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Reincidência em presídios em SP é de até 45%

Por Agencia Estado
Atualização:

A reincidência nos presídios de São Paulo está entre os 40% e 45%. A reincidência criminal, entre 58% e 62%. Entre os homens presos, 76% têm entre 18 e 34 anos. Dos filhos das mulheres condenadas, 37% estão sozinhos e, possivelmente, a caminho do crime. As informações sobre o perfil do presidiário - homem e mulher - do sistema carcerário paulista estão no censo penitenciário e na avaliação do levantamento demográfico e atitudinal do detento, divulgados nesta segunda-feira pela Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) do Estado de São Paulo. Em 6 anos, população carcerária quase triplicou A conclusão do estudo, que durou nove meses, é um retrato real do que ocorre com a população carcerária e deverá obrigar as autoridades penitenciárias a mudar a maneira de tratar o presidiário. O governo do Estado gasta R$ 55 milhões por mês para manter os presos nos 107 presídios do Estado. Em seis anos, a população carcerária subiu de 33.382 para 81.472. As equipes de pesquisadores da Fundação Manoel Pedro Pimentel (Funap) estiveram nos presídios ouvindo as queixas, aspirações e os planos dos presos. Para o secretário Nagashi Furukawa, com o censo, muita coisa vai ter de mudar nos presídios. Furukawa informou que 12 mil detentos chegam por ano aos presídios. Informou que, entre 1996 e 2002 (até outubro), ocorreram em São Paulo 79.674 assassinatos, 1,2 milhão de roubos e 586.947 furtos e roubos de carros. Nos presídios, em 1996, ocorreram 42 assassinatos; em 2000, 48 homicídios; em 2001, foram também 48; em 2002, (até outubro), 61 assassinatos nos presídios. Maioria pode ser recuperada Para a coordenadora do censo e do estudo, Berenice Maria Giannella, as informações com o censo e o perfil do preso deverão causar uma revolução no seu tratamento. Foram entrevistados 58 mil dos 82 mil condenados do Estado. Os pesquisadores chegaram à conclusão de que 94% dos condenados têm condições de serem recuperados. Nas entrevistas, que duraram em média duas horas, puderam perceber o que está certo e o que está errado com o preso. Vânia Bataglini, da equipe de coordenação, disse que os pesquisadores constataram que 76% dos homens e 75% das mulheres que cumprem condenação nos presídios têm entre 18 e 34 anos. Dos homens, 46% são brancos, e 54%, não brancos. Das mulheres presas, 47% são brancas, e 53%, não brancas. Sobre a escolaridade, 6% dos homens e 7% das mulheres são analfabetos ou não freqüentaram a escola; 75% dos homens e 65% das mulheres não têm o ensino fundamental completo. Situação da mulher é pior A maioria dos presos demonstrou o desejo de voltar para a família, acredita na possibilidade de recuperação e lamenta o tempo perdido. Muitos acreditam na educação como meio para a recuperação e ascensão social. A pesquisa mostrou que o confinamento da mulher provoca um abalo maior na família. Dos filhos das condenadas, 37% ficam sozinhos. As detentas disseram que são abandonadas pelos parentes. "Os homens, em sua grande maioria, recebem visitas. No caso da mulher, assim que ela entra na cadeia, a família desaparece. Ela se vê abandonada, entra em estado de depressão, não estuda e não vê perspectiva de vida", diz Vânia. Presos querem trabalhar Os presos que não recebem visitas são chamados pelos demais de "desterrados". Os problemas com esse tipo de detento são "sérios", e será preciso um acompanhamento diferenciado no dia-a-dia. Os detentos querem trabalhar. Disseram que, trabalhando, poderiam "resgatar o mínimo de dignidade e escapar do inferno da mente", deixando de pensar em vingança e ocupando o seu tempo. Vânia afirmou que o trabalho nas prisões é falho, mal pago, sem estrutura e acaba provocando revolta. "Os detentos querem trabalhar, aprender, estudar para sobreviver, melhorar a vida." A instalação de programas educacionais é uma das aspirações dos presos. Os pesquisadores encontraram detentos formados, com orientação, que poderiam ser aproveitados nos programas.

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