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''Quero voltar a fazer coisas. Esperar que me esqueçam''

Entrevista - Carla Cepollina: advogada; Carla Cepollina diz que seu nome e da família foram ?à lama?; para DHPP, ela ainda é a única suspeita de matar coronel

Por Marici Capitelli
Atualização:

Para o delegado Marcos Carneiro Lima, diretor da Divisão de Homicídios da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), não há outro suspeito para a morte do coronel Ubiratan Guimarães, em setembro de 2006, que não a advogada Carla Cepollina. Anteontem, o juiz Alberto Anderson Filho, titular do 1º Tribunal do Júri de São Paulo, determinou que ela não vai a júri popular. Tecnicamente, foi impronunciada. Na sentença, o magistrado diz que "os indícios contra ela não eram suficientes" e que "canalizaram a investigação apenas em cima dela". "Em momento algum questionou-se acerca da possibilidade de o autor do disparo ser uma terceira pessoa." "Se existe um autor do crime, esse autor continua sendo a senhora Carla. Há vários indícios e toda a prova leva a ela", afirma Lima. Para ele, a falta de testemunha presencial não é um dado fundamental. "Se fosse assim, todos os casos de homicídios sem testemunha ficariam impunes." Ele ressaltou que a investigação passou pelo crivo do MP, que ofereceu denúncia e não encontrou nenhum problema no inquérito. Uma das advogadas de defesa de Carla, Ana Lúcia Penon afirmou que o Ministério Público poderá entrar com um recurso para reverter a decisão do juiz. Nesse caso, a defesa se manifestará novamente. "Ficou clara a fragilidade de provas contra ela. A Carla foi eleita como suspeita por ser a namorada do coronel." No primeiro dia sem pendências judiciais, justamente quando se completaram 16 anos do massacre do Carandiru, que deixou 111 mortos e marcou a carreira de Ubiratan, Cepollina foi a uma igreja perto de sua casa, na zona sul, e passou o dia atendendo telefonemas com cumprimentos. Amanhã, ela completa 42 anos. Qual o seu sentimento, hoje? Esses dois últimos anos foram muito difíceis, mas tinha a certeza de que a justiça seria feita. Não fui eu quem cometi o crime e sempre acreditei que teria justiça. Acredito no sistema legal. Apesar de tudo o que passei, consegui me manter serena. Você não me viu nas entrevistas com outra postura que não fosse a serenidade. (...) Só o que lamento é que a pessoa que praticou o crime está livre e impune. Sou católica e rezo todos os dias. Também tenho simpatia pelo budismo. Durante muitos anos estudei as religiões, viajei o mundo conhecendo templos, embora a minha religião seja a católica. É por isso que a minha postura é zen, de não ter raiva. (...) Também tive o apoio da minha família, dos meus amigos e das minhas advogadas, que foram maravilhosas. Mas a serenidade é também uma característica de personalidade. Em nenhum momento tive qualquer atitude destemperada, mesmo quando todos apontavam os dedos para mim e me tratavam como facínora. O que você fez nesses dois anos? Minha vida foi arrasada pessoal e profissionalmente. Jogaram o meu nome e o da minha família na lama. Muitas vezes acontecem coisas na vida que você não entende e talvez nunca venha a entender. No meio do caos, a única coisa a fazer é ficar quieta e esperar que tudo passe. Foi o que fiz. O que pretende fazer agora? Nos próximos dois dias quero estar disponível à imprensa para conversar. Depois quero retomar a minha vida. Pretende processar alguém? Não sei. Primeiro quero retomar as coisas, voltar a fazer coisas. Esperar que as pessoas me esqueçam. No próximo sábado é meu aniversário. Como vai comemorar? Não vai ter comemoração. Só vou sair com alguns amigos para jantar. É o melhor aniversário da sua vida? Já tive outros melhores. Comemoração é quando você ganha na Mega Sena, está com um gato, está magra e sem celulite. Eu não estou comemorando nada de bom, estou encerrando um ciclo que foi muito ruim. Acredita que esse ciclo acabou? Espero que sim. Já passei muita coisa de ruim nesses dois anos. No ano passado, meu pai morreu. Foi mais um golpe muito duro na minha vida. Mas não quero ser vista como uma pessoa de quem se deva ter pena. Nada disso. Sou uma mulher que vai à luta e tem fé. Você conseguiu superar a morte do seu namorado? Não, de maneira nenhuma. Mas nem quero falar sobre isso... A gente não supera essas coisas. A dor é ainda muito intensa e acho que não vai passar nunca. COLABOROU MARCELO GODOY

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