Quem é a educadora social que se tornou a conselheira tutelar mais votada da história do Rio

Patrícia Félix, de 48 anos, teve adolescência marcada pela violência - e isso mudou sua vida

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Por Roberta Jansen
Atualização:

RIO - Educadora social, pedagoga e advogada, Patrícia Félix, de 48 anos, se tornou no início deste mês a conselheira tutelar mais votada na história do Estado do Rio de Janeiro, com 4.639 votos em uma eleição em que ninguém costuma receber mais de 500.

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O resultado surpreendente é fruto da polarização política que transformou o até então desconhecido pleito em batalha ideológica e mobilizou um número inédito de eleitores. E foi justamente por causa dessa polarização que Patrícia resolveu se candidatar pela primeira vez ao cargo municipal, cuja principal função é zelar pelo cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Assessora do deputado federal David Miranda (PSOL) e filiada ao partido, Patrícia foi eleita conselheira na zona 2 (são 19 zonas no município, cada uma com cinco conselheiros). A área corresponde à zona sul da cidade.

“Eu nunca tive a pretensão de ser conselheira, mas estava muito preocupada. Na eleição passada havia poucos candidatos, e o quórum de votação acabou sendo muito baixo. Este ano, a coisa estava estranha, com alguns grupos fundamentalistas tentando tomar conta dos conselhos”, explicou. “Achei que havia a necessidade de um movimento, de falar com a comunidade sobre a importância do ECA e dos conselhos tutelares. Esse foi o meu objetivo.”

Educadora social, pedagoga e advogada, Patrícia Félix, de 48 anos, se tornou no início deste mês a conselheira tutelar mais votada na história do Estado do Rio de Janeiro Foto: Paulo Araújo/ Estadão

Antes da votação, havia denúncias de que líderes religiosos conservadores estariam pedindo a fiéis que votassem em candidatos com plataformas voltadas para a evangelização de crianças e jovens. A esquerda se mobilizou pelas redes sociais, em um movimento inédito, defendendo o Estado laico (neutro frente as religiões).

A campanha foi tão bem sucedida que deu a Patrícia a vitória e teve um quórum recorde. Foram 107.841 votantes, contra 48.765 da última eleição, em 2015.

A pedagoga acompanhou a implementação dos conselhos e milita na área há mais de 30 anos, desde que era adolescente, moradora da comunidade da Vila Vintém, na zona norte, e foi atingida por uma tragédia.

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“Tudo começou no Natal de 1984, quando eu tinha 14 anos. Meu irmão mais velho saiu para encontrar com amigos e foi assassinado, um crime até hoje não resolvido”, relembra ela, emocionada. “Infelizmente, na favela, esse tipo de coisa é comum. E eu comecei a me perguntar por que essas coisas aconteciam.”

Desde então, Patrícia trabalha e milita na área de inclusão de crianças e adolescentes vulneráveis. Fundou uma ONG voltada para jovens na Vila Vintém. Atualmente, é também a coordenadora estadual da Rede Emancipa, responsável por pré-vestibulares comunitários.

“Tenho fortes identificações com a Patrícia, somos nascidos e criados em favelas, somos negros e passamos por muitas situações difíceis”, afirma o deputado David Miranda. “Patrícia é muito dedicada à causa da infância e adolescência e à defesa dos direitos humanos. Quando conheci seu trabalho na Vila Vintém, percebi que tinha um ótimo perfil para nos auxiliar em trabalhos do parlamento.”

No início deste ano, Patrícia se formou em Direito. Poucos meses depois, passou a integrar a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ). “Ela sempre militou na causa das crianças e adolescentes e no movimento de favelas; por isso já era uma velha conhecida nossa”, contou o secretário-geral da Comissão de Direitos Humanos, Ítalo Pires. “Quando ela se formou em Direito, foi um caminho natural entrar na Comissão para atuar no subgrupo voltado a crianças e adolescentes.”

Em São Paulo

Na capital paulista, foram registrados problemas nas eleições para as 260 vagas (titulares e suplentes) para o Conselho Tutelar, no dia 6, em três localidades: Pirituba, na zona norte; Pinheiros, na zona oeste; e Lajeado, na zona leste.

Novas eleições estão marcadas para 1.º de dezembro em Pirituba e em Pinheiros. 

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Em Pirituba, o pleito será refeito totalmente porque 11 números de candidatos nas urnas não coincidiram com os informados na lista inicial. Em Pinheiros, houve revisão e a eleição será refeita nas escolas Oswaldo Aranha e Fernão Dias Paes, onde aconteceu atraso no início da votação.

Em Lajeado, a decisão de suspensão foi revista porque chegou-se à conclusão de que não houve prejuízo aos candidatos. Assim, o pleito foi confirmado com a votação homologada pela Comissão Eleitoral. O resultado será atualizado no site da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. / COLABOROU RENATA OKUMURA

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