Quer comida árabe? Vá ao Paraíso

Com oito restaurantes - o último inaugurado anteontem -, bairro vira referência dentro e fora da colônia

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Por Valéria França
Atualização:

Toda vez que o paulistano pensa em comida japonesa, ele lembra da Liberdade, bairro oriental da cidade. E quando o assunto é culinária árabe... Bem, nesse caso, pode vir à mente o Brás, na região central, e os arredores da Rua 25 de Março, também no centro, que ainda tem uma comunidade árabe representativa. Mas esses dois pontos estão perdendo o posto para o Paraíso, na zona sul, que abriga oito endereços típicos. O mais novo de todos é o Jacob, tradicional casa da 25 de Março, que anteontem inaugurou oficialmente sua segunda casa no bairro, na esquina das Ruas Domingos de Moraes e Eça de Queirós. E, na disputa pelo cliente, restaurantes da região investem em reformas. Lanchonete sem muitas frescuras, o Jacob está a poucos metros de dois fortes concorrentes: a confeitaria Catedral e o restaurante Jaber, estabelecidos ali há 50 anos e endereços preferidos dos estudantes de três colégios que ficam nos arredores. Do forno da Catedral saem diariamente cerca de 3 mil esfihas. O Jaber vende por dia cerca de 2 mil salgados no balcão. Isso sem contar as encomendas para festas e os pratos que saem do restaurante. "Quanto mais restaurante árabe na região, melhor", diz José Mauad, de 64 anos, proprietário da nova filial do Jacob. Filho de Jacob Mauad, que começou o negócio há 53 anos, ele chega no pedaço sem medo da concorrência. "Há lugar para todo mundo. Não podia deixar de abrir uma casa aqui. O Paraíso virou referência em comida árabe. O bairro é de classe média alta e cheio de patrícios que adoram nossa comida." FILAS O primeiro Jacob aberto no Paraíso vende comida por quilo e fica na Rua Rafael de Barros. Mas nem ali a casa reina sozinha. Do outro lado da rua, há o tradicional Halim, muito freqüentado por integrantes da colônia árabe, que aparecem em peso, principalmente nos fins de semana. Não é raro ver na fila - sim, aos domingos tem fila grande - muçulmanas de véu preto. O Halim começou no Brás, com o nome de Oriente. "Viemos para o Paraíso por insistência dos clientes, que trabalhavam no Brás e moravam aqui", diz Leila Sultan, que toca o negócio com o marido, Halim, de 74 anos. "Eles diziam que precisavam ter um restaurante tão bom como o nosso perto da casa deles. E acabamos achando a idéia boa. Aqui, no Paraíso, temos uma clientela mais selecionada." Halim Sultan veio do Líbano de avião, em 1964. Em seguida, a mulher, então com 15 anos, embarcou num navio para o Brasil, já com o primeiro filho casal no colo - Issan, na época um bebê de 6 meses. Halim tinha uma padaria de sucesso no Líbano. "Mas um primo meu disse que havia aberto um restaurante no Brasil, uma terra em que a comida árabe era pouco conhecida, e convidou meu marido para ser sócio", conta Leila, filha de uma família de classe média criada com todos os mimos. Quando saiu do Líbano, ela conta que não sabia nem fazer uma mamadeira. "Chegando a Curitiba, vimos que o restaurante era um boteco. E os alemães não gostavam muito de comida árabe." SAGA Passados alguns meses, o dinheiro foi acabando, e os dois tiveram de procurar outra opção de trabalho. Mudaram para um quarto nos fundos de uma casa. "Trabalhávamos dia e noite fazendo pão. Halim ficava me contando histórias. Quando acabava seu repertório, inventava qualquer história, para que eu não caísse no sono. Meu filho dormia ao nosso lado, numa caixote de madeira." Halim e Leila acabaram vindo para São Paulo. Em 1972, abriram de fato o primeiro negócio, na Rua Miller, no Brás. O prédio tinha três andares. No térreo, funcionava o restaurante; no segundo, a fábrica de salgados; no terceiro, a de doces. Leila comandava os 70 funcionários da casa, enquanto Halim cuidava das vendas. Até hoje é ela quem lida com os garçons, cozinheiras e ajudantes. Minuciosa, experimenta quase todos os pratos que saem da cozinha, para checar se o tempero está na medida certa. Leila é uma senhora elegante, que ainda segue os padrões estéticos da tradicional cultura árabe. Ela está sempre com os cabelos presos para trás e os olhos pintados com delineador preto bem marcado. Alguns clientes só aceitam ser atendidos por ela. ESPECIALIDADES Com tantas opções na região, os restaurantes diferenciam-se por suas especialidades. O Halim é famosos pelo carneiro assado com batatas, cebola, arroz, carne bovina moída e castanha picada (R$ 36). A Tenda do Nilo, na Rua Coronel Oscar Porto, serve o fatte, um prato em camadas que leva na base pão torrado, coberto por carne temperada com grão de bico, coalhada fresca e, por fim, alho e castanha frita salpicados (R$ 32). Na Catedral, a sensação chama-se homisie, uma esfiha em tamanho gigante que mais parece pizza brotinho (R$ 8). O Jaber serve o xisbarac, um capelete de kafta cozido na coalhada com arroz (R$ 17). Com estrutura mais enxuta e simples que a dos concorrentes, o Jacob acena com doces importados do Líbano (R$ 90, a lata de um quilo). De salgado, a dica é o sanduíche de falafel (R$ 8), que é um bolinho de grão de bico frito, enrolado no pão sírio. Para acompanhar o sanduíche, vale pedir o tahine, um molho à base de gergelim que faz a diferença. Sai pelo mesmo preço.

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