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Reforma da Estação da Luz causa polêmica

Por Agencia Estado
Atualização:

Um bem tombado como patrimônio histórico e arquitetônico deve passar por restauro que lhe conserve a fachada, mas transforme seu interior completamente, ou não? A pergunta é parte da polêmica que, desde 2000, divide opiniões de especialistas sobre o destino da centenária Estação da Luz, na região central da cidade. Técnicos dos órgãos de preservação do patrimônio federal e municipal fazem ressalvas ao projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, abraçado pela Secretaria Estadual da Cultura. O Estado teve acesso às imagens do projeto com exclusividade. Nesta segunda-feira, o secretário da Cultura, Marcos Mendonça, assina convênio com a Fundação Roberto Marinho para a obra, sem que o projeto esteja aprovado. Já houve vários encontros, mas não se chegou a um consenso sobre o melhor a fazer. "Com a demora, a deterioração está avançando", alerta o secretário. As obras estão orçadas em R$ 30 milhões. Segundo Mendonça, a fundação já conseguiu cerca de R$ 20 milhões com empresas parceiras. Entre os pontos de maior divergência está justamente o "coração" da proposta de Rocha, que também projetou a requalificação da Pinacoteca, assina com o filho Pedro: a transformação de todo o segundo pavimento da estação, com cerca de 110 metros de extensão, em uma galeria sem fronteiras, em que paredes cegas internas, leves, em chapa metálica, seriam construídas paralelamente às atuais nas laterais, frente e fundo, criando um espaço contínuo de exposição. Língua - "Queremos fazer ali o centro de estudos da língua portuguesa, com o nome Estação Luz da Nossa Língua", explica Mendonça. Há um acordo com a Secretaria Estadual da Educação para instalar o centro. "A galeria seria uma viagem audiovisual pelo tema. Mas deve funcionar ali também um espaço de qualificação e reciclagem de professores, assim como de desenvolvimento do idioma para alunos da rede pública", explica Mendonça. O diretor substituto do Departamento de Patrimônio Histórico da Prefeitura, Walter Pires, diz que os técnicos discutem com os autores do projeto proposta menos agressiva. "Pode haver maior liberdade para mudar na parte que foi atingida por um incêndio nos anos 40 e reconstruída, entre a torre do relógio e a Avenida Tiradentes, ganhando até um andar a mais nesse trecho. Mas a outra parte é original", explica Pires. Segundo ele, é uma estrutura arquitetônica que representa um momento histórico. "A estação é um marco da cidade e precisa ser preservada", argumenta. O Iphan, órgão federal, também aponta as mesmas restrições. Pelo tombamento, a parte externa é intocável. Para Pires, até a proposta de instalação do Centro de Estudos da Língua Portuguesa precisa ser melhor analisada. "Falta um detalhamento que dê a dimensão do público, do tipo de atividade, ver se o prédio comporta. Como é um imóvel ligado à ferrovia, sempre esperei que o uso fosse para a memória ferroviária." Mas ele não fala em impasse. "É mais questão de ajuste." Rocha também quer discutir o assunto. "Gostaríamos de avançar nessa discussão. Não utilizar toda a extensão do edifício me parece um desperdício", diz o arquiteto. Ele argumenta que as exposições pedem paredes cegas e controle da luminosidade. Térreo - De acordo com o arquiteto, o térreo da estação será preservado. "A proposta é que o saguão principal seja restaurado na íntegra. Há dois halls secundários. Num deles, onde já funcionou um restaurante, a intenção é abrir um café. E no outro instalar uma loja para venda de publicações e materiais relativos ao centro de exposições, como qualquer museu tem", diz Pedro. Nas duas extremidades desses saguões funcionam hoje pátios de cargas, usados como estacionamentos. "Pensamos em cobri-los com uma estrutura metálica e de vidro para organizar o acesso aos outros andares do prédio. Seria preciso instalar ali dois elevadores modernos, de 40 pessoas cada." O mesmo tipo de cobertura seria construído sobre a parte do prédio que tem dois andares, criando um espaço para um restaurante. Essa é outra polêmica. "Seria uma interferência com linguagem contemporânea, que deixasse claro onde está o patrimônio tombado, sem tentar imitá-lo. Exatamente o que defendem as regras mais atuais da arquitetura", afirma Pedro. No primeiro andar, funcionariam espaços destinados à produção intelectual do centro de língua portuguesa, espaços para visitantes, estudiosos, gabinetes de trabalho e consulta. No terceiro andar, que só existe entre a torre do relógio e a Tiradentes. Com alguns ajustes na estrutura, pode ser feito um auditório com 270 lugares. Trens - A Estação da Luz, feita pelos ingleses há mais de cem anos, que era da Rede Ferroviária Federal e depois da Companhia Metropolitana de Trens Urbanos (CPTM), já passou para a Secretaria de Estado da Cultura. Mas a parte operacional dos trens e boa parte do restauro, como a gare, cabem à CPTM. Ali, no subsolo, há uma obra enorme que vai integrar as linhas de trem ao metrô. Ontem, a CPTM reabriu a estação depois de obras para sanar o rompimento de uma tubulação de esgoto. Já é possível embarcar e desembarcar para a nova ligação entre Brás, Luz e Barra Funda. As plataformas foram remodeladas e modernizadas.

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