/ BRASÍLIACerto de ainda poder reverter a decisão política do governo brasileiro em favor dos caças Rafale, da francesa Dassault, o rei Carl Gustav, da Suécia, aproveitou todas as oportunidades que teve no Brasil, nos últimos dois dias, para reforçar seu lobby pelos aviões Gripen NG, da Saab.Seu esforço para "chamar a atenção" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a importância da venda de 36 caças suecos à Força Aérea Brasileira (FAB) foi observado no jantar de terça-feira, no Palácio da Alvorada, e na reunião de trabalho e almoço no Itamaraty, ontem. Apesar de já ter sido feita a escolha em benefício da parceria estratégica Brasil-França, Lula calou-se quando abordado por Carl Gustav sobre o processo de compra durante a reunião de trabalho. Passou a palavra ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, que preferiu dizer que o processo está em fase de conclusão e terá de ser submetido ao Conselho de Defesa Nacional. O cuidado se deve ao fato de o lobby do rei sueco não ter se esgotado na visita oficial a Brasília. Vai prosseguir em São José dos Campos (SP), onde percorrerá a fábrica de aviões da Embraer.De acordo com Carl Gustav, Brasil e Suécia têm potencial de desenvolver parcerias em alta tecnologia, especialmente na área aeronáutica. Na reunião com Lula, a delegação sueca havia insistido na complementação entre as duas indústrias, a civil Embraer e a militar Saab.Em seu discurso, Lula evitou tratar do assunto e optou por comemorar o crescimento do comércio bilateral, que saltou de US$ 900 milhões para US$ 2,3 bilhões entre 2003 e 2008, e elogiou a atuação das empresas suecas no Brasil. Em entrevista, disse que espera os estudos definitivos sobre os caças para anunciar sua decisão, após ouvir o Conselho de Defesa, em abril, e todos os setores da sociedade civil."É preciso ter cuidado necessário porque estamos num ano atípico, que é um ano eleitoral, e uma coisa dessa envergadura não pode ficar à mercê de especulação política", disse Lula. "É uma coisa que custa muito dinheiro e que não vai ser paga no meu governo. Por isso, tenho de ter mais cuidado e responsabilidade." / COLABOROU DENISE CHRISPIM MARIN