Rabino pede socorro em iídiche e escapa de assalto

Três ladrões invadiram casa de religioso nos Jardins e disseram para[br]ele se livrar de visitantes; ele falou ?helpmer? e a polícia foi chamada

PUBLICIDADE

Por Andressa Zanandrea e Carina Flosi
Atualização:

Um rabino de 67 anos foi rendido na porta de casa na noite de anteontem por três ladrões armados com dois revólveres de verdade e uma pistola de brinquedo, quando retornava da sinagoga. Ele permaneceu refém por meia hora sob a mira dos revólveres e chegou a levar coronhadas na cabeça, enquanto o trio vasculhava sua casa, na Rua Haddock Lobo, nos Jardins, zona sul de São Paulo, em busca de jóias e dinheiro. A.A.I. foi salvo graças a um diálogo, pelo celular, com amigos da comunidade judaica com quem havia marcado um encontro em casa. O rabino pediu socorro em iídiche, dialeto falado pelos judeus da Europa Oriental. Disse: "helpmer". Os amigos entenderam o recado e avisaram a polícia. Um ladrão foi preso e dois fugiram. Ontem, ainda abalada, a filha do rabino contou como foi a ação. "Eles renderam meu pai, amarraram suas mãos com um pano e o deixaram sentado em uma cadeira, com a cabeça baixa. E avisaram com ironia: ?Estamos aqui enviados por um amigo seu, aquele que você sabe muito bem quem é?." Os assaltantes, suspeita o rabino, se referiam a um motorista que trabalhou com a família por sete anos e foi demitido há duas semanas, acusado de furto. O plano dos criminosos parecia perfeito. Eles não contavam que justamente naquele horário a vítima tinha combinado um encontro com três amigos. "Ao ver pelo circuito interno de TV que algumas pessoas estavam na porta de casa, os ladrões desligaram a campainha e não deixaram meu pai atender o telefone", disse a filha. Depois, os bandidos obrigaram o rabino a ligar para o celular de um desses amigos e dizer em português: "Estou com uma visita em casa que está com vergonha de sair. Por isso, é melhor vocês irem embora agora". Na hora de se despedir, a vítima aproveitou e disse: "helpmer", com um forte sotaque para que os ladrões não desconfiassem. Mas os amigos tiveram certeza de que algo estava errado na casa e fingiram que foram embora. Logo em seguida, ligaram para a Polícia Militar, que chegou em três minutos. Dois bandidos conseguiram escapar em um táxi que dava cobertura e estava estacionado na Haddock Lobo. O terceiro, Reinaldo Rodrigues, de 30 anos, que usava terno e gravata, escondeu US$ 200 na cueca e saiu da casa usando, como disfarce, o chapéu do rabino. Na rua, ao ver os PMs nas motos, largou a mala onde havia colocado dinheiro e objetos. além da pistola de brinquedo. Seguiu andando calmamente, no sentido contrário à casa. Acabou preso em flagrante. Dentro da mala, os policiais encontraram um laptop, dois telefones sem fio, um Nextel, um monitor de LCD, oito relógios (dois deles de luxo, um Longines de ouro e um Omega), 20 talões de cheques, R$ 3 mil, 15 euros, 25 pesos argentinos, 3 mil liras e 20 francos. A polícia investigará as imagens gravadas pelas câmeras de segurança da casa e tentará ouvir o motorista demitido.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.