Quase prontas, escolas de samba já pensam na ‘virada de página’ do carnaval de abril

Algumas fecharão os barracões nos próximos dias, até as vésperas do retorno ao sambódromo; desfiles paulistanos terão menos alas por causa protocolos sanitários

PUBLICIDADE

Foto do author Priscila Mengue
Por Priscila Mengue
Atualização:

Quase tudo pronto, das fantasias aos adereços. As escolas de samba do Rio e de São Paulo vivem um fevereiro na espera do “carnabril”, os desfiles remarcados para o feriado de Tiradentes. Algumas fecharão os barracões até as vésperas do retorno ao sambódromo. Até lá, o momento será de afiar os ensaios, reunir os desfilantes dispersos e, enfim, concluir o que alguns têm chamado de carnaval da “virada de página”. As escolas ouvidas pelo Estadão acreditam que a data não será mais uma vez adiada, especialmente pelas condições sanitárias, as flexibilizações e o avanço da vacinação contra a covid-19. Os desfiles de abril também chamam a atenção por ocorrerem simultaneamente no Rio e em São Paulo, em 22 e 23 de abril, dificultando a adesão de profissionais do samba e desfilantes às duas apresentações, no caso dos Grupos Especiais.

Maioria das fantasias e alegorias da Acadêmicos do Tatuapé estão prontas e armazenadas para desfiles de abril Foto: Werther Santana/Estadão - 24/02/2022

PUBLICIDADE

Em São Paulo, por exemplo, a Acadêmicos do Tatuapé pretende encerrar as fantasias e alegorias até 5 de março, segundo Erivelto Coelho, um dos presidentes da escola. Os cerca de 45 profissionais vindos de Parintins, responsáveis pelos carros alegóricos, voltarão para o Amazonas na próxima semana, por exemplo, em vez de permanecerem na cidade até a ida ao sambódromo. Cerca de duas semanas antes do desfile, vão regressar, para a montagem final – decisão tomada para reduzir os custos. Em São Paulo, as escolas têm considerado os protocolos sanitários acordados entre a Liga Independente das Escolas de Samba e a Prefeitura, como a redução de 25% nos desfilantes, para até 1,5 mil. Com a mudança, o planejamento inicial foi repensado nas agremiações, com reduções nos carros e alas. Ainda será, portanto, um carnaval de transição. A expectativa é de que o uso obrigatório de máscaras ao ar livre não esteja mais vigente em abril, de acordo com o que tem sido sinalizado pelo governo. No caso da Acadêmicos do Tatuapé, por exemplo, caso a utilização siga necessária, todos os componentes utilizarão a proteção branca, padronizada, para manter uma neutralidade em relação às fantasias.

“Sabemos que não dá para fazer como sempre foi, ainda é um ano atípico”, salienta o presidente, o qual estima que os adiamentos custaram 30% a mais nos custos. “Agora, é intensificar os ensaios, ensaiar o povo que não chegou ainda, aprender o samba. Não pode deixar a poeira sentar.”

Profissionais de Parintins finalizarão trabalhos dos carros alegóricos até 3 de março na Acadêmicos do Tatuapé Foto: Werther Santana/Estadão

No Vai-Vai, por sua vez, o ritmo de produção foi reduzido após o adiamento do carnaval. “Porque tem muito material artesanal que não pode ficar muito tempo parado, exposto à mudança de temperatura”, explica o diretor de Carnaval, Gabriel Mello. Nas últimas semanas, será feita uma varredura, para reparar itens que se desprenderam por causa do calor, por exemplo.

Com a redução dos componentes, o Vai-Vai teve de se adaptar e cortar quase 2 mil desfilantes. “Foi dramático, mas estamos seguindo as regras, como foi em toda a pandemia”, destaca. O momento é de expectativa: “Hoje, o carnaval gira em torno da ansiedade." O desfile não será o mesmo do planejado em 2020 também por outros motivos. Pelo prolongamento, mais ideias foram testadas, adaptadas. “A gente tinha alguns motes no começo que foram sendo substituídos. A gente entendeu que uma coisa era 2021, outra é 2022”, explica. “O tempo permite um estudo maior, talvez menos superficial das coisas.”  Carnavalesco da Unidos de Vila Maria, Cristiano Bara comenta que o desfile será uma celebração única, importante até mesmo para uma renovação criativa. “Todo ano renova, troca a energia”, diz.

Ele também comenta que parte das escolas enfrenta dificuldades até para voltar a encher as quadras, mas que a situação tem sido revertida em fevereiro. “Está aumentando, as pessoas estão voltando a querer ensaiar. É um novo momento”, resume. Entre os problemas passados está também o encarecimento de materiais, da energia e de outros custos em geral. Ele exemplifica que um bloco de isopor passou de R$ 280 para cerca de R$ 800. “Está muito caro.” A situação é semelhante na capital fluminense. O diretor de carnaval Thiago Almeida conta que a São Clemente reduziu o ritmo de produção, especialmente nos fins de semana. Diferentemente das demais, a escola trocou de enredo em maio, a fim de homenagear o comediante Paulo Gustavo. “A gente estará um pouco mais tranquilo do que as outras. Por mais que tenha trocado o enredo no ano passado, o processo do carnaval em si está sendo um pouco exaustivo por conta da pandemia.” Já Marcus Ferreira, carnavalesco da Unidos do Viradouro, conta que o ritmo de produção foi mais lento por causa do tempo maior e que, agora, está com 95% da produção pronta. Por isso, em março, o barracão fará um recesso. “A ansiedade bate por completar esse ciclo.”