Reconstituição do sumiço de Amarildo inclui antiga casa do traficante Nem

Denúncia feita ao Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos em abril deste ano diz que imóvel seria usado por PMs para torturas

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Por Marcelo Gomes
Atualização:

Durante a reconstituição dos últimos momentos que antecederam o sumiço do pedreiro Amarildo Souza, de 43 anos, na Rocinha, os investigadores da Divisão de Homicídios (DH) estiveram em quatro pontos da favela, entre eles na Cachopa, nas proximidades da casa que pertencia ao ex-chefe do tráfico da Rocinha, Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, que está preso.

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O imóvel atualmente é usado como uma das bases da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Foi dali que, em 14 de julho, dia do desaparecimento de Amarildo, partiu a viatura da PM prefixo 54-6014 que horas depois conduziu o pedreiro do Centro de Comando e Controle (CCC), na Rua 2, até a sede da UPP, no Portão Vermelho. Um dos quatro PMs que conduziram Amarildo naquela noite foi levado pelos investigadores da DH à Cachopa, para indicar o local e o horário exatos de partida da viatura até o CCC.

Relatório do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (CEDDH) - ao qual o Estado teve acesso - destaca que, em 24 de abril deste ano, o órgão recebeu denúncias de três moradores da Rocinha dizendo que a antiga casa de Nem era utilizada pelos PMs para "práticas de tortura, como eletrochoques, para conseguir testemunhos de moradores sobre o tráfico de drogas local". Datado de 29 de agosto, o documento é assinado por Pedro Strozenberg, presidente do CEDDH, e Thais Duarte, da comissão de Segurança Pública do órgão, que é subordinado à secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos.

O advogado João Tancredo, que representa a família de Amarildo, encaminhou o relatório ao Ministério Público, cobrando providências. Conforme o Estado noticiou no sábado, pelo menos oito PMs da UPP da Rocinha serão denunciados à Justiça sob acusação de tortura contra moradores.

Durante a reprodução simulada, os policiais da DH também estiveram no bar onde Amarildo foi abordado pelos PMs. O estabelecimento é próximo à casa onde o pedreiro morava. Depois, os policiais civis foram ao Centro de Comando e Controle. Por fim, visitaram a sede da UPP, onde ouviram os depoimentos de 13 PMs que estavam de plantão na noite do sumiço de Amarildo - entre eles, o comandante da UPP, major Edson Santos, que será exonerado do cargo nos próximos dias. O trajeto entre o bar onde Amarildo foi abordado e a sede da UPP foi refeito três vezes pelos investigadores - um PM participou de cada vez. O objetivo era encontrar contradições em depoimentos anteriores dos PMs.

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