quem fosse aprovado. O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) também apoiou, pagando a taxa de inscrição para os 28 candidatos que insistiram. Agora, a coordenadoria de atendimento comunitário da PUC está organizando uma comissão de professores cuja missão será facilitar a integração dos novos estudantes à escola. "Eu nem acreditei quando me avisaram que eu tinha passado", diz Elisangela Pereira, de 19 anos, funcionária de um creche no Jardim Panorama, zona sul, já matriculada no curso de pedagogia. Quando se inscreveu no vestibular, ela assinalou como primeira opção o curso de enfermagem. "Só consegui pontos para pedagogia, mas não fiquei decepcionada. Vou usar o que aprender no meu trabalho na creche", diz. Elisangela e Adilson nasceram em bairros pobres da periferia de São Paulo. Seus traços faciais e o da maioria dos outros aprovados quase não lembram mais a origem índia. "Tenho cabelos crespos e falam que não sou índia", diz Elisangela. Hoje, segundo a Associação SOS Indígena, existem 950 pancararus em bairros pobres de São Paulo, Santo André e Garulhos. Vieram da aldeia pancararu de Brejo dos Padres, no interior de Pernambuco.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.