Quem são as vítimas da tragédia em Brumadinho

Até esta quinta-feira, corpos de 71 pessoas foram identificados; conheça as histórias

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Por Felipe Resk e Julia Marques
Atualização:

A pequena Brumadinho, com cerca de 39 mil habitantes, vive um momento de desolação nos cemitérios, com sepulturas cavadas às pressas, às dezenas, para enterros coletivos, e desespero de parentes dos 238 desaparecidos em um mar de lama que desafia equipes de resgate nacionais e internacionais. Os mortos somam 110, 71 deles identificados até agora. 

Veja a lista das vítimas identificadas: 

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Funcionário terceirizado da Vale, Fabricio Henriques da Silva, de 26 anos, atuava na área de mecânica. “Era uma pessoa super dócil, tranquilo. Nunca vi ele entrando numa confusão”, descreve a prima Virlene Mercês, de 26. Segundo a família, Fabrício perdeu o pai em um acidente de moto quando tinha apenas 8 anos. Ele era o mais velho de quatro filhos e assumiu o papel de “homem da casa”, diz Virlene. “Ele tem uma irmãzinha de 5 anos, de outro casamento da mãe: é o maior grude.”

Reservado, não gostava de falar de trabalho em casa. Entre as atividades preferidas,gostava de jogar vôlei, futebol e de malhar. “O negócio dele era ter o corpo sarado, sabe”, diz a prima. Também brincava carnaval. “Era um irmão, meu amigo confidencial”, diz. “De todos os ruins, a gente pelo menos conseguiu dar um enterro digno a ele.” 

Natural de Congonhas, Jonatas Lima Nascimento era operador de equipamentos de instalação da Vale há 13 anos. Trabalhou em mineradoras de Barão de Cocais e de Brumadinho, ambas em Minas. “Sempre tive orgulho de dizer que ele é trabalhador, decente, honesto. Nunca perdia o horário do ônibus, sabe? Pai de família mesmo, que tem gosto de trabalhar para sustentar os filhos”, diz a mulher Daihene Nascimento, de 33 anos.

Segundo a família, Jonatas estaria no centro de carregamento, uma área baixa, na hora do incidente. O local ficou inundado de lama. “Não vai existir mais sobreviventes, só vítimas. Tenho que dar graças a Deus de conseguir enterrar o corpo dele”, diz Daihene.

No dia 10 de janeiro, os dois completaram 15 anos de casados. “A gente passou fome junto”, afirma a mulher. Eles tiveram dois filhos: Fernanda, de 10 anos, e Artur, de 6. Após a confirmação da morte, Daihene chamou as crianças para conversar. Os meninos choraram muito, conta. Foi o mais novo quem perguntou: “E o que vai fazer com as coisas do papai? Não quero que doe as roupas dele”, disse. “Quando crescer, quero ser igual a ele.” 

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Em Sarzedo, na região metropolitana de Belo Horizonte, Leonardo Alves Diniz, de 33 anos, cumprimentava os vizinhos com um “ei, abençoado”. E logo era retribuído com o mesmo cumprimento. Vivia sorridente e não aparecia em fotos de cara fechada. Na Vale, trabalhava como técnico de manutenção. Estaria de folga no dia da tragédia, mas foi convocado em cima da hora para uma reunião. A mulher protestou, mas ele explicou que, se trabalhasse na sexta, teria o sábado e o domingo livres para ficar com a família. 

A última vez que visualizou as mensagens no WhatsApp foi na sexta-feira, às 10h55. Desde a notícia do rompimento da barragem, a família fez uma peregrinação atrás de informações sobre Leonardo, até que recebeu a notícia de que o corpo estava no Instituto Médico-Legal. A aliança de casamento foi o que conseguiram recuperar dos pertences. Leonardo deixou a mulher e um filho de 8 anos. 

A médica do trabalho Marcelle Porto Cangussu, de 35 anos, foi primeira vítima identificada na tragédia de Brumadinho. No sepultamento, muita emoção no semblante de amigos e familiares. Marcelle trabalhava na Vale desde 2015 e não estava escalada para se apresentar na mina. Segundo familiares, ela foi chamada de última hora. 

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Solteira, não tinha filhos e gostava de passar a maioria das noites com a avó, que mora a poucas quadras de sua casa. "Morreu fazendo o que mais gostava. Estamos desolados. Completamente sem chão. A gente não se desgrudava, cuidava muito de mim, eu dela. Me ligava todos os dias, perguntava como eu estava", disse a mãe Mirelle Porto.

Marcelle fez aniversário um dia antes do rompimento da barragem. "Estava feliz, com os amigos, parentes. A nossa menina adorava sorrir", afirmou o tio Denysson Porto. "Uma pessoa bonita, alegre demais, verdadeira. Vai deixar saudades", disse Valéria Rodrigues, amiga de profissão. 

O técnico de processos Moisés Moreira Sales, de 41 anos, trabalhava na Vale há mais de uma década, segundo a família. “Era uma pessoa alegre, brincalhona, muito bondosa. Tinha o coração muito bom. Desde a tragédia, minha cunhada fica repetindo que ele era um bom marido e um bom pai. Como vai fazer falta”, diz o irmão Mateus Moreira Sales, de 33. Ele também deixa um filho de três anos. 

Ciclista, Moreira Sales havia comprado uma bicicleta nova há duas semanas. “Ele estava muito feliz”, diz o irmão. O técnico era o mais velho de quatro irmãos e havia passado por trauma recente. O pai morreu em abril de 2018, vítima de enfarte. “A gente ainda estava se curando da perda. Pensamos que 2019 seria um ano de renovação e vem essa bomba.” 

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Serralheiro, de 47 anos, Carlos Roberto Deusdeti trabalhava como terceirizado na Vale há apenas dois meses. Quando conseguiu o emprego, ficou feliz. “Ele falava que era uma empresa de grande porte, de nome reconhecido, que ia poder dar um futuro para o filho dele”, conta a sobrinha Viviane Dias. Trabalhador, começou com a atividade de serralheria quando tinha só 14 anos, depois de ficar órfão do pai. Há 8, Carlos realizou o sonho de ter um filho. “E o menino era a vida dele”, diz Viviane.  

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Fazia todos os dias um bate-volta de Belo Horizonte a Brumadinho. O expediente começava cedo, às 7 horas, e só terminava às 17 horas. No trabalho, costumava almoçar no refeitório e, logo depois de comer, subia para um galpão, onde tirava um cochilo antes de retomar a função. 

A mulher de Carlos ficou sabendo do rompimento da barragem pela TV. “Pelo amor de Deus, é onde o Carlinhos está”, disse à irmã ao telefone quando viu as imagens da destruição em Brumadinho. A família tinha esperanças de encontrá-lo na mata, vivo, mas, no dia seguinte à tragédia, recebeu a notícia de Carlos não tinha resistido.

Adriano Caldeira do Amaral era funcionário da Vale. Deixou a mulher, Ana Flávia Silva, e dois filhos. "Você, pai dedicado, vivia para nós, para a nossa família. E agora quem vai mimar meus sonhos, os nossos sonhos?", escreveu a mulher Ana Flávia, nas redes sociais. "Vá em paz, continue segurando a minha mão que eu seguirei aqui firme e com fé." 

A mãe de David Marlon Santana, de 24 anos, foi a primeira saber da morte do filho. Ele morava com os pais e um irmão no Parque das Cachoeiras, em uma área rural de Brumadinho. David trabalhava como caldeireiro na Vale e, na hora do acidente, tinha retomado o trabalho depois de almoçar. Segundo a prima Larissa Santana, de 21 anos, estava perto da barragem que se rompeu. "A gente fez o enterro dele hoje (segunda-feira). Estava todo mundo muito arrasado e estavam acontecendo muitos enterros na hora." 

Cleosane Coelho Mascarenhas era mulher de Márcio Paulo Barbosa Mascarenhas, proprietário da Pousada Nova Estância. Localizado em uma área de mata perto da mineradora, o estabelecimento foi destroçado pela lama. O marido dela e o filho Márcio Mascarenhas continuam desaparecidos. 

Roliston Teds Pereira era funcionário da Vale. Segundo familiares, deixa duas filhas. “Ele queria parar para ver as duas crescer, mas preferiu aguentar mais o último ano pra dar uma vida melhor para elas”, disse uma prima. 

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Eliandro Batista de Passos trabalhava para uma terceirizada da Vale. Deixou uma filha de 13 anos. “Não era o dia de ele estar lá. Ele estava em Belo Horizonte. A Vale entrou em contato e ele foi de manhãzinha para a cidade de Brumadinho”, conta a sobrinha Jéssica Passos, de 17 anos. A família era natural de Itaipé, no norte de Minas Gerais. 

Francis Marques da Silva tinha 34 anos e trabalhava na Vale. Deixou a mulher e uma filha pequena. O corpo foi localizado com politraumatismos causados pela avalanche de lama que escorreu morro abaixo quando a barragem da Vale se rompeu na mina do Córrego do Feijão.

Motorista, de 53 anos. O corpo de Maurício Lauro de Lemos foi encontrado em um local que ficava em frente de onde funcionava o refeitório da Vale, destruído pela avalanche de lama. Desolada, a filha dele, Juliana, afirmou, durante o sepultamento, que o pai contava em casa que teria transportado sacos de areia para a área da barragem. “Aquilo lá foi uma tragédia anunciada”, disse Juliana.

Wellington Campos Rodrigues era analista de suporte da Vale, onde trabalhava desde 2013. Morava em Ibirité. Deixou a mulher e filhas. O corpo foi sepultado no cemitério municipal de Ibirité. “Obrigada, pai, pelo exemplo de caráter. Um homem íntegro e amado por todos”, escreveu uma das filhas nas redes sociais. 

Duane Moreira de Souza era manobrista de trem de uma empresa terceirizada da Vale. Trabalhava em turnos alternados. Às vezes ia à noite, às vezes de dia. No dia da tragédia, comemorava o seu 33º aniversário.“Demorou para a ficha cair. Quando começamos a receber mensagens no WhatsApp sobre a barragem, achamos que era mentira”, conta a cunhada Edilaine Regina, de 33 anos, professora em Brumadinho. 

Na rua onde mora na cidade, há pelo menos quatro desaparecidos. “Escolhemos morar aqui porque aqui é tranquilo, e aí acontece isso”, lamenta. Duane deixa a mulher e três filhos - duas adolescentes e um menino de 3 anos. O caçula fez aniversário nesta terça-feira, dia do enterro do pai. “Nunca imaginávamos viver isso.”

Claudio José Dias Rezende tinha 26 anos, era natural de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, e trabalhava na Vale. "Ele começou como estagiário, foi subindo de cargo até chegar a engenheiro", conta o amigo Matheus Scutasu, de 25 anos.  "Onde ele estava, fazia diferença pela alegria. Era uma pessoa que fazia falta", diz Scutasu. Claudio era casado e tinha um filho de 4 anos. A mãe dele, Mércia Dias, lamentou a morte nas redes sociais. "Foi difícil e doloroso ter que me despedir sem poder te olhar nos olhos", escreveu. "Quero agradecer a Deus e Nossa Senhora por me devolverem o corpo do meu filho, e a todos que estiveram presentes na cerimônia de despedida realizada hoje (na terça-feira)."

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Marcelo Alves de Oliveira era de Santos. Engenheiro, formado em 2008, prestava serviço para a Vale. O corpo foi enterrado em São Vicente, na Baixada Santista. 

Técnico em Eletromecânica, Daniel Muniz Veloso trabalhava para uma terceirizada da Vale. Deixou a mulher grávida de 8 meses. 

Era funcionário da Vale. Natural de Taguatinga, morava em Belo Horizonte. Deixou a mulher e dois filhos. O corpo de Alano Reis Teixeira foi enterrado no Cemitério Bosque da Esperança, na capital mineira.  

De Ipatinga, no interior do Estado, Ninrode Brito Nascimento trabalhava na Vale. O corpo foi enterrado no Cemitério Nossa Senhora da Paz em Ipatinga. "Ninrode Brito era meu primo mas tinha como um irmão de sangue", comentou Roberto Nascimento nas redes sociais. 

Alex Rafael Piedade trabalhava na Vale no momento da tragédia. O corpo foi enterrado no cemitério da Sarzedo, na região metropolitana de Belo Horizonte. "Difícil acreditar que você se foi. De você só guardarei boas recordações. Me sinto honrado em ter tido você presente em minha vida. Um homem honesto, caridoso, um grande pai, um grande marido, um grande amigo e principalmente um homem temente a Deus", publicou um amigo nas redes sociais. 

Wanderson Soares Mota trabalhava como operador de máquinas. Era natural de Filadélfia, município no norte do Tocantins. Deixa mãe, pai e irmãos. 

Djener Paulo Las-Casas Melo trabalhava na Vale e estava noivo. "Nossa família está devastada", publicou uma prima nas redes sociais. 

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Flaviano Fialho era funcionário da Vale. Deixou a mulher e dois filhos

Renato Rodrigues Maia era funcionário da Vale

Robson Máximo Gonçalves

Willian Jorge Felizardo Alves era funcionário terceirizado

Cristiano Vinicius Oliveira de Almeida era funcionário da Vale

Edgar Carvalho Santos era funcionário da Vale

Janice Helena do Nascimento era funcionária da Vale

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Anailde Souza Pereira era técnico em eletroeletrônica na Vale. 

Marcio Paulo Barbosa Penha Mascarenhas tinha 73 anos. Era o dono da Pousada Nova Estância, que foi soterrada pela lama. Foi o fundador da rede de cursos de inglês Number One. 

Marcio Coelho Barbosa Mascarenhas é filho do dono da Pousada Nova Estância, soterrada pela lama. Estava na pousada no momento do acidente. O pai dele e a mãe, Cleosane Coelho Mascarenhas, também morreram. 

Luiz Taliberti Ribeiro da Silva era arquiteto. Estava hospedado com a noiva e familiares na Pousada Nova Estância, que foi coberta pela lama da barragem. A noiva, Fernanda Damian, continua desaparecida.  

- Camila Santos de Faria - Ednilson dos Santos Cruz - Luiz de Oliveira Silva - Thiago Mateus Costa - Reinaldo Fernandes Guimarães - Wiryrlan Vinicius Andrade de Souza - João Paulo de Almeida Borges - Eudes José de Paula - Ricardo Eduardo da Silva - Wellington Alvarenga Benigno - André Luiz Almeida Santos - Sirlei de Brito Ribeiro - Renildo Aparecido do Nascimento - Rosilene Ozorio Pizzani Mattar - Marcus Tadeu Ventura do Carmo- Wanderson de Oliveira Valeriano- Edymayra Samara Rodrigues Coelho - Amauri Geraldo da Cruz - Andrea Ferreira Lima - Angelo Gabriel da Silva Lemos - Marcio Flavio da Silveira Filho - Renato Vieira Caldeira - Warley Lopes Moreira - Adriano Ribeiro da Silva - Anderson Luiz da Silva - Camila Aparecida da Fonseca Silva - Camila Taliberti Ribeiro da Silva - Carlos Eduardo Faria - Claudio Pereira Silva - Diego Antonio de Oliveira - Edirley Antônio Campos - Gustavo Sousa Junior - Jonis André Nunes - Jorge Luiz Ferreira - Luiz Cordeiro Pereira - Noé Sanção Rodrigues - Wesley Antonio das Chagas

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