Rebelião na Febem deixa 1 morto e dezenas de feridos

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Por Agencia Estado
Atualização:

O funcionário da Febem Renato Caramujo Feitosa morreu e dezenas de pessoas ficaram feridas hoje durante uma rebelião na unidade 30, em Franco da Rocha, Grande São Paulo. Outro funcionário da Febem, Flávio José Araújo, foi baleado no abdome durante o conflito. Pelo menos 12 internos fugiram, usando carros estacionados diante da unidade. A unidade tem hoje 320 internos, segundo a assessoria da Fundação. Segundo parentes de internos, o motim teria sido motivado por um espancamento de menores pelos funcionários, na quinta-feira. O motim começou às 11h20, quando três homens armados entraram no local durante o período de visitas, para resgatar menores. Eles dominaram os funcionários e mandaram os parentes dos garotos saírem. Alguns funcionários conseguiram escapar e avisar a polícia. Helicópteros A rebelião foi dominada no fim da tarde, quando dois helicópteros Águia da Polícia Militar pousaram no teto da unidade e quatro homens da Tropa de Choque desceram armados de fuzis com balas de borracha. O motim e a ação policial causaram desespero entre os parentes dos menores, que ficaram na rua diante da unidade. O motorista Reginaldo Santos, de 39 anos, pai de um dos internos, disse que o filho, R.S., de 17 anos, não estaria conseguindo nem mesmo andar por causa da surra que teria sofrido na quinta-feira. Batoré A cabeleireira Maria Cícera Silva, de 37 anos, afirmou que também encontrou o filho muito machucado por causa do espancamento. Segundo Maria, o resgate de hoje teria sido "uma armação" dos funcionários porque uma comissão de mães dos internos iria nesta segunda-feira ao Fórum do Brás, na zona leste, para denunciar o que ocorrera em Franco da Rocha. Tânia Aparecida de Souza, irmã de F.P., mais conhecido como "Batoré", afirmou que ele não estava liderando a rebelião como foi divulgado pela polícia. De acordo com Tânia, "Batoré" está desde quinta-feira numa cela, isolado dos demais menores. Ela ressaltou que o irmão teria sido espancado e alertou os parentes para que pedissem ajuda a uma entidade de direitos humanos sobre o que estava ocorrendo na unidade. "Tudo que acontece falam que é ele", denunciou Tânia. Paz Durante o motim, os menores levantavam colchões em que estavam escritas mensagens como "Paz" e ameaças como "Choque entra, morre refém". Os internos também exibiam como armas serrotes, furadeiras e pedaços de ferro. Eles também puseram fogo em colchões e espancaram alguns funcionários. Dois dos agredidos pelos menores fugiram pulando do teto da unidade. Entre a multidão que estava diante da unidade, também havia parentes de funcionários. A mulher de um dos coordenadores da unidade, César Augusto Horta, que não quis se identificar, disse que o marido entrou para trabalhar na quinta e sairia segunda. Horta seria um dos monitores agredidos no motim. Padre Quando alguns monitores souberam da morte do colega, foram ao local onde as mães estavam e começaram e ameaçá-las e agredí-las. O padre Júlio Lancelotti, da Pastoral do Menor, foi uma das pessoas que foram agredidas. Os promotores da Infância e da Juventude que estavam no local tiveram de entrar num carro da polícia para não apanhar. Os jornalistas que estavam com os parentes foram xingados pelos funcionários. Soldados da Polícia Militar, depois de terem arrancado a identificação do peito, também jogavam gás-pimenta nas mães e nos repórteres. Protesto O presidente do Sindicato dos Funcionários da Febem, Antônio Gilberto da Silva, afirmou que, desde julho, os servidores da unidade enviam documentos para a entidade reivindicando a presença de policiais na unidade, sem sucesso. "Nós sempre fomos contra esse tipo de unidade", denunciou. "Franco da Rocha é uma arena de R$ 13 milhões onde o Estado está jogando os funcionários e os adolescentes para se digladiarem." Silva também anunciou que "os trabalhadores não vão entrar mais na unidade enquanto não houver segurança". Ele ressaltou que os funcionários da unidade Tatuapé também serão convocados para aderirem ao movimento iniciado em Franco da Rocha. Dois funcionários feridos no conflito foram atendidos no hospital do Mandaqui, na zona norte da capital. Flavio José Araújo, baleado no intestino, foi submetido a cirurgia e, no início da noite de hoje, o estado de saúde dele era estável. Reginaldo Alves das Neves estava com suspeita de traumatismo craniano e continuava sob observação.

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